O entregador Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como “Galo” e fundador do grupo Entregadores Antifascistas, foi preso de forma temporária pela polícia assim que se apresentou nesta quarta-feira (28/07), voluntariamente, ao 11º Distrito Policial de Santo Amaro. A prisão temporária tem prazo máximo de cinco dias, podendo ser prorrogada por igual período.
O órgão investiga o incêndio da estátua de Borba Gato, no último sábado (24/07), na zona sul de São Paulo. O coletivo “Revolução Periférica” já assumiu a autoria do incêndio. A defesa de Lima afirmou que ele reconhece sua participação no ato e que está disposto a colaborar com as investigações.
A decisão de se apresentar à polícia veio após a defesa localizar um pedido de prisão temporária em andamento contra Galo. De acordo com os advogados, o pedido de prisão foi enviado para o endereço errado. O entregador, ao chegar à delegacia, atualizou o endereço e, com a expedição de um mandado atualizado, foi preso.
O primeiro pedido já havia sido contestado pela defesa. “Um crime em que não houve violência contra a pessoa. Então não consigo entender quais são os motivos jurídicos para ele estar preso. Não se prende pessoas por pensarem, fazerem aquilo que elas acreditam”, declarou o advogado de Galo, Jacob Filho.
No documento enviado ao DP para o agendamento da apresentação de Galo, a defesa também solicita o acesso ao inquérito. “A defesa desconhece os autos da investigação em curso e, ainda, eventuais autos apartados que contenham o mencionado pedido de prisão do peticionário. (…) Desde já, pois, requer que seja deferido o acesso ao inquérito policial principal e, ainda, aos autos de eventuais medidas cautelares decretadas, para que o peticionário e a defesa tenham ciência de todas as provas documentadas”, afirma a defesa na petição.
Em uma série de tuites pouco após a prisão, a defesa de Galo disse que a esposa do entregador, Gessica, também foi à delegacia e descobriu que também havia sido expedido um pedido de prisão temporária contra ela. Gessica não estava presente no ato do dia 24.
Zé Bernardes/Brasil de Fato
‘Galo’ foi preso ao se apresentar na delegacia
Manuel Borba Gato
O incêndio da estátua de Borba Gato faz parte de um movimento de ações que defendem a derrubada de monumentos que exaltam personagens da escravização de povos afrodescendentes e indígenas. No caso de Manuel de Borba Gato, ele fez fortuna, na segunda metade do século 18, ao caçar indígenas pelos sertões do país para escravizar.
Ainda em setembro de 2016, a estátua amanheceu manchada de tinta, num repúdio a sua figura, assim como o Monumento às Bandeiras, na Praça Armando Salles de Oliveira, no Ibirapuera.
Em outros lugares do mundo, o movimento é o mesmo. Em Richmond, na Virgínia, nos Estados Unidos, uma estátua de Cristóvão Colombo, apontado na história como o primeiro conquistador europeu a chegar à América, foi derrubada, incendiada e jogada em um lago.
Na mesma cidade, a estátua de Jefferson Davis, militar americano que defendia a manutenção da escravidão nos EUA, também foi derrubada. Da mesma maneira, em Bristol, na Inglaterra, uma estátua de Edward Colston, traficante de escravos e membro do Parlamento britânico no século 17, foi derrubada e jogada em um rio.
(*) Com reportagem do Brasil de Fato