Pesquisas eleitorais indicam que as coisas não parecem promissoras para os verdes europeus. Partidos desse espectro político arriscam perder cerca de um terço de seus assentos no Parlamento da União Europeia nas próximas eleições do bloco, marcadas para junho. Com 72 eurodeputados, os verdes contam atualmente com a quarta maior bancada do Parlamento Europeu e também são representados na Comissão Europeia, o braço Executivo da UE, por Virginijus Sinkevičius, que ocupa o posto de comissário europeu para o Meio Ambiente.
Aos olhos do público, os verdes se destacam por bandeiras como a proteção climática. Nas últimas eleições da UE, eles também receberam um impulso do movimento Fridays for Future, liderado pela ativista sueca Greta Thunberg e que levou milhões de jovens às ruas a partir de 2018. Com esse empurrão, os partidos verdes na UE obtiveram em 2019 uma votação recorde.
Verdes não são bem-sucedidos em todos os países da UE
A influência dos partidos verdes é distribuída de forma desigual na UE. Tradicionalmente, os verdes são fortes na Europa Ocidental, especialmente na França, Alemanha e Áustria, aponta Tobias Gerhard Schminke, fundador e organizador do agregador de pesquisas eleitorais Europe Elects. Nesses países, as legendas normalmente alcançam marcas de dois dígitos na porcentagem de eleitores. “Mas em muitas partes do sul da Europa e especialmente na Europa Oriental, eles são mais fracos”, explica o cientista político. “Na Eslováquia, por exemplo, eles sequer existem.”
Mas em outros países da UE, partidos verdes fazem parte do governo. Na Alemanha, por exemplo, o Partido Verde conta com cinco ministros, incluindo a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, e o vice-Chanceler e Ministro da Economia, Robert Habeck. Os partidos verdes também participam de coalizões de governo na Irlanda, Áustria, Bélgica, Letônia e Espanha. Na Polônia, eles são representados por um secretário de Estado, enquanto a Áustria tem um presidente verde, Alexander von der Bellen.
Proteção climática na política da UE
No atual período legislativo do Parlamento Europeu, a proteção climática passou para o centro das atenções. Com o chamado Acordo Verde Europeu ou “European Green Deal”, a UE pretende se tornar climaticamente neutra até 2050.
Um primeiro marco é a redução das emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990. De acordo com a Comissão Europeia, o ambicioso pacote de leis para colocar a meta em prática já foi amplamente adotado.
Karin Thalberg, pesquisadora de política energética europeia no Instituto Jacques Delors, diz que os verdes desempenharam um papel importante nas votações e no processo de elaboração da legislação. Em entrevista à DW, ela enfatiza que a importante fase de implementação do pacote pelos Estados-membros já está em andamento.
No entanto, os ventos políticos vêm mudando, e leis de proteção climática vêm se deparando com cada vez mais resistência. Agricultores de muitos países da UE vêm protestando contra várias medidas, com parte da raiva sendo direcionada à legislação europeia.
A resistência também está surgindo entre alguns partidos, especialmente entre legendas conservadoras. Manfred Weber, líder da bancada do Partido Popular Europeu (EPP), legenda com o maior número de membros no Parlamento Europeu, anunciou em novembro que pode “reconsiderar” o apoio aos planos do bloco de abandonar o uso de motores de combustão, uma medida que foi conquistada a duras penas. De acordo com uma pesquisa conjunta dos portais europeus Politico e Euractiv, essa demanda também foi incluída no manifesto do partido, que ainda não foi publicado.
Unión Europea en Perú/Flickr
Influência dos partidos verdes é distribuída de forma desigual na União Europeia
O cientista político Thalberg reconhece uma “tendência preocupante” neste período que antecede as eleições europeias, não apenas na extrema direita, mas também na centro-direita. No ano passado, o presidente liberal da França, Emmanuel Macron, chegou a defender uma “pausa legislativa” na UE em relação à adoção de novas medidas ambientais. O Partido Popular Europeu, por sua vez, manifestou ser favorável a uma espécie de “moratória na legislação ambiental”.
“Coragem” como lema de campanha
Os verdes europeus continuaram a adotar uma retórica combativa durante uma convenção do Partido Verde Europeu – principal legenda verde do Parlamento Europeu – no primeiro fim de semana de fevereiro em Lyon, na França. Bas Eickhout, representante dos verdes da Holanda, previu uma “dura campanha eleitoral”. Ele deve liderar a campanha junto com sua colega alemã Terry Reintke, segundo decidiram os delegados. O lema da convenção partidária foi “Coragem”.
E coragem é algo que será necessário para uma “transformação verde”, enfatizou Terry Reintke. “O EPP e os liberais não estão certos quando dizem que o Acordo Verde está prejudicando nossa economia.” Reintke é membro do Parlamento da UE desde 2014. Ela está convencida de que o Acordo Verde pode ajudar a implementar uma economia que respeite os recursos naturais do planeta, bem como a justiça social.
Durante a convenção, os delegados enfatizaram que o Acordo Verde deve ser defendido. O evento contou com a participação de mais de 1.200 Verdes e partes interessadas de toda a Europa. O programa eleitoral defende a neutralidade climática já em 2040, e não apenas em 2050. Os Verdes também querem enfrentar os partidos de extrema direita da Europa e fazer campanha pelo aborto seguro e legal em toda a UE.
Os verdes ainda podem virar o jogo?
O cientista político Thalberg enxerga um difícil equilíbrio para os políticos ambientalistas no momento, entre o cenário eleitoral atual e as bandeiras de proteção climática. “O que considero positivo no programa partidário, em comparação com o de outras legendas, é que eles têm propostas muito concretas.” Por exemplo, os verdes têm propostas específicas para eficiência energética de edifícios residenciais, mobilidade sustentável e a transformação verde da indústria e da agricultura.
O pesquisador eleitoral Schminke sinaliza que os ambientalistas podem perder espaço no pleito de junho. Ele atribui isso principalmente à participação de partidos verdes nos governos de alguns países. “Isso ocorre porque as eleições europeias são sempre usadas como um termômetro para mandar recados para governos nacionais”, enfatiza o cientista político. No entanto, ainda há meses pela frente até a próxima eleição. Em fevereiro de 2019, os verdes apareceram com índices de intenção de votos bem mais baixos do que aqueles que foram efetivamente conquistados no dia da eleição em maio daquele ano.
Terry Reintke também destaca esse histórico. Em Lyon, ela enfatizou que as últimas eleições foram palco do melhor resultado verde de todos os tempos para o Parlamento da UE. E, independentemente do discurso político explicitamente direcionado contra os verdes nesta campanha por outras legendas, eles pretendem continuar lutando.