Em uma votação na Assembleia Nacional nesta segunda-feira (11/04), Shehbaz Sharif foi eleito primeiro-ministro do Paquistão, após a queda, no fim de semana, de seu antecessor, Imran Khan, alvo de uma moção de censura em meio a uma convulsão política no país.
Sharif obteve 174 votos dos 342 parlamentares, conforme anunciou o presidente interino da Câmara, Sardar Ayaz Sadiq.
Líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N), Sharif, de 70 anos, é irmão mais novo de Nawaz Sharif, que foi três vezes primeiro-ministro, antes de ser deposto, em 2017, por suposta corrupção, e ser preso. Nawaz Sharif foi libertado dois anos depois por motivos médicos. Desde então, ele vive exilado no Reino Unido.
Shehbaz Sharif vai liderar esta república islâmica, um país de 220 milhões de habitantes e que possui armas nucleares. O novo premiê sucede Khan, de 69 anos, que foi derrubado no domingo (10/04) por uma moção de censura, a primeira na história do país.
Imran Khan, que tinha prometido acabar com a corrupção e construir um “novo Paquistão” igualitário, perdeu a maioria no Parlamento. O político fez o possível para se agarrar ao poder e afirma ser vítima de uma “mudança de regime” orquestrada pelos Estados Unidos por causa de suas críticas à política de Washington no Iraque e no Afeganistão, com a cumplicidade da oposição.
Khan tentou dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, mas foi impedido pelo Supremo Tribunal, que considerou esta solução ilegal.
A sessão de escolha do novo primeiro-ministro foi boicotada pela maioria dos deputados do partido de Khan, o Paquistão Tehreek-e-Insaf (PTI, Movimento de Justiça do Paquistão), que também anunciou a sua retirada da Assembleia Nacional.
“Alá salvou o Paquistão hoje, graças às orações de milhões de paquistaneses”, declarou o novo chefe de governo. “É a vitória da justiça e o mal foi derrotado”, saudou Sharif, antes de anunciar várias medidas destinadas a agradar à população, como o aumento do salário mínimo para 25 mil rúpias (€ 125) por mês, aumentos salariais para funcionários públicos e projetos de desenvolvimento em áreas rurais.
Wikimedia Commons
Shehbaz Sharif vai liderar esta república islâmica, um país de 220 milhões de habitantes e que possui armas nucleares
Sharif recebeu o apoio da coalizão que votou a moção contra Khan, formada pelo Partido Popular Paquistanês (PPP), de Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em 2007, e do pequeno partido religioso conservador Jamiat Ulema-e-Islam (JUI-F), do deputado Maulana Fazlur Rehman.
O PML-N e o PPP, dois partidos baseados em dinastias familiares, dominaram a vida política nacional durante décadas, dividindo o poder em períodos em que o país, independente desde 1947, não estava sob regime militar.
Resta saber agora como essas duas formações rivais, que uniram forças com o único objetivo de derrubar Imran Khan, conseguirão governar juntas. “A história mostra que não há convergência ideológica entre eles”, alertou o ex-ministro das Relações Exteriores Shah Mehmood Qureshi, que foi candidato do PTI a primeiro-ministro, mas não obteve votos. Ele denunciou um “processo ilegítimo”, antes de sair da sala com seus companheiros de legenda, sem participar da votação.
A primeira missão do novo premiê será formar um governo a partir dessa aliança díspar, já que o PML-N e o PPP foram rivais durante grande parte de sua história.
Desafio econômico
Além de manter seus partidários unidos, Sharif terá de lidar com a difícil situação econômica do Paquistão. O país enfrenta inflação alta, a desvalorização da rúpia e dívidas crescentes.
A deterioração da segurança, com o crescente número de ataques extremistas do Tehreek-e-Taliban Paquistão (TTP), o Talibã paquistanês, será outra de suas principais preocupações.
O novo chefe de governo é conhecido por sua tenacidade, sua obsessão pelo trabalho e por citar poemas revolucionários em seus discursos. Ele também esteve envolvido em denúncias de suborno e corrupção, acusações que seus apoiadores dizem ser motivadas por vingança política da parte de Khan.
Em dezembro de 2019, a Autoridade Anticorrupção (NAB) apreendeu quase 20 propriedades pertencentes a ele e seu filho, Hamza, acusando-os de lavagem de dinheiro. Ele foi preso, em setembro de 2020, tendo sido libertado sob fiança quase seis meses depois, e aguarda um julgamento que ainda não ocorreu.
Ao contrário de seu irmão mais velho, que mantinha relações tensas com a oposição e os militares, Shehbaz Sharif é considerado um negociador mais flexível, capaz de estabelecer compromissos até mesmo com seus inimigos.