O alto comissário do Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados), António Guterres, afirmou nesta segunda-feira (07/12) que países que rejeitam a entrada de refugiados muçulmanos estão fortalecendo o EI (Estado Islâmico) e outros grupos extremistas.
“Quando dizem que não podem receber refugiados sírios porque são muçulmanos, aqueles que falam isso estão apoiando organizações terroristas e permitindo que elas sejam muito mais efetivas no recrutamento de pessoas”, disse o alto comissário. Guterres, que está no cargo desde 2005 e já foi primeiro-ministro de Portugal, fez estas declarações durante uma entrevista coletiva em Genebra, na Suíça, na qual anunciou que a ONU precisará de US$ 20 bilhões da comunidade internacional para financiar programas de ajuda humanitária em 2016.
EFE
Alto comissário da ONU pelos refugiados declarou que o combate militar aos grupos terroristas não é suficiente
De acordo com o alto comissário, rejeitar a entrada de refugiados muçulmanos significa dar um “argumento fantástico” ao EI, que iria explorar “os medos do Ocidente” para convencer mais muçulmanos a se juntarem ao grupo.
Guterres afirmou que a crise humanitária “não é a causa do terrorismo”. “Pelo contrário, existem fluxos de refugiados por conta da tirania, dos conflitos e do terrorismo”, disse.
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Quanto ao combate de governos ocidentais contra o terrorismo, Guterres afirmou que ações militares e de inteligência não são suficientes. “Uma parte essencial disso [luta contra o terrorismo] é convencer os potenciais recrutados por organizações terroristas de que esse não é o modo de expressar sua raiva ou preocupações pessoais”, disse.
“Quanto mais se diz ou faz em hostilidade a refugiados sírios por eles serem muçulmanos, maiores são as chances de o EI e outros grupos encontrarem recrutarem, dentro das fronteiras de países europeus, pessoas dispostas a fazer as coisas horríveis que estamos testemunhando atualmente”, afirmou o alto comissário no Acnur.
Donald Trump: 'EUA deveriam barrar muçulmanos'
Ecoando — por oposição — o alerta de Guterres, o empresário norte-americano Donald Trump, pré-candidato à presidência dos EUA pelo Partido Republicano, pediu nesta segunda-feira que seja instituído um “total e completo” bloqueio à entrada de muçulmanos no país. A declaração se dá devido às recentes evidências de que o casal Tashfeen Malik e Syed Rizwan Farook, ambos muçulmanos, tenham cometido o ataque na cidade californiana de San Bernardino na última quarta-feira (02/12) inspirados no grupo extremista Estado Islâmico.
Segundo declaração divulgada pela equipe de campanha de Trump, o bloqueio à entrada de muçulmanos deveria durar “até nossos representantes entenderem o que está acontecendo”.
Civis mortos por bombardeios na Síria
Também nesta segunda-feira, o Observatório Sírio de Direitos Humanos reportou que ao menos 26 civis, incluindo sete crianças, morreram após bombardeios aéreos conduzidos provavelmente pela coalizão liderada pelos EUA que atua militarmente na região desde setembro de 2014.
O diretor e fundador do Observatório, Rami Abdel Rahman, afirmou que os ataques atingiram a cidade síria de al-Khan. “O Estado Islâmico está presente apenas nos arredores da cidade, por isso todas as mortes foram de civis”, afirmou Rahman.