Antes da 15ª Cúpula do Brics, grupo composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os líderes dos respectivos países discursaram nesta terça-feira (22/08), no fórum empresarial à margem da reunião, realizada em Johanesburgo.
Confira as declarações mais destacadas dos chefes de Estado do bloco durante o evento:
#BRICS Business Forum – Leaders’ Session#BRICSSummit2023#BetterAfricaBetterWorld ? https://t.co/oVChf9I0uV
— Presidency | South Africa ?? (@PresidencyZA) August 22, 2023
Putin: queda ‘irreversível do dólar’
Presente em formato virtual no evento, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que “o processo de desdolarização do comércio no bloco é irreversível”.
“O processo objetivo e irreversível de desdolarização dos nossos laços econômicos está ganhando impulso, estão sendo feitos esforços para desenvolver mecanismos eficazes de liquidação mútua e de controle monetário e financeiro. Como resultado, a participação do dólar nas transações de exportação-importação dentro do Brics estão em declínio”, destacou o russo.
Putin também abordou a questão alimentar em sua fala, uma vez que Moscou foi alvo de criticas ocidentais após sair do acordo com a Ucrânia, mediado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Turquia, para facilitar o fornecimento de grãos para o mercado internacional em meio à guerra.
Segundo o Kremlin, os requisitos básicos para a manutenção do acordo não foram cumpridos e que pode retornar à iniciativa quando as condições russas forem aceitas por Kiev, como a liberação do fornecimento de amônia russa para a Europa através da Ucrânia, bem como a conexão do Rosselkhozbank (Banco de Agricultura da Rússia) ao sistema de pagamentos SWIFT, do qual foi desconectado devido às sanções do Ocidente.
Assim, Putin afirmou que a “Rússia apoia uma cooperação mais próxima para o fornecimento confiável e ininterrupto de recursos alimentares e energéticos”, e aproveitou para garantir que o país “continuará sendo um fornecedor confiável de alimentos para a África”, como declarado após a saída do acordo com a Ucrânia.
O discurso do presidente da Rússia também abordou temas como a questão climática e a cooperação de Moscou com os países componentes do Brics.
Xi Jinping: voz do Sul Global e relações com Pretória
Por sua vez, o presidente da China, Xi Jinping, apostou nas pautas de democratização das relações internacionais e multipolaridade do mundo. Suas declarações foram lidas no fórum empresarial pelo ministro do Comércio chinês, Wang Wentao.
Segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, o discurso de Xi enfatizou que a China, em conjunto com a África do Sul, devem “trabalhar para aumentar a representação e a voz dos países do Sul Global na governança global”.
Reconhecendo a “influência global” que Pequim e Pretória têm, o mandatário reconheceu que seus países precisam ser “parceiros de desenvolvimento e progredir juntos”.
Xi também mencionou a adesão de novos membros ao Brics, pauta que está em discussão na Cúpula que acontece na África do Sul.
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Presidente da África do Sul e anfitrião da Cúpula do Brics, Cyril Ramaphosa
“Continuaremos a aprofundar a parceria estratégica do Brics, expandir o modelo Brics Plus, promover ativamente o fornecimento de bens, ampliar a solidariedade e a cooperação com outros mercados emergentes e países em desenvolvimento, promover o mundo multipolar e a democratização das relações internacionais”, afirmou.
Contrariando críticas sobre uma crise econômica na China, o presidente afirmou que a economia de Pequim é “resiliente e que os fundamentos para seu crescimento de longo prazo permanecem inalterados”.
Ramaphosa: denúncia contra instituições financeiras globais
O presidente da África do Sul e anfitrião da Cúpula do Brics, Cyril Ramaphosa, denunciou “a nova onda de protecionismo e o consequente impacto de medidas unilaterais incompatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), que prejudicam o crescimento e o desenvolvimento econômico global”.
Em contraponto, defendeu um “sistema multilateral de comércio que apoie uma agenda de desenvolvimento” e exigiu uma reforma fundamental das instituições financeiras globais “para que possam ser mais ágeis e responsivas aos desafios enfrentados pelas economias em desenvolvimento”.
Ramaphosa também apontou para as “grandes oportunidades” de industrialização existentes no continente africano como uma região rica em minerais essenciais.
“A África tem uma população jovem, conectada digitalmente e em urbanização, que oferece uma força de trabalho estável para as empresas no futuro. O investimento no desenvolvimento de competências é crescente”, declarou o presidente.
Modi: esperança na economia mundial
Já o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, falou sobre as “reformas econômicas” no fórum empresarial do Brics, de acordo com o jornal The Times Of India.
“A Índia será o motor de crescimento do mundo porque transformou a calamidade e os tempos difíceis em reformas econômicas. Nos últimos anos, a facilidade de fazer negócios na Índia melhorou devido ao trabalho realizado”, declarou o mandatário.
Modi também apontou para a importância do bloco dentro da economia mundial: “em 2009, quando foi realizada a primeira cúpula do Brics, o mundo estava saindo de uma grande crise econômica. Naquela época, o bloco emergia como um raio de esperança para a economia mundial”.
Lula: contra o ‘neocolonialismo verde’
Já o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar sobre o “neocolonialismo verde” praticado pelos países da Europa. “Não podemos aceitar a imposição de barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob o pretexto de proteger o meio ambiente”, afirmou o presidente, no mesmo tom de seu discurso no encerramento da Cúpula da Amazônia no início de agosto.
O brasileiro também discursou sobre a reaproximação de Brasília com os países do continente africano. De acordo com Lula, desde sua posse em janeiro, o Brasil retomou parcerias com os Estados Unidos, a China e a União Europeia, mas faltava “o retorno à África”.
Direcionando seu discurso aos empresários presentes no fórum, o presidente afirmou que “o dinamismo da economia está no Sul Global e o Brics é sua força motriz”, e que o Novo Banco de Desenvolvimento é um marco na colaboração entre as economias emergentes.
(*) Com Agência Brasil, Ansa, Brasil 247, Brasil de Fato e Sputniknews