É cada vez mais grave a situação das comunidades indígenas colombianas situadas no fogo cruzado do conflito que já leva 50 anos entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo nacional, que desde 2002 tem intensificado a presença militar em territórios indígenas nas zonas rurais do país, onde a guerra acontece.
No começo de 2008, tropas do Exército chegaram aos territórios ocupados pelos índios awá, no departamento de Nariño, na fronteira com o Equador, para tentar controlar a ação de grupos guerrilheiros das Farc e do ELN (Exército de Liberação Nacional). A área é estratégica do ponto de vista militar, devido à entrada de armas e saída de droga pelo Oceano Pacífico e à existência de plantações de coca, disputadas por grupos paramilitares e pela guerrilha, além de outros interesses econômicos e de infra-estrutura.
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As autoridades indígenas afirmam ter alertado o governo para a intensificação dos enfrentamentos na região e a vulnerabilidade dos civis, mas, segundo elas, não obtiveram resposta. O desfecho anunciado aconteceu este ano: pelo menos 27 awá foram assassinados entre os dias 4 e 12 de fevereiro, supostamente pelas Farc, em represália ao contato deles com as forças de segurança.
As suspeitas, desde o princípio, recaíram sobre a guerrilha. Segundo Luis Fernando Arias, secretário general da Onic (Organização Nacional dos Indígenas da Colômbia), “dias antes do primeiro massacre, no dia 4 de fevereiro, os militares entraram nas casas dos indígenas em busca de informações sobre a guerrilha e acusando muitos de serem guerrilheiros”. Depois, ele conta, “soldados com o distintivo das Farc foram vistos levando 20 pessoas, que foram assassinadas”, declarou Arias ao Opera Mundi.
Entre os 20, 17 já tiveram morte registrada e três continuam desaparecidos. Dez outras mortes foram reportadas em 12 de fevereiro, gerando novas acusações à guerrilha.
Princípios morais
As Farc assumiram a autoria parcial dos crimes na última terça-feira (17), através de nota publicada no site da Anncol (Agência de Notícias Nova Colômbia). Nela, o grupo confirma a execução de oito pessoas “que realizavam explorações, localizavam a guerrilha e em seguida iam às patrulhas do Exército para nos golpear”.
Tanto na mídia colombiana quanto entre analistas e órgãos oficiais, existe uma forte percepção de que a guerrilha contraria seus princípios morais com esses crimes, além de críticas à política militarista do presidente Alvaro Uribe.
Campo minado
Como resposta aos ataques, o Exército reforçou a presença na região e mandou tropas buscarem os corpos. Até o momento, apenas um cadáver foi encontrado. A região é de difícil acesso, por ser uma selva montanhosa e, além disso, cheia de minas terrestres. O governo anunciou o envio de 28 novas tropas (cerca de mil homens) a Nariño. As autoridades indígenas convocaram uma mingua (missão) humanitária, que reunirá diferentes grupos civis para entrar na região.
Pertencentes à selva
A comunidade dos awá se localiza na fronteira entre Colômbia e Equador. Sua língua é o awapit. Eles são possivelmente os últimos descendentes dos primeiros moradores que ali chegaram. Apesar de seu lema ser “os awá são da selva e a ela pertencem”, tem se registrado um grande êxodo depois dos massacres.
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