Como ocorreu na Argentina, as eleições primárias deste domingo (28) no Uruguai representaram um revés para o partido do governo, a coalizão de esquerda Frente Ampla. Segundo analistas, o opositor Partido Nacional superou os governistas como primeira força política do país num dia marcado pelo frio e pela abstenção: cerca de 44% dos eleitores compareceram às urnas, 10% a menos do que o previsto.
Embora não fosse uma disputa eleitoral entre partidos, analistas e dirigentes políticos consideram a prévia presidencial como uma possível antecipação do pleito nacional de outubro. Com 99% dos votos apurados, 46% dos que compareceram às urnas votaram em candidatos do Partido Nacional, 41% em candidatos da Frente Ampla e 12%, em candidatos do Partido Colorado.
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Primárias têm baixo comparecimento
Os escolhidos de cada partido para disputar a presidência não foram nenhuma surpresa, pois coincidiram com as pesquisas de opinião. O líder tupamaro José “Pepe” Mujica obteve 49% na Frente Ampla, contra 38% do ex-ministro da Economia Danilo Astori e 9% do prefeito de Canelones, Marcos Carámbula. O ex-presidente Luis Alberto Lacalle obteve 56% dos votos no Partido Nacional, contra 44% de Jorge Larrañaga. E Pedro Bordaberry, filho do ditador Juan María Bordaberry, obteve 62% no Partido Colorado, seguido por José Amorín Battle, com 13%, e Luis Hierro López, com 10%.
Justificativas e autocríticas
Vários analistas atribuíram o alto índice de votação do Partido Nacional ao fato de que sua eleição interna era mais disputada. Já na FA, Mujica contava com 20 a 30 pontos de vantagem sobre o rival mais imediato, Astori, nas pequisas de opinião. O presidente da coligação governista, Jorge Brovetto, concorda com esta percepção.
“A votação surpreendeu, foi mais baixa que o esperado. No caso da FA, houve vários fatores. Todas as pesquisas davam uma diferença significativa entre os dois candidatos com mais chance. Isto levou as pessoas a acreditar que sua participação seria supérflua”, afirmou ele ao Opera Mundi.
Mas isso não é consolo para outros dirigentes da FA. “Houve muito pouco movimento, e não foi só por causa do frio. Parece que estamos sempre procurando desculpas. Talvez tenha havido um excesso de confiança, pois as pesquisas davam tudo por encerrado”, afirmou o dirigente comunista Juan Castillo.
No mesmo sentido, para o deputado Luis Rosadilla, que apoiou a candidatura de Mujica, “quem não sua a camisa, não ganha”. “Em Montevidéu e Canelones, a votação da FA ficou muito abaixo das anteriores. Relaxamos e a baixa participação é um dado negativo que merece uma autocrítica”.
Assim que foi eleito candidato da FA, Mujica subiu num palanque diante da sede de seu partido, rodeado por dirigentes de todas as vertentes da esquerda. Menos Astori, que enfrenta as sequelas de uma pneumonia que o deixou quase um mês internado e agora deve permanecer em repouso por ordem médica.
Em seu discurso, Mujica sublinhou que a Frente é “diversificada”, “tem todos os matizes em suas entranhas, mas é um grito dos mais sofridos pela igualdade social” e “uma força política que veio para mudar este país definitivamente”. “Represento os que vêm lá de baixo, e sinto orgulho e compromisso”.
Mujica afirmou que as primárias não podem ser tomadas como sinal do que acontecerá em outubro, já que na Frente Ampla, por exemplo, “não havia nada em jogo que doa”. Segundo ele, a coligação governista vai multiplicar “muitas vezes” sua votação na eleição presidencial.
Primeira chapa
Outro elemento que levou os analistas a ver o Partido Nacional como vencedor das primárias foi a rápida formação de sua chapa presidencial. Foi um alvoroço na sede partidária quando Larrañaga, crítico feroz de Lacalle durante a campanha, anunciou inesperadamente seu desejo de acompanhá-lo na chapa.
“O doutor Lacalle me ofereceu a candidatura à vice-presidência da República, e este sentido de dever, este amor a meu partido e à pátria levam-me a expressar claramente que vou acompanhá-lo”, afirmou Larrañaga. Os dirigentes cantaram: “Os blancos, unidos, jamais serão vencidos”. E destacaram o alto índice de votação do PN.
Já no Partido Colorado e na Frente Ampla, as negociações continuam. Os segundos colocados ainda não aceitaram acompanhar os candidatos eleitos e exigem o cumprimento de certas condições.
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