Sem a conclusão das incessantes apurações envolvendo o suposto uso de drogas ilícitas na Coreia do Sul, o ator Lee Sun Kyun, que era investigado pela polícia há dois meses por suspeita de consumo de maconha e medicamentos psicotrópicos, tirou sua própria vida aos 48 anos.

O desaparecimento do ator e um bilhete deixado em casa chamaram a atenção. De acordo com o portal de notícias sul-coreano Yon Hap News, a polícia iniciou as buscas e encontrou o corpo do homem dentro de um veículo no Parque Waryong, em Jongno-gu, às 10h30 pelo horário local, nesta quarta-feira (27/12).

As últimas declarações de Sun Kyun foram dedicadas à esposa, por meio de uma carta deixada na residência: “acho que este é o único caminho”.

De acordo com a polícia, o suposto uso de drogas foi relatado pela primeira vez na mídia sul-coreana em 19 de outubro. Em seguida, o ator acabou sendo submetido a uma investigação preventiva por suspeita de violar a Lei de Controle de Entorpecentes.

Escândalos e uso político das mortes

Além de Lee Sun Kyun, o cantor G-Dragon e o ator Yoo Ah In também têm sido alvos das operações sul-coreanas “sem provas oficiais”. Há tempos os escândalos no “mundo dos famosos” envolvendo uso de drogas ilícitas na Coreia do Sul são alertados, por parte dos especialistas, a serem tratados com uma “atenção redobrada”, uma vez que o governo de Seul tem a tendência de usar as mídias estrategicamente para encobrir escândalos internos e a redirecionar os olhos do público a assuntos com potenciais de engajamento. 

O consumo de entorpecentes e produtos considerados ilegais no país asiático são pautas que, por questões culturais, chamam atenção e causam um intenso apelo à população, muito mais do que crimes sociais como racismo, xenofobia, machismo, entre outros.

Os internautas sul-coreanos interpretam a situação atual como “mais uma narrativa” adotada pelo governo de Yoon Suk Yeol em uma tentativa de ocultar um novo escândalo. Mídias independentes fazem menção especialmente à primeira-dama Kim Keon Hee, que foi flagrada por uma câmera escondida recebendo bens de alto valor, como bolsas e perfumes de luxo, por parte de um pastor. 

Segundo o portal sul-coreano NewSis, em outubro, Lee Kyung, vice-porta-voz permanente do Partido Democrata da Coreia, da oposição do governo de Yoon Suk Yeol, fez denúncias ao atual mandatário por meio de uma publicação em rede social. O texto em questão estava intitulado como: “Vou encobrir isso com artigos sobre drogas de celebridades”.

Na publicação, Kyung levantou suspeitas da época em que o ator Yoo Ah In também estava sendo acusado por uso de drogas ilícitas: “Em 1º de março, quando houve muito barulho envolvendo alegações de drogas contra Yoo Ah In, o presidente Yoon Suk Yeol havia feito um discurso com comentários pró-japoneses […] Yoon hasteou uma bandeira japonesa em um apartamento na cidade de Sejong […] A promotoria concluiu que não havia problema com o dinheiro do patrocínio de Kim Keon Hee [mesmo acusada por falsidade ideológica] para a empresa de planejamento de exposições Kobana Contents”.

A representante concluiu suas críticas dizendo que “não podemos mais ficar de braços cruzados assistindo às ideias ultrapassadas do governo Yoon que zombam do povo”, acrescentando o “impeachment” como uma solução para a população da Coreia do Sul.

Investigações sobre suposto uso de drogas ilícitas

Lee Sun Kyun passou por três intimações policiais, nas quais deu declarações como “achava que eram remédios para dormir” e “a única prova de que havia consumido drogas foi o depoimento do chefe do estabelecimento de entretenimento”. Ele também se comprometeu a dar toda a atenção ao prosseguimento das investigações. 

O Instituto Nacional de Ciências Forenses, que recolheu amostras de cabelo e outros itens do ator para uma avaliação detalhada, informou que todos os exames deram o mesmo resultado: negativo.

Pressionado, o sul-coreano chegou a pedir desculpas ao público, especialmente à esposa e aos dois filhos: “Peço sinceras desculpas por estar envolvido em um incidente tão infeliz, causando uma grande decepção a muitas pessoas […] Lamento pela minha família, que está enfrentando uma dor tão intensa neste momento. Trabalharei na investigação de forma honesta”.

Com a notícia da morte divulgada nesta quarta-feira, a polícia informa que o caso envolvendo o uso de produtos considerados ilícitos na Coreia do Sul será oficialmente encerrado. Outra autoridade policial lamentou o ocorrido, mas acrescentou que as investigações darão prosseguimento com “os outros suspeitos deste caso”, referindo-se a celebridades que também estão sendo acusados pela mesma razão no país. 

O ator sul-coreano Lee Sun Kyun foi reconhecido internacionalmente por seu papel em “Parasita”, vencedor do Oscar de melhor filme em 2020. Ele estrelou diversos filmes do renomado diretor Hong Sang Soo, mas foi com “Parasita”, sob direção de Bong Joon Ho, que conseguiu alcançar notoriedade internacional.