A formação governista Rússia Unida teve uma ampla vitória nas eleições regionais realizadas neste domingo (14/10) no país, marcada pela apatia dos cidadãos e por graves denúncias de irregularidades.
De acordo com os números divulgados nesta segunda-feira (15/10) pelas autoridades russas, nas cinco regiões do país, os candidatos do partido liderado pelo presidente, Vladimir Putin, derrotaram com folga seus rivais. A Rússia Unida também venceu a votação nas seis das 83 entidades federadas que elegeram assembleias legislativas regionais.
As eleições deste domingo foram as primeiras desde 2004. Há oito anos, Putin promulgou uma lei que acabou com as eleições diretas para governadores das províncias russas, alegando que seria uma “maneira de evitar separatismos e crimes”. A medida foi tomada após o ataque a uma escola na cidade de Beslan, no mesmo ano, quando um grupo terrorista manteve 1127 pessoas como reféns durante dois dias e o episódio terminou com a morte de 331 cidadãos.
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As eleições de domingo foram as primeiras desde a reforma política impulsionada por Medvedev antes de deixar em maio a presidência da Rússia, que liberalizou os requisitos para o registro dos partidos e a inscrição das candidaturas eleitorais.
A lei foi amplamente criticada pela oposição, mas somente no início de maio deste ano o ex-presidente e atual primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, aprovou uma nova resolução que garantiu eleições regionais diretas.
As mudanças foram introduzidas depois dos protestos que explodiram após as eleições parlamentares de dezembro de 2011, denunciadas como fraudulentas de maneira unânime por todas as forças opositoras.
“Não temos medo da democracia. Necessitamos dela para ser mais fortes”, disse ontem à noite Medvedev, após destacar que embora mais partidos políticos tenham participado destas eleições do que das parlamentares de dezembro do ano passado, a Rússia Unida conseguiu melhores resultados.
A oposição faz uma leitura distinta do pleito e destaca a baixíssima participação dos russos, que em algumas regiões como Krasnodar não chegou a 30%, o que demonstra a desconfiança dos cidadãos nos processos eleitorais devido às fraudes.
“O movimento de protesto não é só em Moscou: no interior as pessoas não foram votar para expressar seu descontentamento”, declarou ao jornal “Kommersant” o vice-presidente da Duma (Câmara dos Deputados), Igor Lebedev, do ultranacionalista Partido Liberal Democrático.
O legislador disse que o ocorrido neste domingo é um sério aviso às autoridades e acrescentou que “o partido governante repete todos os erros do Partido Comunista da União Soviética, que consistiram na usurpação do poder”.
“As autoridades montaram uma nova trincheira defensiva. Se antes não permitiam concorrer nas eleições; agora, por uma parte, deixam, mas por outra diminuem a participação e aperfeiçoam as tecnologias de fraude”, disse Mikhail Kasianov, ex-primeiro-ministro russo e dirigente opositor liberal.
Imediatamente depois do fechamento dos colégios eleitorais, o PCR (Partido Comunista da Rússia), uma das principais forças opositoras, declarou que tinha documentado “cerca de 400 irregularidades graves”.
“Não deixaremos impune nenhuma violação à legislação. Lutaremos por cada sufrágio dos eleitores”, afirmou em entrevista coletiva o secretário do Comitê Central do PCR, Sergei Obujov.
O dirigente comunista também se referiu à baixa participação no pleito, o que classificou de “boicote” e “amostra de desconfiança em todo o sistema eleitoral”.
Já o presidente do partido social-democrata Rússia Justa, Nikolai Levichev, também denunciou fraudes e destacou que na opinião dos dirigentes regionais de sua formação, uma das quatro com representação na Duma, nunca antes tinham ocorrido tantas irregularidades.