O governo dos Estados Unidos autorizou que a polícia de Ferguson, no estado de Missouri, restringisse o espaço aéreo em 95 quilômetros quadrados no mês de agosto, durante as semanas de intensos protestos na região. A alegação inicial foi de que a medida havia sido tomada por motivos de segurança. Gravações obtidas pela imprensa, no entanto, revelaram que o objetivo real da medida era impedir que helicópteros de meios de comunicação sobrevoassem a área durante as manifestações realizadas após a morte do jovem negro Michael Brown, assassinado por um policial branco.
Em 12 de agosto, um dia após a FAA (Administração Federal de Aviação) impor a primeira restrição de voo, controladores tentaram redefinir a proibição ao tráfego aéreo para que voos comerciais pudessem operar perto do aeroporto internacional Lambert-St Louis.
Agência Efe
Guarda Nacional foi convocada para reforçar ação policial durante protestos
“No final admitiram que era para manter os meios de comunicação fora”, afirmou um empregado da FAA do condado de Saint Louis em conversas telefônicas gravadas às quais a agência AP (Associated Press) teve acesso com base na lei norte-americana da liberdade da informação -“Freedom of Information Act”. A transcrição da conversa pode ser encontrada aqui (em inglês).
Outro empregado da FAA no Kansas disse que a polícia não se importava “se tivesse tráfego comercial o dia todo sobre a área de restrição. Não queriam a mídia ali”. Na região, milhares de pessoas protestavam, nas ruas, contra a violência policial. Os vídeos gravados pela imprensa mostraram a todo o país imagens de um dos episódios mais violentos da história recente norte-americana.
As declarações contrastam com a versão oficial da polícia, que afirmou que as restrições não tinham relação com limitação à imprensa, e sim com a segurança após um helicóptero policial ter recebido disparos por parte dos manifestantes.
A AP diz, no entanto, que segundo policiais, o helicóptero não sofreu danos e eles não puderam dar informações sobre o suposto tiroteio. Um gestor da FAA descreveu as notícias sobre os disparos como “rumores” sem confirmação.
As informações aumentam os questionamentos em torno da conduta policial nos protestos e revelam a maneira como a polícia tentou evitar imagens aéreas, em violação ao direito constitucional dos jornalistas, com a assistência de autoridades federais, diz a AP.
Lee Rowland, da União Americana pelas Liberdades Civis, disse à Associated Press que “qualquer evidência de que uma zona de exclusão aérea tenha sido adotada como pretexto para excluir a atividade da imprensa na cobertura dos eventos em Ferguson é extraordinariamente preocupante e uma flagrante violação dos direitos da imprensa”.
Agência Efe
Em via pública na cidade norte-americana de Ferguson, manifestantes segura cartaz em protesto: “Parem de nos matar”
A FAA negou as acusações. Michael Huerta, administrador do organismo, afirmou, no sábado (1º/11), que a FAA “não pode e nunca irá proibir exclusivamente meios de comunicação de cobrir eventos de importância nacional e a imprensa nunca foi banida de acompanhar os acontecimentos em Ferguson”.
Durante os protestos, pelo menos dois jornalistas foram detidos sem acusação contra eles: Wesley Lowery, do Washington Post, e Ryan J. Reilly, do Huffington Post, narraram as prisões pelo Twitter em tempo real e criticaram duramente a polícia local pela brutalidade e falta de justificativa das detenções. “Foi muito desnecessário”, disse Lowery. Ambos foram liberados após 45 minutos, sem qualquer explicação.
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Entenda o caso:
Em 9 de agosto, o jovem Michael Brown, de 18 anos, que estava desarmado, foi morto por um policial. A autópsia encomendada pela família revelou que ele recebeu pelo menos seis disparos: dois na cabeça e quatro no braço direito. O estudo indicou que todos os projéteis foram disparados de frente, nenhum pelas costas – o que descarta a possibilidade de que ele tenha corrido – nem à queima-roupa, já que não há vestígio de pólvora no corpo de Brown.
Os protestos pela morte do jovem se estenderam por quase duas semanas e foram fortemente reprimidos pela polícia. Diversas pessoas foram detidas durante os atos na cidade, que possui apenas 21 mil habitantes, sendo dois terços deles negros.
Dada a proporção que os protestos tomaram, o presidente Barack Obama chegou a pedir ao FBI que conduzisse uma investigação independente sobre o caso.