Para os candidatos que saíram da disputa eleitoral para a presidência francesa com uma votação inferior a 5%, não é só a decepção com o resultado que pesa nesta segunda-feira (11/04). Chegou, também, a hora de pagar as contas da campanha. Porém, sem atingir a contagem mínima estipulada pela legislação eleitoral para ter direito a receber a verba de reembolso do Estado, alguns partidos já lançaram um pedido às doações.
É o caso de um dos grandes perdedores deste primeiro turno: o partido Os Republicanos, de direita. Após ter sido um dos alicerces da política francesa durante muitos anos, o LR conquistou apenas 4,78% dos eleitores. A candidata conservadora, Valérie Pécresse, pediu, nesta segunda-feira, para que seus eleitores, mas não só eles, participem de uma “vaquinha” para pagar as despesas de campanha. Ela lamentou a “situação crítica” de sua legenda.
“Nós não atingimos os 5% que nos permitiriam obter os € 7 milhões de reembolso do Estado. Esses € 7 milhões faltam para cobrir o orçamento da campanha. O [partido] Os Republicanos não pode bancar essa despesa”, disse ela, no dia seguinte à divulgação dos resultados. “Eu estou endividada pessoalmente em € 5 milhões. É por isso que eu lanço, esta manhã, um apelo nacional à doação. A todos que me deram seus votos, mas também a todos que preferiram, ontem, o voto útil e a todos os franceses que prezam pelo pluralismo político e pela liberdade de expressão”, afirmou. Pecresse tem até 15 de maio para fechar as contas de sua campanha presidencial.
? “Je suis endettée personnellement à hauteur de 5 millions d’euros”
Valérie Pécresse lance un appel d’urgence aux dons pour rembourser sa campagne pic.twitter.com/rdNrv28Ci5
— BFMTV (@BFMTV) April 11, 2022
A ajuda financeira para os candidatos que não ultrapassaram 5% corresponde a 4,75% do teto de despesas do primeiro turno, ou seja, € 800.000 euros. Oito dos doze concorrentes ao Palácio do Eliseu estão nesta situação: além de Valérie Pécresse, Yannick Jadot, do partido Europa Ecologista os Verdes (EELV), que alcançou 4,58% dos votos; Jean Lassalle (Resistir), com 3,13% dos votos; o comunista, Fabien Roussel (2,28%); Nicolas Dupont-Aignan (A França de Pé) (2,06%); a socialista Anne Hidalgo (1,75%); o candidato do Novo Partido Anticapitalista, Philippe Poutou (0,77%), e a candidata da Luta Operária, Nathalie Arthaud, (0,56%).
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Pecresse tem até 15 de maio para fechar as contas de sua campanha presidencial
Nas redes sociais, os pedidos de doações para apoiar os candidatos derrotados são descritos como “indecentes”. “Ambição pessoal excessiva” ou “falta de visão política” são alguns dos comentários dos internautas sobre o tema. Para outros, trata-se de uma maneira de continuar a batalha de ideias, como salienta Julien Bayou, secretário nacional da EELV, o partido ambientalista. “Se cada eleitor de Yannick Jadot der € 3, teremos reembolsado a campanha e poderemos continuar a luta pela ecologia”, afirmou.
Ce soir nous avons besoin de vous.
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— EELV (@EELV) April 10, 2022
O financiamento de campanhas eleitorais é rigorosamente fiscalizado na França. Além do financiamento público, com valores a serem reembolsados, as doações privadas têm regras rígidas. Empresas não podem financiar campanhas e, no caso de doadores privados, o valor máximo é de € 4.600 por pessoa.
Várias associações como Anticor e Transparência Internacional França pedem mais transparência na divulgação dos custos de campanha para limitar a desconfiança sobre a classe política.