Após o Parlamento do Canadá prestar homenagem a um ex-soldado nazista, com a presença do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no evento, a Organização das Nações Unidas rechaçou, nesta segunda-feira (25/09), este e qualquer outro ato de “homenagem a pessoas que participaram ativamente de atividades nazistas durante a Segunda Guerra Mundial”.
A declaração partiu do porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, que também afirmou que a Câmara em Ottawa “pediu desculpas por convidar este indivíduo”.
No caso, o indivíduo mencionado é Yaroslav Hunka, de 98 anos, que na última sexta-feira (22/09), recebeu aplausos na Câmara canadense pela sua atuação na Primeira Divisão Ucraniana, também conhecida como Divisão Galícia. Na verdade essas tropas atuavam em conjunto com a SS, Exército paramilitar do Partido Nazista de Adolf Hitler (1889–1945).
Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a divisão foi incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS e foi organizada exclusivamente para combater soviéticos.
Composta por voluntários, muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados úteis para tentar conquistar autonomia ante Moscou. Essa divisão foi acusada de praticar diversos crimes de guerra.
Repercussão canadense após aceno a nazismo
Por meio de um comunicado neste domingo (24/09), o presidente da Câmara do Canadá, Anthony Rota, emitiu um pedido de desculpas, dizendo ser o único responsável pela homenagem e que, sob a luz das novas informações, se arrepende de suas ações.
Imprensa, ativistas e líderes mundiais também solicitaram um pedido de desculpas formal do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que estava presente na sessão e também aplaudiu o soldado nazista, ao lado do presidente ucraniano Zelensky, que estava no território canadense em busca de apoio em meio à guerra contra Rússia.
Em sua defesa, Trudeau afirmou nem ele, nem a delegação de Zelensky tinham conhecimento prévio do convite e dos planos do Parlamento de homenagear o ex-comandante nazista.
O político, no entanto, afirmou que a decisão de homenagear Hunka foi inteiramente de Rota, e que o pedido de desculpas do legislador foi “a coisa certa a se fazer”.
Twitter/Witold Dzielski
Ex-soldado ovacionado atuava em conjunto com a SS, exército paramilitar do Partido Nazista de Adolf Hitler
Por sua vez, Pierre Poilievre, líder da oposição canadense, exigiu um pedido de desculpas pessoal de Trudeau, afirmando que o serviço de protocolo do chefe do governo foi responsável pela seleção de convidados para a reunião que ocorreu o ato.
“Trudeau deve pedir pessoalmente desculpas e não culpar os outros como ele costuma fazer”, escreveu Poilievre por meio das redes sociais.
A organização de direitos humanos canadense Friends of Simon Wiesenthal Center, dedicada a programas de educação do Holocausto e contra o antissemitismo, disse que foi “incrivelmente perturbador ver o Parlamento do Canadá se levantar e aplaudir um indivíduo que foi membro de uma unidade na Waffen SS – um ramo militar nazista responsável pelo assassinato de judeus e pessoas de outras nacionalidades e que foi declarada uma organização criminosa durante os Julgamentos de Nuremberg”.
A organização acrescentou que “não deve haver confusão” e dúvidas de que a unidade onde Hunka serviu foi responsável por matar civis “com um nível de brutalidade e rancor inimagináveis”.
Cobranças de respostas internacionais
De acordo com a agência de notícias russa Tass, a Embaixada da Rússia em Ottawa “enviou uma nota ao Ministério das Relações Exteriores do Canadá e ao gabinete do primeiro-ministro do país, Justin Trudeau”, em relação à homenagem ao ex-soldado nazista.
“A SS é reconhecida como uma organização criminosa pelas decisões do Tribunal de Nuremberg, que fazem parte integrante do direito internacional. Ao homenagear um membro desta comunidade criminosa, o gabinete canadense e os membros do Parlamento violaram não apenas normas morais, mas também legais”, afirmou o embaixador russo no Canadá, Oleg Stepanov, à Tass.
Apesar da solicitação de explicação, Stepanov também afirmou que “não espera receber uma resposta, pois o atual gabinete de Trudeau é essencialmente a personificação do neoliberalismo fascista”.
O rechaço também partiu do embaixador polonês no Canadá, Witold Dzielski, que afirmou por meio das redes sociais, que “a Polônia, a melhor aliada que a Ucrânia tem, nunca concordará em coibir tais vilões [em referência a Hunka]”.
“Como embaixada polonesa no Canadá, espero um pedido de desculpas”, finalizou Dzielski.
(*) Com Sputniknews