No dia 11 de fevereiro, um forte terremoto de 6,8 graus na escala Richter atingiu o Chile. Apesar da forte magnitude, o terremoto não deixou vítimas ou danos materiais sérios. Já Christchurch, segunda maior cidade da Nova Zelândia, sofre nesta terça-feira (22/02) com os danos provocados por um sismo de 6,3 graus, que até o momento deixou mais de 65 mortos e centenas de desaparecidos. Por que alguns terremotos têm potencial de destruição e outros, não? De acordo com especialistas entrevistados pelo Opera Mundi, a explicação está na profundidade dos tremores e na infraestrutura dos países atingidos.
Na Nova Zelândia, o epicentro do terremoto estava a apenas quatro quilômetros de profundidade, aumentando assim o potencial de destruição. Por sua vez, o abalo sísmico no Chile, há 11 dias, aconteceu a uma profundidade de 20,9 quilômetros.
Efe
Cenas na destruição em Christchurch, segunda maior cidade da Nova Zelândia
Para o sismólogo George Sand França, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), o tremor que atingiu o Chile foi forte, mas os danos podem ter sido menores por conta da infraestrutura chilena . “Foi um forte terremoto sim, mas se o país tem construções adequadas para esse tipo de terremoto, que é frequente no Chile, espera-se que os danos sejam mínimos. No Brasil, isso seria terrível. Para o Chile é um forte tremor é de magnitude 7.0”, afirmou o professor.
Outro exemplo é o do devastador terremoto no Haiti, em 2010, que aconteceu a 10 quilômetros de profundidade e matou centenas de milhares de pessoas, muito em parte devido à precária infraestrutura do empobrecido país caribenho.
O Chile é um dos países com maior atividade sísmica do mundo. Números do Departamento de Geofísica apontam que a cada 10 anos o país sofre com um forte abalo sísmico. Diariamente, são registrados ao menos 10 sismos de, em média, 4 graus de magnitude. Para se ter uma ideia, de 15 de dezembro do ano passado a 15 de fevereiro deste ano, mais de 500 tremores com magnitude superior a 3 foram detectados pelo Departamento de Geofísica chileno.
Para o professor de geofísica e sismologia da USP, Afonso Vasconcelos Lopes, a profundidade dos tremores tem grande influência. “Quando acontece um tremor de terra de magnitude 3, por exemplo, em São Paulo, há uma profundidade focal. Ou seja, distância entre foco e superfície, de 500 metros. Portanto, ele está muito próximo da superfície. No entanto, no Chile, esses tremores de magnitude 3 acontecem a 20, 30 quilômetros de profundidade e nem são sentidos na superfície”, explicou.
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Um dos mais destruidores terremotos a abalar o Chile aconteceu em fevereiro de 2010. Os tremores deixaram, ao menos, 802 mortos e 96 desaparecidos. O epicentro foi a 325 quilômetros da capital, Santiago. Mesmo com estes números, França afirmou que o desastre poderia ter sido ainda maior caso o terremoto tivesse acontecido no continente ou próximo de uma grande cidade.
“Relativamente o número de mortes foi muito menor que do Haiti e isso reflete no costume e no preparo do Chile. Entretanto, o desastre poderia ser maior se tivesse acontecido no continente e próximo a uma cidade. A intensidade, ou melhor, os danos foram menores porque a cidade mais populosa está a 95 km em Talcahuano, que tem aproximadamente 225 mil habitantes”, completou França. Ele explicou ainda que diante de um terremoto com essa magnitude é muito difícil prevenir os estragos.
“Com terremotos dessa magnitude, independente da segurança e do treinamento, sempre se espera grandes danos. A energia liberada é cerca de 3 mil vezes a energia usada em Hiroshima. É claro que parte dessa energia se vai por calor, além do seu efeito ser atenuado com a distância. Mesmo assim é forte demais”, completou.
Placas tectônicas
O Chile e a Nova Zelândia são países que sofrem constantemente com os tremores, pois estão em áreas de interação entre as placas tectônicas. No país sul-americano, acontece o choque entre as placas de Nasça e a Sul-Americana e no da Oceania, entre a placa Australiana e a do Pacífico.
Divulgação
Para França, os governos devem investir no preparo da população. “As ações necessárias são códigos de construções civis adequados e treinamento ds pes”, explicou França. “Isso acontece com muita eficiência no Japão”, completou.
“Se, por exemplo, em um jogo entre dois times chilenos, acontecer um tremor de terra, é necessário saber como controlar o pânico generalizado. O Chile sabe como responder essa pergunta, pois enfrenta isso constantemente. Já passaram por isso. No entanto, além de se conscientizar a população é necessário acima de tudo conscientizar os órgãos que tomam conta das pessoas, como a Defesa Civil. É necessário pensar na logística, para saber o que é necessário fazer em casos de grandes terremotos” afirmou Afonso.
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