O Ministério de Relação Exteriores da Venezuela manifestou solidariedade neste domingo (25/07) com membros da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), partido de esquerda de El Salvador, que foram presos na última semana pela polícia do país em abordagens consideradas irregulares.
Em nota, Caracas afirmou que se trata de “um caso de perseguição judicial”, citando não apenas as cinco prisões efetuadas, mas as ordens de captura emitidas contra outros integrantes do partido.
“Sob todas as luzes, estamos diante de um novo caso de lawfare, estratégia utilizada em anos recentes por grupos conservadores no poder para tentar desmobilizar a organização e resistência dos povos contra o neoliberalismo e outras formas de dominação”, disse a Chancelaria.
Na noite da última quinta-feira (22/07), a polícia salvadorenha efetuou a prisão da ex-ministra da Saúde, Violeta Menjívar; do ex-ministro da Fazenda Juan Ramón Carlos Enrique Cáceres Chávez; da ex-vice-ministra da Ciência e Tecnologia, Erlinda Hándal; do ex-vice-ministro da Agricultura, Hugo Flores; e do ex-deputado Calixto Mejía.
Há mandados de prisão pendentes para outros quatro ex-ministros e para o ex-presidente Salvador Sánchez Cerén.
“A Venezuela manifesta sua solidariedade ao ex-presidente […] Salvador Sánchez Cerén e a um grupo importante de ex-funcionários de governo vítimas de uma perseguição judicial sem precedentes, conduzida pela Procuradoria geral do país”, afirma a nota venezuelana.
O Ministério das Relações Exteriores ainda diz que o presidente Nicolás Maduro “envia um abraço solidário ao companheiro Sánchez Cerén, um dos mais relevantes dirigentes na história política da nação salvadorenha”.
#COMUNICADO | Venezuela se solidariza con el ex Presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén y funcionarios de su gobierno, víctimas de persecución judicial.
Este es un nuevo caso de lawfare, estrategia que intenta desmovilizar la organización y resistencia de los pueblos. pic.twitter.com/uxlCNAhB7F— Jorge Arreaza M (@jaarreaza) July 25, 2021
Reprodução/FMLN
Cinco integrantes do partido foram presos na última semana
‘Prisões visam gerar escárnio público’
Para a advogada salvadorenha Ruth Eleonora López, as prisões e ordens de captura contra integrantes da FMLN e o tratamento que recebem por parte das autoridades têm como objetivo o escárnio público dos opositores e não respeitaram o devido processo legal.
Segundo López, o caráter arbitrário das prisões se manifesta em elementos ilegais observados no momento da abordagem policial. “No caso da ex-ministra [Violeta Menjívar] nós sabemos que ela foi presa sem ser informada do motivo de sua prisão, ou seja, as autoridades não podem simplesmente sequestrar uma pessoa”, afirmou, em entrevista a Opera Mundi.
Já o secretário-geral da FMLN, Óscar Ortiz, disse que o governo quer “silenciar vozes críticas, ameaçar todo tipo de oposição e, acima de tudo, o que nunca pensamos que voltaria a El Salvador, a perseguição política aos que se opõem ao grupo dominante”.
Autoritarismo
O governo do presidente Nayib Bukele tem cada vez mais, segundo observadores internacionais, encarnado um espírito autoritário, – em um país traumatizado por anos de guerra civil.
Em fevereiro de 2020, por exemplo, sob ordens de Bukele, militares e integrantes da Polícia Nacional Civil (PNC) de El Salvador invadiram a sala de sessões da Assembleia Legislativa do país para “pressionar” pela aprovação de um empréstimo de US$ 109 milhões para financiar um plano de segurança. Na ocasião, em entrevista ao jornal El País, Bukele disse que a ordem para invadir o Parlamento foi “apenas um ato de presença” e afirmou que, se fosse um ditador, “teria assumido o controle de tudo”.
Em 2021, membros do poder Judiciário do país foram destituídos pela nova Assembleia Legislativa, na qual o partido de Bukele, o Nuevas Ideas (NI), tem ampla maioria.