Em uma semana em que o governo da Irlanda já recusou e depois voltou atrás sobre a ajuda da União Europeia e do FMI para a crise financeira que atravessa, o ministro da Economia do país disse nesta quinta-feira (18/11) que “é claro” que o país precisará de auxílio externo para recuperar sua economia.
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O ministro Brian Lenihan afirmou no Dáil (parlamento irlandês) que o governo irlandês deve aceitar a criação de um “fundo de contingência” para os bancos estatais, cuja ameaça de insolvência é o centro da crise irlandesa. Embora tenha dito há pouco mais de um mês que não era papel do governo socorrer os bancos, Lenihan agora afirma que espera que órgãos internacionais injetem “dinheiro fresco” nos bancos do país.
“Tenho certeza de que todas estas questões serão postas, e todas serão analisadas”, disse o ministo ao jornal The Irish Independent.
Na mesma linha, o presidente do Banco Central do país, Patrick Honohan, disse que o país terá de aceitar um empréstimo na casa dos bilhões de euros para socorrer os bancos irlandeses
“Acho a ajuda que definitivamente vai acontecer. É por isso que uma ampla equipe de técnicos vai se sentar para discutir esse assunto. As condições do mercado não permitiram avançarmos sem buscar o apoio de nossos parceiros internacionais”, disse Honohan.
Negociações discretas
Representantes da Comissão Europeia, do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Central Europeu estiveram em Dublin nesta quinta-feira. Segundo o ministro da Economia, a visita tem o objetivo de “estudar o modo” como a ajuda será feita, e que a orientação geral é “reforçar” as medidas já tomadas pelo governo. Entre elas, estão a recapitalização dos bancos, a garantia estatal sobre as contas bancárias e a criação de uma “Agência Nacional de Gestão de Ativos”.
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A ministra da Cultura, Turismo e Esporte do país, Mary Hanafin, previu que as negociações com o FMI e a UE devem ser concluídas antes da formulação do próximo orçamento, o que pode de fato causar impacto nas previsões de investimentos públicos do país. Segundo ela, em entrevista à emissora pública irlandesa RTÉ, uma das propostas em análise é a criação de um fundo de contingência para proteger as pessoas que têm conta em banco de possíveis falências.
Mas Lenihan explicou que o governo está evitando “falar em público” sobre as conversas com as três entidades para “proteger” os contribuintes, embora o governo já ressalte que todos os correntistas terão suas contas e poupanças garantidas.
Efeito cascata
No centro da crise financeira na Irlanda está o sistema bancário, que tem ampla fatia de investimentos estrangeiros – como de bancos britânicos e de outros países europeus. Por isso, o socorro aos bancos na Irlanda é interesse estratégico para as economias da União Europeia. No entanto, a UE pressiona para que o governo faça mudanças no planejamento orçamentário para os próximos quatro anos, buscando uma política de austeridade fiscal e redução dos gastos públicos, no mesmo molde do pacote adotado pela Grécia no início do ano – e que levou a violentos protestos e greves por parte dos trabalhadores gregos.
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Sobre isso, Lenihan argumentou que os problemas da Irlanda “não são orçamentários, mas bancários”. O ministro enfatizou que o sistema financeiro tem “deficiências estruturais”, e que são elas que estão na origem da crise.
Já o primeiro-ministro da Irlanda, Brian Cowen, rejeitou as acusações de que seu governo estaria “entregando” a soberania da Irlanda ao permitir que o FMI fiscalize as finanças do país.
“Vai ser uma decisão soberana do governo irlandês, em nome do povo irlandês, que vai decidir a forma pela qual qualquer outro pacote teria, nas quais possamos decidir o que é do nosso interesse. No momento, estamos no processo de avaliar quais são as melhores opções”, disse Cowen, citado pelo jornal inglês The Guardian.
*Com agência Efe.
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