Trabalhadores de Honduras estão em greve desde segunda-feira (29). Escolas estão fechadas e as principais estradas do país, tomadas por protestos em apoio ao presidente Manuel Zelaya, deposto no último domingo (nas fotos abaixo, da agência EFE, protesto desta quinta-feira em Tegucigalpa). As manifestações demonstram o apoio ao governo por parte de um setor da sociedade hondurenha entusiasmado com as políticas sociais e indignado com o golpe de Estado.
A dirigente Dolores Jarquin, da Via Campesina hondurenha, explica que o apoio ocorre por duas razões. “A primeira vez na história de Honduras em que os movimentos sociais foram escutados foi no governo dele. E também porque um golpe militar foi legalizado. Isso é voltar nos tempos, é um péssimo exemplo para os países da região”, declarou ao Opera Mundi, por telefone.
Os partidários de Zelaya são principalmente os movimentos sociais, membros do partido UD (Unificação Democrática), o único de esquerda do país, estudantes, indígenas, trabalhadores rurais e operários. As reações ao golpe militar acontecem em todo o país, principalmente no interior, onde está grande parte dos simpatizantes do presidente. Desde domingo, militares fecharam as ruas de Tegucigalpa para tentar impedir que os manifestantes cheguem à capital.
A militante Beatriz Gómez, da Confederação Unitária de Trabalhadores de Honduras, disse que a aproximação de Zelaya com os setores populares explica o apoio observado nas ruas. Aproximação que, segundo ela, teve início quando o presidente realizou uma inflexão à esquerda.
Zelaya, membro do Partido Liberal, é um político de centro-direita eleito com uma plataforma conservadora. Depois, aproximou-se de lideranças esquerdistas, como Hugo Chávez e Fidel Castro, e prometeu fazer um governo voltado para os mais pobres.
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Aumento salarial
Uma das medidas mais significativas do governo foi reajustar o salário mínimo. Segundo Beatriz, “foi o primeiro aumento que aproximou o salário mínimo da realidade”.
O valor atual é de 5.500 lempiras (611 reais) na zona urbana e 4.055 (450 reais) na rural – no Brasil, o salário mínimo é de 465 reais mensais. Desde 2006, o aumento foi de 60%.
Beatriz disse também que Zelaya teve uma atitude inédita diante das greves e manifestações. “Ele não dava ordem aos militares para conter os protestos, tentava o diálogo, e isso não era costume no país”.
Durante o governo de Zelaya, as greves não foram frequentes, mas manifestações como interrupção do trânsito de veículos na capital e paralisação de atividades aconteceram algumas vezes. O governo não teve o hábito de ordenar a mobilização de policiais ou do exército para conter as manifestações.
Saúde e educação
Beatriz e Dolores discordam da tese de que a mudança de Zelaya aconteceu mais no plano do discurso do que na prática, apresentada pelo cientista político Manuel Rojas, da Flacso (Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais) na Costa Rica, em entrevista ao Opera Mundi.
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Além do aumento do salário mínimo, elas apontam outras medidas que agradaram aos trabalhadores, como a reforma do sistema público de saúde e os programas de educação. “Ele criou os hospitais, programas preventivos, como o Saúde da Família, que não existia. Na educação, criou programas de alfabetização e programas de acesso à universidade”, disse Dolores.
Nos últimos anos, aumentou o número de unidades móveis de saúde e de programas preventivos em regiões afastadas. Isso permitiu controlar a malária e melhorar o saneamento público. No entanto, problemas como desnutrição e doenças infantis ainda existem em Honduras.
Na educação, implantou o método de alfabetização cubano chamado “Yo sí puedo”, desenvolvido para 5 mil jovens e adultos. Segundo a Unesco, 20% da população jovem e adulta hondurenha é analfabeta.
“Ele criou um estatuto para os docentes. Isso era reivindicado há aproximadamente 12 anos pelos professores. Foi uma das primeiras ações dele”, disse Beatriz.
De uma população de aproximadamente 7,640 milhões de habitantes, 53% vive na zona rural. Segundo a ONU, na zona urbana, 65,8% vive em condições de pobreza, sendo 36,7% em pobreza extrema. Na zona rural, os índices são de 77,7% e 67,9%, respectivamente.
Segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o desemprego em Honduras continua o mesmo desde que Zelaya assumiu a presidência; 28% em 2006, 27,9% em 2007, 27,8% em 2008.
Socialistas
A deputada pelo UD (Unificação Democrática) Silvia Bessy, que desde domingo participa das manifestações, disse que o partido está defendendo o presidente deposto por algumas “decisões corretas que ele tomou”. O UD é o único partido socialista de Honduras e originalmente não apoiava Zelaya. A cooperação começou com os conflitos com o Congresso, em novembro do ano passado.
Na avaliação dela, Zelaya recuperou a soberania nas relações exteriores. Silvia se refere à aproximação com Cuba e Venezuela, à entrada na Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) e no Petrocaribe, programa venezuelano que facilita a compra de petróleo por países da região. Leia mais sobre o Petrocaribe.
No Brasil, manifestaram-se a favor de Zelaya entidades como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Casa da América Latina e Morena-CB (Movimento Revolucionário Nacionalista-Círculos Bolivarianos).
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