A baixa produção nas fábricas japonesas não só tem levado os brasileiros a perderem seus empregos, como tem provocado a evasão escolar entre os filhos desses imigrantes. Segundo levantamento da Associação das Escolas Brasileiras no Japão (AEBJ), o número de crianças e adolescentes matriculados nos colégios filiados à entidade caiu de 40% a 60% entre janeiro e março deste ano.
Antes de a crise chegar às linhas de produção, o Ministério das Relações Exteriores do arquipélago calculava a existência de 32 mil estudantes de origem brasileira nas salas de aula, segundo dados de julho de 2008. Atualmente, 110 escolas brasileiras funcionam no país, mas apenas 53 são reconhecidas pelo Ministério da Educação do Brasil. “Todas as empresas estão operando no vermelho, não sei até quando iremos aguentar”, lamenta a presidente da AEBJ, Julieta Yoshimura.
No momento, a entidade briga para que o governo japonês reconheça essas escolas como instituições de ensino (chamadas de kakushu gakko), o que permitirá que elas recorram a benefícios fiscais, recebam doações e outros benefícios garantidos ao setor. De acordo com a agência de notícias Kyodo, 97% dos colégios direcionados a estrangeiros no Japão são específicos para latino-americanos.
Paliativos contra a crise
Desde que a avalanche de cortes abateu as indústrias do país, apenas uma escola brasileira fechou as portas. Mas com a chegada do mês de abril, as entidades passaram a se temer o “efeito dominó”, já que muitos brasileiros acabaram de receber a última parcela do seguro-desemprego. Com o fim do benefício, a evasão escolar só tende a crescer daqui para frente.
A mineira Patrícia Sassada Arakaki, 29, está entre os milhares de imigrantes que têm apelado para dar continuidade à educação do filho. Apesar de não trabalhar em fábrica, a cabeleireira viu sua clientela ser reduzida em cerca de 90% com a crise. Por conta disso, ela já pediu desconto na instituição onde o filho Gabriel, de sete anos, está matriculado.
“Fui conversar com o diretor e ele foi muito educado, mas disse que tinha dado um abatimento de 10% para 130 crianças e que não poderia fazer mais nada. Eles preferem perder o aluno”, reclama Patrícia, que há cerca de um ano mora na cidade de Anjo, em Aichi, e já se organiza para voltar para Belo Horizonte com a família. “Conheço várias pessoas que retiraram os filhos da escola brasileira. A maioria está com as crianças em casa, pensando na melhor decisão a ser tomada.”
O impasse entre pais e escolas, contudo, tende a diminuir nas próximas semanas. Para garantir a presença dos estudantes em um período de baixa empregabilidade como o atual, instituições brasileiras vêm apelando para medidas paliativas, como sorteios de bônus, distribuição de bolsas de estudos e redução de mensalidades para filhos de pais desempregados.
A partir deste mês, as escolas Alegria de Saber e Mundo Novo, localizadas em cidades com grande concentração de dekasseguis (como Suzuka, Toyota e Toyohashi), diminuirão para cerca de 150 dólares o valor de parte das parcelas cobradas. O objetivo é trazer de volta os alunos que abandonaram o ano letivo por conta da demissão dos pais. Normalmente, a mensalidade numa dessas instituições passa dos 300 dólares.
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