As tensões entre Venezuela e Guiana, que disputam o território rico em petróleo Essequibo, se reacenderam nesta quinta-feira (08/02) após o presidente da petrolífera norte-americana ExxonMobil, Alistair Routledge, defender uma iniciativa das autoridades guianenses para fortalecer as relações bilaterais com países como os Estados Unidos.
Em declaração à imprensa, o executivo afirmou que a decisão da Guiana de melhorar as relações com países como os EUA em assuntos como defesa e segurança são um “bom presságio não apenas para o país, mas também para todo o hemisfério ocidental”.
“Penso que a colaboração que estamos vendo com outros países na frente militar, diplomática e econômica é uma coisa saudável”, afirmou.
Routledge, inclusive, explicou que a ExxonMobil planeja “perfurar 2 poços exploratórios ao oeste de Liza e Payara. O Pez Trompeta e a Polilla Roja estão planejados mais para o centro do Bloco Stabroek ao longo deste ano”.
A região é rica em petróleo e está no centro de uma disputa territorial entre a Guiana e a Venezuela. Essequibo pertence atualmente aos guianenses, mas o governo de Nicolás Maduro reivindica a posse da região.
Por sua vez, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, rejeitou as declarações dada pelo líder da ExxonMobil, destacando que os planos da empresa “pretendem proteger as suas operações ilícitas, em um mar que aguarda delimitação”.
Venezuela rechaza declaraciones amenazantes del pdte de la Exxon Mobil, Alistair Routledge. Esta trasnacional energética no solo se subroga la soberanía de Guyana, gobierna a las altas autoridades de ese país, alienta la ilegítima vía de la Corte Internacional de Justicia en… pic.twitter.com/eZ0mHLFm3j
— Delcy Rodríguez (@delcyrodriguezv) February 7, 2024
“A Venezuela rejeita as declarações ameaçadoras da Routledge”, acrescentou Rodríguez, observando que “esta transnacional energética não só assume a soberania da Guiana, mas governa as altas autoridades do país, encoraja o caminho ilegítimo do Tribunal Internacional da Justiça para prejudicar o acordo de Genebra, mas também procura proteger as suas operações ilícitas”.
Can Pac Swire/Flickr
Segundo presidente da ExxonMobil, empresa planeja "perfurar 2 poços exploratórios" na região de Essequibo
Rodríguez ainda afirmou que “a Venezuela não descansará na defesa de Essequibo e fará valer os seus direitos em todas as circunstâncias que surgirem”.
Disputa territorial
Venezuela e Guiana viveram uma escalada de tensões pela disputa pelo do território de Essequibo. Alvo de uma controvérsia que remonta ao século 19, a região voltou a ser reclamada pelo governo da Venezuela no ano passado. Em dezembro, os eleitores venezuelanos aprovaram, em referendo, a incorporação de Essequibo, que soma 75% da atual Guiana.
O território de 160 mil km² com uma população de 120 mil pessoas é alvo de disputa pelo menos desde 1899, quando esse espaço foi entregue à Grã-Bretanha, que controlava a Guiana na época. A Venezuela, no entanto, não reconhece essa decisão e sempre considerou a região “em disputa”.
Em 1966, as Nações Unidas intermediaram o Acordo de Genebra – logo após a independência da Guiana –, segundo o qual a região ainda está “por negociar”. Existem estimativas que a região dispõe de bilhões de barris de petróleo.
Em 15 de dezembro de 2023, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, se comprometeram a não usar a força um contra o outro para resolver a controvérsia. O Brasil ajudou a mediar o encontro e uma nova reunião entre os dois presidentes deve ocorrer até março deste ano para continuar as negociações.
No entanto, o acordo de não-violência foi abalado após um navio da Marinha britânica ser enviado à Guiana no dia 24 do último mês.
Caracas respondeu com exercícios militares e, em janeiro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, chegou a receber a visita do ultradireitista Mike Pompeo, ex-secretário de Estado dos EUA durante o mandato de Donald Trump e um dos principais idealizadores da política de “pressão máxima” contra a Venezuela.
(*) Com Agência Brasil, Ansa e Telesur