As políticas de Estados Unidos e Israel para o Oriente Médio estão em dissonância. Enquanto o presidente norte-americano, Barack Obama, acredita que a solução para a tensão na região está na criação de um Estado palestino que conviva em paz com Israel, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aponta que o passo mais importante atualmente é acabar com o Irã e sua suposta ameaça nuclear.
Estas discordâncias serão colocadas na mesa de discussão hoje (18), quando Netanyahu visitar pela primeira vez o Gabinete Oval da Casa Branca com Obama como presidente, o homem a quem a extrema direita nacionalista israelense acusa de querer destruir o estado de Israel, após este incentivar um diálogo com o Irã, propondo em vídeo “um novo começo”, ao que Teerã respondeu libertando uma jornalista norte-americana acusada de espionagem.
Acompanhando Obama estará Rahm Emanuel, chefe de gabinete da administração, que antes de ser deputado federal norte-americano, foi soldado das Forças de Defesa de Israel.
Argumento frágil
Nas últimas semanas, os diplomatas norte-americanos avisaram os seus colegas em Jerusalém que chegou o tempo de aceitar a criação de um Estado palestino que conviva em paz com Israel.
Netanyahu, antes de viajar aos Estados Unidos, deixou que seu ministro da Defesa, o ex primeiro-ministro Ehud Barak, revelasse aos jornalistas que partia do país com a vontade de aceitar a ideia. “Penso que ele vai dizer a Obama que este governo está preparado para um processo político que leve dois povos a viver em paz e respeito mútuo”, afirmou Barak.
No entanto, o ministro da Defesa acha que um processo pode demorar ainda três anos. O tempo seria devido à desconfiança que ainda existe entre israelenses e palestinos e Netanyahu não acredita que os dirigentes palestinos estejam preparados para governarem a si próprios.
Segundo apurou Opera Mundi, a diplomacia norte-americana considera esse argumento muito frágil. “Ele que não pense em apresentar as coisas assim tão cruas para o presidente”, comentou um diplomata.
A razão é simples: Obama estaria tão convencido de que a única forma de estabilizar o Oriente Médio é por meio da criação de um duplo estado na região, que é virtualmente irrealista que aceite outra proposta, disseram as fontes.
Novas atitudes
O primeiro indício das divergências surgiram logo após a posse de Obama, em janeiro, quando o presidente ordenou a alteração do conteúdo de um programa de ajuda humanitária à região, de modo a favorecer ainda mais os palestinos afetados pela guerra, incluindo aqueles que residem na Faixa de Gaza, controlada pelo grupo Hamas.
Em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, Israel lançou um ataque contra o Hamas na Faixa de Gaza, que acabou vitimando mais de 1,4 mil palestinos. Mas os bombardeios cessaram de repente, um dia antes de o presidente assumir.
A partir desse momento, tudo o que Obama promoveu como política para o Oriente Médio não agradou os israelenses. O presidente deixou de lado a retórica anti-árabe herdada da administração anterior, nomeou dois enviados especiais para a região, não se importou que seus diplomatas cumprimentassem os iranianos em público, gravou uma mensagem de televisão cumprimentando o povo iraniano e foi à Turquia pronunciar o seu primeiro discurso de abertura ao mundo muçulmano.
O segundo discurso deverá ocorrer no fim do mês no Egito, onde se espera que Obama anuncie publicamente seu apoio à criação de um Estado para os palestinos.
Proposta
Mas ainda há um longo trecho a ser percorrido. Em primeiro lugar, pois para Netanyahu é difícil assimilar a criação de um Estado palestino, algo que ele combateu ao longo de toda a sua carreira política. Segundo, porque os israelenses estão convencidos de que o Irã representa uma ameaça.
Há três semanas um jatinho executivo do governo norte-americano aterrissou no aeroporto de Tel Aviv e dele desembarcou discretamente o diretor da CIA Leon Panetta, com a missão de advertir Netanyahu de que não atacasse o Irã sem primeiro avisar Washington. Os israelenses aceitaram o aviso, mas mesmo assim, para garantir que a mensagem tinha sido entendida, Obama introduziu na jogada dois de seus colaboradores que melhor percebem Israel: Rahm Emanuel e seu assessor de Segurança Nacional, o general James L. Jones.
Jones, segundo versões da imprensa norte-americana, fez chegar aos israelenses o recado que, caso a administração israelense reafirme que o Irã é uma ameaça, a primeira coisa que devem fazer é começar a dialogar com os palestinos e deixar que Washington se encarregue de Teerã. Mas, segundo o The New York Times, que cita um alto funcionário de Israel, Netanyahu não está muito inclinado a aceitar isso.
“[Em Washington] eles querem se antecipar aos acontecimentos cedo demais, e nós tememos que não saibam reagir quando já seja tarde”, afirmou o funcionário.
Apesar das divergências, os interesses de Israel não foram esquecidos pelos Estados Unidos. O enviado especial para o Médio Oriente, o senador George J. Mitchell, já fez três viagens à região desde janeiro, durante as quais conseguiu o início do reconhecimento do estado de Israel por parte de países árabes como, por exemplo, a Arábia Saudita, promovendo o intercâmbio de diplomatas e a abertura de voos de linhas aéreas árabes para Tel Aviv e Jerusalém. Uma estratégia parecida à usada pelo diplomata norte-americano Henry Kissinger durante a abertura da China.
“Bibi”
Poucos primeiros-ministros de Israel conhecem os corredores do poder em Washington como “Bibi” Netanyahu. Durante 10 anos foi embaixador nas Nações Unidas e primeiro secretário na embaixada em Washington. Fez estudos secundários, universitários e mestrados nos Estados Unidos, incluindo no conhecido Massachussetts Institute of Technology.
Em 1996, a primeira vez que assumiu o cargo de primeiro-ministro, Netanyahu conseguiu acabar com a paciência do então presidente Bill Clinton (1993-2001), ao sentar-se com ele em Camp David e, com naturalidade, fazer uma defesa feroz da necessidade da violência no relacionamento com os estados árabes. Dizem os funcionários de Clinton que, quando a reunião acabou, o presidente insultou “Bibi”. Pelas costas.
Mas desta vez tudo indica que as coisas serão diferentes. Netanyahu já sabe o que tem pela frente: um presidente norte-americano com um plano claro sobre o futuro do Médio Oriente que, além disso, conta com o apoio do rei da Jordânia, Abdullah, um dos primeiros chefes de Estado que teve a oportunidade de tomar café-da-manhã com Obama, dois dias depois que o presidente chegou à Casa Branca. Um hábito que, até agora, estava reservado a Tel Aviv.
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