O historiador e analista político cubano Ernesto Limia descartou, em entrevista à La Iguana Televisión, publicada nesta segunda-feira (12/07), a possibilidade de um possível “golpe suave” que possa desestabilizar o governo de Cuba.
Segundo Limia, quem acredita em tal possibilidade “não conhece o povo” da ilha caribenha, o país e sua história.
“Quem pensa que em Cuba há viabilidade para isso [golpe suave] é porque não conhece o país. […] Essas manobras são feitas em um momento de mudança de liderança. Eles apostam no cansaço do povo. Quando tudo foi bagunçado, a resposta foi convocar uma greve geral, mas o país hoje está completamente normal”, afirmou.
A entrevista com o historiador acontece após Cuba registrar protestos que afetaram a vida cubana e que ganharam repercussão internacional. No último domingo (11/07), entre 200 e 400 pessoas, segundo os próprios manifestantes, ocuparam o centro de San Antonio de los Baños, a partir de uma concentração na praça da Matriz.
Organizações da oposição cubana, sediadas em Miami, afirmam que as mobilizações alcançaram mais de 15 cidades. Os registros do governo cubano apontam para oito municípios, incluindo Havana, capital do país.
Para Limia, esses atos foram “manipulações” de contrarrevolucionários “muito ativos e mentirosos” que tentaram “converter os protestos em atos de oposição à Revolução”. “Os delinquentes em Cuba são valentes até o povo sair às ruas, porque eles não têm princípios e nem valores”, afirmou.
Durante a conversa, o La Iguana TV aponta ainda para a superação deste episódio. De acordo com o historiador, “qual país resolve o problema em menos de doze horas sem mortes, sem feridos, sem tanques de guerra e sem jatos de água?”. “Aqui há uma consciência política cultivada faz muitos anos. É certo que há mudanças geracionais, pessoas criadas nos últimos anos, que têm sido muito duros. Houve uma crise econômica prolongada e severa, mas a consciência prevalece”, disse.
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Registros do governo cubano apontam que houve protestos em oito municípios, incluindo Havana
Segundo ele, a contrarrevolução em Cuba “é mínima”. Para provar seu ponto, o historiador recorda que na votação popular para a nova Constituição, em 2019, 86% da população esteve a favor de manter o enfoque socialista do país. 14% não votou a favor da Carta Magna.
“É dizer que de 11,5 milhões de habitantes, cerca de um milhão de pessoas, não respaldam ao socialismo”, declarou Limia.
O analista também indicou que isso não siginifica que os 14% sejam contrarrevolucionários, mas que “não possuem ideias da vanguarda, dos mais radicais”. “86% é um bloco muito forte, muito maior dos que existem em outros países com processos radicais, que quando vão às eleições ou referendos alcançam cerca de 60% ou 65%. Aqui há 86%”, disse o cubano afimando que uma possível queda dessa porcentagem se deve ao “recrudecimento brutal do bloqueio norte-americano”.
Joe Biden e Estados Unidos
Questionado sobre a nova administração norte-americana com a liderança de Joe Biden, Limia afirmou que, até o momento, o democrata “não cumpriu com suas promessas de revisar a situação do bloqueio econômico”, pois estaria “focado em uma agenda interna e aposta em nós para nos ajoelharmos ou cairmos, com extraordinário oportunismo e cinismo”.
“Em questões diplomáticas, trabalhamos com serenidade. Biden vai continuar descendo o caminho de paralelepípedos, rarefeito e tenso do governo Trump ou vai mudar de método, com o mesmo propósito? Veremos. Não sei o que a leitura de Biden quer fazer desse fenômeno. Tem que esperar”, pontuou.
Limia, no entanto, recordou as sanções impostas pelo país nos últimos anos e a continuação de um embargo econômico que dura 60 anos, que em junho foi condenado pela 29ª vez pela Assembleia Geral das Nações Unidas.