O aumento da participação de capital financeiro estrangeiro no Brasil vai beneficiar os investidores de maneira geral e as empresas com capital na Bovespa, mas deve prejudicar aqueles que têm atividades atreladas ao dólar, como os exportadores. Essa é a avaliação de especialistas entrevistados pelo Opera Mundi, diante da notícia do aumento recorde de recursos estrangeiros no país.
O BC (Banco Central) divulgou hoje (24) que a entrada de investimentos vindos do exterior no mercado acionário brasileiro somou 9,7 bilhões de dólares em outubro. É o maior valor desde 1947, quando começou a série histórica da autoridade monetária no país.
Além disso, o BC informou que houve o investimento de 4,74 bilhões de dólares em ações brasileiras no exterior, as chamadas ADRs (American Depositary Receipts) no mês passado. Juntos, os investimentos em ações no país (9,7 bilhões de dólares) e em ADRs de empresas brasileiras no exterior (4,74 bilhões de dólares), totalizaram 14,44 bilhões de dólares em outubro deste ano.
O forte ingresso de capital no país no mês passado foi influenciado pelo lançamento de ações do banco Santander, no início de outubro, ressaltou o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. A operação contribuiu para a entrada de, pelo menos, 4,1 bilhões de dólares no mercado acionário brasileiro em outubro.
Mas, além da abertura das ações, outro fator que motivou os investidores estrangeiros foi a qualidade da economia brasileira, considerada “sólida”, afirmou o economista Alberto Ramos, sênior para América Latina do banco de investimentos Goldman Sachs. Em entrevista desde a sede em Nova York, ele explicou que o mercado financeiro é o setor que mais atrai os investidores para o país.
“O Brasil tem uma configuração atraente. É uma economia boa, que está crescendo, e tem uma taxa de juros igualmente atraente”, disse.
O economista Ricardo Araújo, professor de finanças da FGV do Rio de Janeiro, tem opinião semelhante. “O Brasil está entrando em um longo ciclo de crescimento econômico, e é atualmente o país mais procurado em termos de aplicação no mercado acionário”, disse.
Segundo Araújo, o atual ritmo de entrada de capital estrangeiro é “um caminho sem volta”, pois se tornou uma tendência que deve durar em médio prazo e que está mantendo os pregões da Bovespa em alta. E, com o aumento do capital vindo do exterior no mercado acionário brasileiro, é um consenso entre os economistas que a demanda pelas ações vai aumentar, valorizando os papéis. Uma consequência direta é o lucro para aqueles que compraram papéis no mercado financeiro paulistano; desde os pequenos investidores, como pessoas físicas, que representam atualmente 555 mil contas da Bovespa, aos grandes acionistas, responsáveis por 70% do volume da bolsa.
“O capital vem com a finalidade de comprar ação brasileira, ou de investir diretamente nas empresas, que têm um ótimo nível de geração de lucro”, disse. Ele ressaltou que não há um setor único da Bovespa responsável pela atração de investidores, mas que os destinos são “diversificados”.
Para as empresas, além dos investimentos e valorização dos papeis, outra consequência é o aumento da facilidade do acesso ao financiamento, explicou Alberto Ramos.
“Para o governo, [o ingresso] é ótimo, pois consegue financiar taxas mais baixas”, completou. Ao contrário do economista da FGV, ele acredita que é difícil prever se o aumento dos investimentos externos vai se tornar uma tendência.
A entrada de capital externo, o acúmulo de pontos na Bovespa e a redução da taxa de câmbio são uma boa notícia para os investidores e acionistas, mas, para os exportadores brasileiros, o fato não é positivo. A valorização do real frente ao dólar torna o produto brasileiro mais caro, e, na avaliação de Araújo, deve provocar queda nas exportações.
Para ele, outro índice divulgado hoje já reflete a valorização da moeda brasileira. A média diária exportada pelo Brasil na terceira semana de novembro, que somou 581,4 milhões de dólares, 11% menos em relação a média de 653,6 milhões de dólares na segunda semana do mês.
Junto à divulgação do dado, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, alertou que o Brasil terá retração acima de 20% nas exportações. Durante o 29º Encontro Nacional de Comércio Exterior, na Fierj (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Barral atribuiu a queda à crise financeira internacional.
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