A classe política brasileira não ficou alheia aos ataques de Israel à Faixa de Gaza. A maior parte manteve-se neutra, mas alguns partidos e integrantes do governo condenaram veementemente as ações do Exército israelense, causando polêmica.
Foi o caso do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, que classificou a incursão em Gaza como “terrorismo de Estado” praticado por Israel, país que acusou de ter historicamente descumprido resoluções internacionais quanto à questão palestina.
As declarações chegaram a ser minimizadas pelo embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, que destacou que a posição oficial do país é de “neutralidade”, como expressou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O chanceler está no Oriente Médio. Ele tem se empenhado pessoalmente em criar possibilidades de diálogo que resultem em um cessar-fogo.
Alinhado com a causa palestina, o PT emitiu nota condenando os ataques e classificando-os como “criminosos”. O partido reforçou o conceito de terrorismo de Estado e deu total apoio aos palestinos. “Os ataques do Exército de Israel contra o território palestino, que já causaram milhares de vítimas e centenas de mortes, além de danos materiais, só podem ser caracterizados como terrorismo de Estado”.
“Não aceitamos a ‘justificativa' apresentada pelo governo israelense, de que estaria agindo em defesa própria e reagindo a ataques. Atentados não podem ser respondidos através de ações contra civis. A retaliação contra civis é uma prática típica do exército nazista: Lídice e Guernica são dois exemplos disso”, compara a nota, referindo-se a dois massacres operados pelos nazistas.
Na última semana, uma comissão de deputados entregou aos embaixadores no Brasil de Israel, Giora Becher, e da Autoridade Palestina, Ibrahim Al Zeben, uma carta pedindo um entendimento entre as partes para um cessar-fogo imediato. “O nosso dever como parlamentares é expressar o sentimento da sociedade brasileira que é de indignação com a perda de vidas humanas, a maior parte de civis palestinos. Da mesma forma, a sociedade não apóia os ataques com foguetes do Hamas”, explicou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos organizadores do encontro.
Ele avalia que a posição de neutralidade do Brasil e o esforço para a construção do diálogo são as posturas mais adequadas a serem tomadas pelo governo. “Acho que o Brasil tem tido uma postura atuante no sentido de contribuir para que se promova a paz na região. Mandamos um avião com ajuda humanitária e o ministro Amorim está empenhado em ajudar nas negociações para um cessar-fogo imediato”.
“Não se trata de ser contra Israel, trata-se de ser a favor da paz e do respeito aos tratados internacionais. Agora mesmo, o Brasil está celebrando um acordo de comércio com Israel e temos também no país uma comunidade judaica muito forte”, exemplificou.
O tucano Luiz Carlos Hauly (PR) é filho de libaneses e também defende a posição de neutralidade. O conceito que deve ser defendido, segundo ele, é de pacificação, de tolerância. “A posição que o Brasil tem tomado é pelo equilíbrio, pelo entendimento e pela promoção da paz. Essa é a postura mais adequada e que tem sido tomada pelo nosso chanceler. Nós, brasileiros, não aceitamos essa violência”, destacou o deputado, que há 18 anos integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Hauly avaliou que o conflito poderá se resolver após a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que ocorre no próximo dia 20. Ele acredita que, com Obama no poder, os Estados Unidos adotarão uma nova postura em relação à questão palestina, abandonando o comportamento de defesa incondicional de Israel. “Os americanos disseram nas urnas que querem essa nova postura”.
PSDB pede neutralidade
O PSDB divulgou nota exigindo que o governo brasileiro evitasse tomar partido. “Tradicionalmente, a política externa brasileira tem privilegiado o diálogo e o entendimento entre os povos, respeitando a pluralidade étnica, cultural, religiosa e política que existe no universo das nações. Nosso país, através de seu governo, precisa contribuir para esse esforço de construção da paz, evitando tomar partido por um dos lados em conflito”, diz a nota assinada pelo presidente da legenda, senador Sérgio Guerra (PE).
Já uma nota divulgada pelo PSOL, após a divulgação de imagens da matança de 40 crianças em uma escola da ONU na Faixa de Gaza, chama a população a se mobilizar em repúdio ao massacre. “O bombardeio é o mais recente crime cometido pelo exército israelense. Depois de serem expulsos de suas casas pelos bombardeios, os palestinos – homens, mulheres e crianças – acharam refúgio nas escolas da Agência das Nações Unidas para os Refugiados de Guerra (UNRWA)”.
Na nota, o PSOL ainda pede ao governo brasileiro que suspenda imediatamente as relações diplomáticas com Israel e faça como a Venezuela, que expulsou o embaixador israelense.
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