Dezenas de organizações sociais, sindicatos e movimentos indígenas peruanos se uniram na iniciativa de convocar para esta quinta-feira (15/12) uma “Jornada Nacional de Luta”, nome do evento que deve consistir em uma série de protestos em várias regiões do país, contra a crise política instalada desde a destituição do ex-presidente Pedro Castillo e sua substituição no cargo por Dina Boluarte.
As entidades envolvidas afirmam que não obedecerão ao estado de emergência de 30 dias decretado pelo governo em todo o país – nos primeiros dias de protestos, a medida foi aplicada somente em algumas regiões das zonas Centro e Sul, onde houve maior repressão policial contra os manifestantes, mas nesta quarta-feira (14/12), a presidente Boluarte a estendeu para todo o território nacional.
Entre as demandas exigidas pelas organizações neste ato a dissolução do Congresso, a realização de novas eleições presidenciais e a criação de um processo para realizar uma assembleia constituinte, que substitua a atual carta magna do país, imposta em 1993 pelo então ditador Alberto Fujimori.
No caso das novas eleições, o governo de Boluarte chegou a apresentar um projeto para adiantar as eleições, em resposta aos primeiros protestos no último fim de semana. Porém, sua oferta é a de marcar esse pleito em abril de 2024, enquanto as organizações defendem que ele seja realizado para o começo de 2023. Atualmente, as próximas eleições presidenciais no Peru estão programadas para 2026.
Outro ponto de conflito é que alguns movimentos mais fieis ao ex-presidente Castillo também defenderão sua restituição como presidente, para que ele seja o responsável por executar essas demandas. Essa exigência não tem apoio transversal das entidades, mas a maior parte delas está sim a favor de que Boluarte seja deposta do cargo de presidente, pois a consideram uma presidente ilegítima.
Este 15 de diciembre, a nivel nacional, la clase trabajadora toma las calles por el cierre del Congreso, elecciones generales y nueva Constitución. En Lima, nos vemos a las 4 de la tarde, en la Plaza Dos de Mayo.
¡Todo el poder para el pueblo!
¡Abajo el Congreso ilegítimo! pic.twitter.com/xOdge9v9JT— CGTP PERU (@cgt_peru) December 10, 2022
Wilson Chilo / Wayka
Manifestantes em marcha devido à situação de crise política no Peru
As organizações esperam que os eventos se multipliquem em mais de 30 cidades do Peru, incluindo atos massivos nas principais cidades, como Lima, Arequipa, Cusco, Tacna e Cajamarca.
Em paralelo, um grupo de estudantes realizou na noite desta quarta-feira (14/12) uma ocupação no edifício central da Universidade Maior de San Marcos, em Lima.
Os jovens dizem que sua iniciativa está ligada à jornada de protestos no país e não somente defendem as mesmas demandas das organizações que marcharão nesta quinta como também pedem que a presidenta Dina Boluarte seja julgada por violações aos direitos humanos, devido às mortes e detenções arbitrárias ocorridas durante os protestos dos dias anteriores.
O estado de emergência no Peru foi justificado pelo governo devido à “violência dos protestos”, porém, segundo a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do país, houve oito mortes durante os protestos realizados desde o último sábado (10/12), e todos os casos trazem indícios de que elas foram produzidas por ação da polícia.