Segunda-feira, 9 de junho de 2025
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O rali Dakar, disputado neste ano pela primeira vez na América do Sul, foi um verdadeiro “parto” para os franceses da Amaury Sport Organisation (ASO), acostumados com a ausência dos controles estatais do continente africano. A empresa – organizadora também do Tour de France, prova internacional de ciclismo – sentiu-se forçada a migrar seus negócios para o lado de cá do Atlântico por conta de uma ameaça terrorista da Al-Qaeda, interceptada pelos serviços de segurança franceses, em 2008. O Rally Dakar Argentina Chile 2009 começou no último dia 3 e termina dia 18.

O secretário de Turismo argentino, Enrique Meyer, conseguiu convencer os organizadores de que, em território sul-americano, seria possível realizar o famoso rali em condições que em nada deveriam às africanas, além de um importante apoio financeiro estatal e, claro, sem o risco de atentados.

A ASO se entusiasmou com a proposta. O diretor do rali, Etienne Lavigne, estimou que os apoios presidenciais bastariam para instalar na região um cenário semelhante ao africano. No entanto, a realidade foi outra. “Para nós, é algo novo porque na África tínhamos menos burocracia”, lamentou, decepcionado, a um jornalista da Reuters em dezembro.

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Lavigne não esperava ter de enfrentar obrigações fiscais, aduaneiras, de migrações, regulamentações aeronáuticas e aeroportuárias, viárias e comerciais, pouco usuais nos países africanos por onde o rali costuma passar. Durante algum tempo, os organizadores insistiram em operar a logística aérea nas pistas precárias de aterrissagem e outras manobras perigosas.

O almirante chileno Roberto Marceli, responsável pela logística estatal, foi contundente quanto às declarações de Lavigne: “No Chile, a diferença em relação ao norte da África é que um acidente fatal é algo inaceitável”, assinalou em uma reunião de trabalho no dia 10 de dezembro com os franceses.

A ASO, que tem um quarto do capital nas mãos do gigante midiático francês Lagardère, foi seduzida fundamentalmente pelo apoio financeiro de ambos os governos. O Estado argentino, sozinho, gastou no rali mais de US$ 5 milhões. No entanto, as províncias argentinas por onde passa a prova não cumpriram com a promessa de destinar subsídios ao evento. As complexidades enfrentadas pela organização – o rali mobiliza 820 veículos, entre competição e apoio – foram compensadas pela oferta de dispositivos logísticos e de segurança estritamente estatais, sobre os quais se instalou o esquema privado.

De volta ao Saara em 2010?

Para o transporte diário de 500 pessoas de um ponto a outro na Argentina, foi criado um comando operacional de tipo militar dependente do Estado Maior Conjunto, a cargo de dois aviões Hércules C-130, dois Fokker F-27 da Força Aérea e dois helicópteros do Exército.A esse esquema aéreo, juntaram-se oito helicópteros do tipo B3 contratados no Chile, encarregados das filmagens e das operações médicas de urgência, quatro helicópteros do Exército argentino, responsável pela segurança e pelo combate ao terrorismo. Quatro aviões executivos transportam os diretores da organização e outros quatro servem de antenas transmissoras para as comunicações.

Na África, as coisas são mais simples e, sobretudo, mais econômicas, explicaram a Opera Mundi membros da ASO. Segundo eles, haverá esforços para que o rali volte à África em 2010. A competição, criada em 1977, leva uma marca colonialista impossível de ser recriada nas nações modernas.

A direção de prova reconheceu, por e-mail, que o trabalho administrativo para organizar o rali na América do Sul é muito mais intenso que na África, mas garantiu que isso não prejudicou nem atrasou a preparação, “em nenhum momento”.

 

Afirmou ainda que não procede a informação de que províncias argentinas não cumpriram com a promessa de destinar subsídios ao evento. “Recebemos apoio total de ambos os governos, tanto a nível nacional quanto provincial”.

Confira o trajeto da prova e um vídeo que retrata o aspecto colonial de quem “descobre” a América.

Rali Dakar na América: franceses não esperavam tantas perguntas

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