Nos últimos oito anos, 52.941 pessoas desapareceram no México. Familiares de 22.322 deles ainda esperam resposta sobre o paradeiro dos parentes, segundo dados da Secretaria de Governo do Sistema Nacional de Segurança Pública, divulgados pela imprensa mexicana nesta sexta-feira (22/08). Os desaparecimentos são um dos maiores problemas vivenciados pelo México atualmente.
Cuartoscuro/Arquivo
Em 2012, a CNDH informou que 105.682 pessoas foram sequestradas e 4.007 casos de desaparecimentos forçados foram relatados
Todos os anos são feitas milhares de denúncias por familiares, mas dificilmente os casos de desaparecimento são investigados e solucionados e há grande dificuldade na contagem desses números, pois os dados não são coordenados pela esfera federal. De acordo com o órgão estatal, durante os governos de Felipe Calderón (2006-2012) e Enrique Peña Nieto, presidente desde 2012, 52.941 casos de desaparecimento foram denunciados. 30.619 pessoas foram encontradas com vida e 1.524 morreram.
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A subprocuradora Jurídica e de Assuntos Internacionais da Procuradoria Geral da República, Mariana Benítez Tiburcio, disse ao jornal mexicano La Jornada que o problema é uma herança do governo anterior.
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Análises internas do governo federal às quais o jornal teve acesso, no entanto, revelam a falta de comprometimento com que o caso foi tratado. De acordo com o periódico, 40% dos casos herdados pela atual gestão sequer haviam começado a ser investigados. Além disso, em 18% dos casos não havia nenhum documento que descrevesse pelo menos a causa do desaparecimento.
Federico Mastrogiovanni/Opera Mundi
Na Cidade do México, mães de desaparecidos realizam marcha em protesto contra falta de investigação dos crimes
O governo Peña Nieto afirma que a situação dos desaparecidos é “um compromisso prioritário”, mas, somente durante a atual gestão (de 1º de dezembro de 2012 a 31 de julho de 2014), foram denunciados os desaparecimentos de 23.234 pessoas. Destas, 13.444 foram localizadas, 95% com vida. Outras 9.790 seguem em paradeiro desconhecido.
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Mariana afirmou que entre as causas para o desaparecimento estão a ausência voluntária por problemas domésticos, privação ilegal de liberdade, migração e imigração, reclusão a algum centro penitenciário, morte ou outro delito.
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O governo está trabalhando em um “plano nacional de busca sistematizado” e anunciou a criação de uma rede nacional para a busca de pessoas, assim como mecanismos de “busca urgente”. Por hora, o governo implementou o sistema de busca de pessoas perdidas, mas na base de dados constam apenas 6.608 pessoas.
Divulgação
Sistema de busca por pessoas desaparecidas
Desaparecimento forçado e valas comuns
O país também enfrenta a problemática dos desaparecimentos forçados, caracterizado quando funcionários do governo atuam no sumiço de pessoas, como define a Convenção Interamericana sobre o Desparecimento Forçado de Pessoas, adotada em Belém do Pará, no Brasil, e assinada no México no dia 9 de junho de 1994.
A CNDH (Comissão Nacional de Direitos Humanos) informou que 105.682 pessoas foram sequestradas no México em 2012 – sendo 4.007 casos de desaparecimentos forçados. “Não é possível que esses sequestros tenham acontecido se funcionários que ocupavam cargos relevantes nas instituições policiais federais não estivessem envolvidos. Essa é a próxima premissa. Como diabos podem acontecer mais de 100 mil sequestros e a Polícia Federal não os investigou? Não pode ser. O trabalho precisa começar de dentro das corporações. E se não começamos por aí, não vai haver nenhuma estratégia que funcione. Nenhuma”, questiona o ativista social Eduardo Gallo, em entrevista a Opera Mundi.
Além disso, como não existe um registro federal único para estes dados, é impossível confrontar as denúncias de desaparecimento com os milhares de corpos que são encontrados enterrados em fossas comuns em todo o país. Todas as semanas dezenas de casos assim são relatados pela imprensa mexicana.