A República Dominicana fechou por tempo indeterminado a fronteira com o Haiti, ampliando o isolamento do país vizinho, que vive uma grave crise humanitária. Gangues armadas já controlam a maior parte da capital Porto Príncipe, situação que leva muitos haitianos a tentar sair do país.
O governo dominicano alega que tomou essa decisão por discordar de um plano para desviar águas de um rio comum, chamado Massacre, que violaria o acordo de fronteira. Trata-se de um projeto privado, que não conta com aval das autoridades haitianas e teria como objetivo vender água a agricultores. O Haiti acusa a decisão de ser unilateral, já que os dois países têm conversado sobre o conflito e buscado soluções.
A República Dominicana fechou sua fronteira com o país vizinho pela última vez após o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, em 2021. Desde então, o presidente dominicano, Luis Abinader, tem bloqueado ocasionalmente partes da fronteira e começou a construir um muro entre os dois países.
Com apoio de parte da população, o governo dominicano adota uma política de baixa tolerância contra imigrantes haitianos, que chegam num volume de 250 a 300 por dia, segundo estimativa de ONGs locais. Na última segunda-feira (11/09), a emissão de vistos para haitianos foi suspensa.
De acordo com especialistas da ONU, mulheres gestantes e puérperas que buscavam atendimento médico na República Dominicana teriam sido presas enquanto realizavam exames e deportadas. Além de serviços básicos, como saúde, haitianos cruzam a fronteira em busca de voos, já que poucos partem do Haiti.
Wikicommons
República Dominicana fechou fronteira com país vizinho pela última vez após assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, em 2021
“A República do Haiti tem soberania sobre a exploração de seus recursos naturais. Assim como a República Dominicana, com a qual compartilha o rio Massacre, ela tem o pleno direito de fazer captações (retiradas de água) ali, de acordo com o acordo (bilateral) de 1929. O governo da República do Haiti tomará todas as medidas necessárias para proteger os interesses do povo haitiano”, disse o governo haitiano em um comunicado.
Histórico e discriminação
Há meses, a República Dominicana vem tentando impedir a migração de haitianos. Inclusive, a posição do país no Caricom (Mercado Comum e Comunidade do Caribe) é que “os Estados Unidos e outras potências deveriam intervir no Haiti”.
O relacionamento entre os vizinhos sempre foi turbulento. Há uma discriminação forte por parte de uma parcela dos dominicanos, o que gera terreno fértil para uma propaganda que diz que “o Haiti invade a República Dominicana”.
A ditadura de Rafael Trujillo na República Dominicana (1930-1961) sempre foi contrária ao Haiti. Em 1937, ele organizou um massacre contra os haitianos e todos os negros que se pareciam com haitianos, alegando que havia o perigo de a República Dominicana se tornar “haitianizada”. Grupos de ódio contra haitianos se formaram na época.
Em 2015, o governo dominicano, então sob comando de Danilo Medina (2012-2020), alegou que os haitianos estavam entrando na República Dominicana “como se estivessem na sua própria casa”.
Cuba
A fronteira fechada para haitianos deverá respingar em Cuba, onde existe uma grande comunidade haitiana, que vem crescendo nos últimos anos, com o agravamento da crise. Em geral, os haitianos são bem recebidos, inclusive como força de trabalho em potencial. No entanto, Cuba tem dificuldade para gerenciar o fluxo de pessoas, consequência da crise econômica do país.
Embora Cuba mantenha uma política de “compartilhar o que tem e não apenas o que sobra”, o país tem enfrentado crises energéticas e dificuldades no fornecimento de produtos de primeira necessidade.