O número de trabalhadores franceses remunerados com o salário mínimo nunca foi tão alto no país. As desigualdades no poder de compra dos franceses causam revolta na população e preocupação no governo. Após dois anos de forte inflação, a queda do poder aquisitivo dos franceses e o aumento dos preços são temas centrais da campanha para as eleições do Parlamento Europeu, em junho.
O crescimento do número de pessoas obrigadas a viver com um salário mínimo, cerca de R$ 7.500 líquidos por mês (€ 1.398,69), agrava as fraturas sociais na França, segundo uma reportagem do jornal Le Monde.
Mais de um em cada cinco trabalhadores (17,3%) é afetado por essa realidade no setor privado não agrícola, o que representa uma alta de 1 milhão de trabalhadores entre janeiro de 2021 e janeiro de 2023. Apesar de o salário mínimo ser indexado à inflação e ter sido reajustado oito vezes nesse período, não acompanhou o aumento do custo de vida, o que acentua a sensação de estagnação e de rebaixamento social, explica o veículo.
Há seis dias, agricultores franceses bloqueiam parcialmente estradas no sul do país em um movimento social que é permeado por esse sentimento de declínio econômico. Os manifestantes reivindicam uma simplificação administrativa, nenhuma nova proibição de agrotóxicos, zero aumento nos preços do diesel usado em tratores, rápida indenização contra secas e inundações e uma rigorosa aplicação da lei que obriga a indústria e as redes varejistas a pagar corretamente pelos produtos agrícolas.
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Agricultores franceses bloqueiam estradas no sul do país em um movimento social contra declínio econômico
Na década de 1970, a França tinha 1,5 milhão de propriedades rurais mantidas por famílias; hoje, elas não passam de 400 mil. Atualmente, a queda da renda é a principal preocupação da profissão. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas, o rendimento médio das propriedades agrícolas francesas, que costumam passar de pais para filhos, de geração em geração, recuou 23% entre 1997 e 2018.
Diferenças salariais entre agricultores
Entre os agricultores franceses existem importantes diferenças salariais. De acordo com reportagens do portal de notícias France Info, um produtor de frutas e legumes pode faturar até € 2.400 euros por mês, enquanto os criadores de bovinos ganham de € 800 a € 1.400 euros mensais. Entre aqueles que criam cabras e carneiros, a remuneração pode cair ainda mais, a € 500 por mês. Com esse baixo nível de remuneração, muitos proprietários não conseguem pagar um trabalhador para ajudá-los no campo.
Jovens agricultores mobilizados nas estradas relatam um profundo desânimo e ressentimento por não serem reconhecidos, quando trabalham até 70 horas por semana para embolsar uma quantia miserável no final do mês.
Tanto na cúpula do governo quanto no Ministério do Interior, à frente do policiamento nas manifestações, ninguém subestima as proporções que uma mobilização de trabalhadores rurais pode assumir na França, quinto exportador mundial de produtos agrícolas, assinala o Le Monde.
Da Holanda à Romênia, passando pela Polônia e pela Alemanha, parte da Europa enfrenta há várias semanas protestos de agricultores revoltados com o peso dos encargos financeiros e das normas ambientais que são obrigados a respeitar. O presidente Emmanuel Macron sublinhou, já na terça-feira, 16 de janeiro, a necessidade de acompanhamento dos trabalhadores do setor para enfrentar a transição climática.