O diretor do Instituto Emílio Ribas, o infectologista David Uip, afirmou hoje (8) que a confirmação de novos casos de gripe A (H1N1) no estado de São Paulo é uma questão de tempo. Segundo Uip, em entrevista à Folha Online, não se pode afirmar que existe circulação do vírus no estado, mas ele não descarta que isso possa vir a acontecer em breve.
Ontem, o Ministério da Saúde confirmou quatro casos da gripe no Brasil. Os pacientes – dois em São Paulo, um no Rio de Janeiro e um em Minas Gerais – são adultos que tinham voltado recentemente do México e dos Estados Unidos.
Em comunicado à imprensa logo após o anúncio, o ministro da saúde José Gomes Temporão procurou acalmar a população, dizendo que “o governo tem a situação sob controle”, e lembrou que todos os casos são “importados” e que “o vírus não circula no país”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou. Em entrevista coletiva hoje com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, Lula disse que a “situação é tranquila” e que o Brasil continuará cumprindo as determinações da OMS (Organização Mundial da Saúde). “Vamos continuar com a vigilância que deu certo nos aeroportos brasileiros”.
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Na opinião do médico infectologista do Hospital das Clínicas da Unicamp, Francisco Aoki, as medidas tomadas pelo governo até agora são corretas. “Estão tomando o procedimento correto. O governo não está brincando em serviço. Desde 2005 existe esse plano de contingência que envolve o Ministério da Saúde e as secretarias dos estados e municípios, e ele está funcionando.” O médico disse acreditar que os quatro casos estão devidamente bloqueados, evitando riscos de disseminação.
Sobre a possibilidade de uma segunda onda de gripe, com a chegada do inverno ao país, Aoki esclarece que oscilações são normais. “Em 1918 teve a gripe espanhola, depois a gripe de Hong Kong, depois a aviária, e vez ou outra uma gripe nova surge por causa da extrema mutação viral. Isso acontece mesmo. Nos dias frios, onde há maior confinamento de indivíduos, aumenta a chance de gripe”. Para se proteger, segundo o médico, basta seguir as orientações das secretarias e do Ministério da Saúde. Leia as informações aqui.
Casos brasileiros
Dos pacientes, o único que permanece internado é um jovem de 21 anos no Rio de Janeiro, que retornou do balneário de Cancun, no México, no último final de semana e está no Hospital Clementino Fraga Filho, na ilha do Fundão.
Dois casos foram registrados em São Paulo, e ambos estão curados, segundo a secretaria de Saúde do estado. Os ex-pacientes são um rapaz de 24 anos que viajou para a Cidade do México entre 17 e 22 de abril, e um homem de 48 que esteve em Miami e Orlando e voltou ao Brasil no dia 28 de abril. O paciente de Belo Horizonte também esteve no México e voltou ao país em 27 de abril, já com os sintomas da doença.
Os Brasil tem 15 casos suspeitos. O total de pacientes nos quais foi descartada a presença do vírus subiu para 110. Em nota oficial, a Secretaria da Saúde de São Paulo disse manter oito pacientes sob suspeita e outros sete em monitoramento, à espera de novos resultados dos exames.
Novas unidades
O CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) disponibilizou cerca de 150 leitos de isolamento para casos suspeitos, distribuídos nos Hospitais das Clínicas de São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas e no Instituto Emílio Ribas.
Oito unidades irão funcionar como referência para o atendimento de suspeitas da gripe A (H1N1) no estado de São Paulo, três delas na capital, no Hospital das Clínicas de São Paulo, no Instituto Emílio Ribas e no Hospital São Paulo.
Os exames virológicos estão sendo realizados no Instituto Adolfo Lutz, órgão da Secretaria que atende às normas de segurança necessárias para a manipulação de vírus.
“Só os laboratórios de referência podem fazer o exame, ligados ao programa nacional de contingência e enfrentamento”, explica Francisco Aoki. Até agora, os resultados demoraram a sair porque eram necessários reagentes próprios nos exames, que tiveram de ser importados.
Oportunidade
Junto com a chegada da gripe ao Brasil, surgem aqueles que vislumbram formas de ganhar algum dinheiro com a situação, conforme constatou Opera Mundi. No Rio de Janeiro, na entrada da estação de metrô Siqueira Campos, na zona sul, uma mulher gritava “gripe suína, máscaras, deu no jornal”.
Fátima Junqueira Ribeiro (abaixo) faz divulgação há quatro anos para uma rede de farmácias e costuma distribuir folhetos em Copacabana. “Pensei que este negócio da gripe podia ser um bom argumento de propaganda. Já tem um caso no Rio de Janeiro, eles dizem que passa bem, mas melhor se proteger”, explica. “Se quiser máscaras, tem que ligar nesse número. Ainda não tem, mas acho que chegam na segunda-feira”.
*(Com reportagem e foto de Lamia Oualalou)
Reportagem atualizada às 14h00
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