Os jornais franceses desta quarta-feira (31/01) se debruçam sobre o discurso do primeiro-ministro Gabriel Attal – seu primeiro pronunciamento desde que foi nomeado ao cargo, há quase três semanas. Chamado pela imprensa do país de “pupilo do presidente Emmanuel Macron”, ele apresentou seu plano de governo em meio a uma revolta dos agricultores do país, que seguem mobilizados.
“Gabriel Attal, na sombra de Emmanuel Macron” é a manchete do jornal Le Figaro que critica a falta de “audácia” do premiê “que visa mais a continuidade do que a ruptura”, avalia. Apelos repetidos à liberdade, insistência do “eu assumo” – um termo popularizado pelo “macronismo” – sob “um tom liberal” e a “exigência de autoridade”, afirmações feitas em um “ritmo de metralhadora”, descreve o conservador Le Figaro. Em menos de uma hora e meia, Attal “engoliu 56 páginas de discurso”, contabiliza o diário.
Diante da revolta dos agricultores, Attal se engajou a “rearmar” o setor, com medidas de urgência que não convenceram a categoria, publica o jornal econômico Les Echos. Entre as várias promessas, consideradas “vagas”, o premiê prevê desbloquear ajudas, a socorrer a área da viticultura – castigada pelas mudanças climáticas – e a colocar em prática um plano para garantir uma concorrência justa. No entanto, nenhuma das medidas parece ter seduzido os manifestantes, que dão continuidade os protestos.
Gabriel Attal/Twitter
"Gabriel Attal, na sombra de Emmanuel Macron" é a manchete do jornal Le Figaro que critica falta de "audácia" do premiê
Attal à direita
“Uma declaração de política liberal”, avalia o jornal Libération, afirmando que, com o plano apresentado, o premiê se posiciona claramente à direita. Supressão de uma ajuda aos desempregados, penas a menores delinquentes, uniformes nas escolas, com expressões exageradas “que suscitaram vaias da esquerda na Assembleia”, diz o diário progressista. “O discurso mais reacionário em um século”, avalia o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon.
“O mais difícil está por vir”, publica o jornal Le Parisien, ressaltando que “muitos franceses duvidam da capacidade de políticas que respondam às expectativas”. Em editorial, o diário critica a ausência de medidas do primeiro-ministro para questões-chave do momento, como valorização do trabalho, relaxamento das regras para a moradia social, imigração, educação e ecologia.
Em um momento em que os efeitos das mudanças climáticas são consideradas irreversíveis, o plano ecológico de Attal se resume na criação de um serviço cívico que terá a participação de 50 mil jovens. O anúncio não passou despercebido entre os ambientalistas. “Como ele pensa que isso poderá transformar setores inteiros da nossa economia?”, questiona Anne Bringault, da rede Ação Clima, em entrevista a Le Parisien.