O presidente do Peru, Pedro Castillo, voltou atrás na noite desta terça-feira (06/04) do toque de recolher em Lima e Callao que havia decretado horas antes. Durante todo o dia, no entanto, manifestantes de diversos grupos protestaram contra a medida, e 11 pessoas ficaram feridas.
Segundo o Ministério da Saúde do Peru, do número total de feridos, cinco são civis e seis são membros da polícia peruana. Todos eles sofreram “sofreram traumas superficiais, contusões, lesões no pulso, mão e cabeça, entre outros”.
O toque de recolher havia sido decretado a fim de tentar deter uma greve de caminhoneiros, que expressaram sua insatisfação com o aumento dos preços dos combustíveis. A decisão de Castillo, porém, causou protestos nas ruas da capital Lima.
Segundo o jornal La República, houve panelaços em bairros de classe média e alta da cidade (Miraflores, Barranco, Jesús María e San Miguel). Em seguida, manifestantes pedindo a renúncia do presidente tentaram forçar a entrada no Congresso, onde estava Castillo. A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e conseguiu dispersar o protesto.
Houve, também, registros de saques e agressão a jornalistas que cobriam a manifestação.
Repercussão
A decretação do toque de recolher foi criticada inclusive por políticos de esquerda, que apontaram até a inconstitucionalidade da medida.
A ex-candidata presidencial Verónika Mendoza, de esquerda e cujo grupo político rompeu com o governo Castillo, disse que o presidente “traiu suas promessas de mudança” e rechaçou o toque de recolher.
Presidencia Peru/Flickr
Castillo decretou toque de recolher em Lima e Callao, mas voltou atrás após protestos
“O governo não apenas traiu suas promessas de mudança, mas agora está repetindo o método de direita de “resolução de conflitos”: ignorar aqueles que se mobilizam em legítima insatisfação com a situação econômica e política, reprimindo, criminalizando e restringindo direitos”, afirmou, em um tuíte.
Por sua vez, a ex-premiê Mirtha Vásquez, que foi inclusive primeira-ministra de Castillo, disse que o presidente tomou uma “medida autoritária”. “Os conflitos sociais não podem ser resolvidos pela repressão ou pela imposição de um estado de emergência que restrinja os direitos. Medidas autoritárias como esta só irão exacerbar a agitação dos cidadãos que sofrem com a crise econômica. Assuma o comando, presidente, e busque soluções democráticas!”, afirmou.
Combustíveis
No dia 28 de março, o Grêmio Nacional de Transporte de Cargas convocou uma greve por conta do aumento do preço dos combustíveis e importantes rodovias do país foram fechadas. Também ocorreram saques, episódios de destruição de propriedade privada e enfrentamento com a polícia.
Desde então, as mobilizações cresceram e Castillo sentou para negociar com os grevistas — embora tenha dito no dia 31 de março que as mobilizações eram mal-intencionadas.
No domingo (03/04), o governo zerou os impostos sobre combustíveis por 9 meses e anunciou o fim da greve após uma rodada de negociações com “os principais sindicatos de transporte de carga do país”. Na ocasião, Castillo ressaltou que a inflação estava ligada à guerra entre Rússia e Ucrânia e que não podia intervir no mercado.
Castillo já sofreu duas tentativas de impeachment em cerca de 8 meses no governo. A mais recente tentativa de afastar o atual presidente foi derrotada no Congresso no dia 28 de março, o mesmo dia do início da greve. De acordo com pesquisas de opinião, o mandatário é reprovado por 65% da população e 71% dos peruanos não acreditam que ele irá concluir o mandato.
(*) Com teleSUR e Brasil de Fato