Na semana passada, quando o presidente Barack Obama se preparava para um discurso defendendo o fechamento da prisão da Base Naval de Guantánamo, a policia prendeu em Nova York quatro pessoas e as acusou de terem planejado explodir duas sinagogas no bairro do Bronx e um avião militar. Tudo em nome de Alá.
Não houve grandes explicações para o episódio. Somente uma coletiva de imprensa foi realizada pelo prefeito Michael Blommberg, o chefe da polícia e o procurador federal, que apresentou os homens no dia seguinte ante um juiz de Manhattan.
James Cromite, um dos acusados de planejar atentados contra duas sinagogas e um avião militar – William C. López/EFE – (21/05/2009)
O assunto não passaria de mais um episódio desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, se observadores imediatamente não estabelecessem um paralelo com o caso dos Cinco de Liberty City, presos em 2006 também sob a acusação de terrorismo, só que dessa vez tendo como alvo a Torre Sears, em Chicago.
Liberty City é um dos bairros mais pobres da área metropolitana de Miami, com uma população majoritariamente negra ou hispânica, onde são registrados diariamente casos de violência.
Os cinco foram presos no meio de uma algazarra publicitária da administração de George W. Bush, que organizou duas coletivas de imprensa ao mesmo tempo, uma em Washington com o então secretário da Justiça Alberto Gonzales, e outra em Miami com o procurador federal Alex Acosta. Ambos apresentaram o caso como uma grande vitória contra o terrorismo e o resultado de uma profunda investigação das autoridades que, explicaram eles , conseguiram infiltrar uma célula da Al Qaeda no sul da Florida.
Os familiares dos cinco avisaram desde o início que havia algo de errado, pois nenhum dos homens tinha relações com o mundo muçulmano e muito menos com uma organização terrorista. E quando o julgamento começou e o governo apresentou as provas, ficou claro para os jornalistas de que o caso tinha sido fabricado por um informante nunca identificado a serviço do FBI. O homem se aproximou dos homens, propôs a venda de armas e explosivos e até encenou uma cerimônia falsa de juramento de fidelidade a Al Qaeda, que foi filmada clandestinamente pelas autoridades.
Apesar de toda a publicidade, o júri não comprou a versão governamental. E não uma, mas sim por duas ocasiões, o juiz não teve alternativa que anular o julgamento. Os cinco foram eventualmente condenados no mês passado, em terceiro julgamento, desta vez não por terrorismo, mas sim por posse ilegal de armas.
Deja Vu
O caso agora dos “quatro de Nova York” não parece ser muito diferente. Segundo os procuradores, os quatro homens compraram explosivos, uma pistola e um míssil Stinger, com a intenção de explodir duas sinagogas e um avião militar, movidos pela fé em Alá.
E tal como aconteceu no caso de Liberty City, as armas foram fornecidas por um informante do FBI, que os ajudou a compor o plano de ataque
Os quatro presos também são negros, como os de Liberty City e foram identificados como James Cromitie, 44, que se converteu ao Islã na cadeia; David Williams, 28, cozinheiro de profissão e vendedor de drogas a domicílio nos tempos livres; seu irmão Onta Williams de 32 anos e o imigrante haitiano Lagueere Payen, 27, com antecedentes penais por assalto a uma loja e tido pelas autoridades como um doente mental.
Em poucas palavras, seus familiares comentaram à imprensa que os quatro não passam de um grupo de indivíduos sem a mínima idéia do que é o terrorismo.
“Meu irmão é o homem mais estúpido que há no planeta. E não digo eu, se não o conheço”, afirmou Wanda Walker, irmã de James Cromitie que, segundo a policia, é o chefe do grupo.
“Ainda estou à espera de como tudo isto vai acabar e qual será a explicação das autoridades. Isto para mim é piada. Ainda estou à espera de que [os policiais] saiam do armário com um câmara na mão e gritem,’ surpresa!’”, afirmou Walker.
Vários vizinhos disseram à imprensa que os irmãos Williams passavam a maior parte do tempo comendo churrasco e bebendo cerveja no jardim de Cromitie, no bairro de Newburgh, apesar de que o Islã proíbe o consumo de álcool e carne de porco.
Segundo a ata de acusação, os quatro estavam sendo vigiados de muito perto há um ano. Foram filmados, suas conversas gravadas e ao lado, também tinham um informante do FBI que diligentemente lhes satisfazia todas as vontades, incluindo a aquisição do tal míssil Stinger, que eles não sabiam que estava desativado.
“Eles eram como ratos de laboratório”, disse ao New York Post um policial ao descrever o modo tão próximo como as atividades dos quatro eram seguidas.
As autoridades admitiram que quando souberam que Cromitie manifestou na sua mesquita – não se sabe a quem – sua vontade de “fazer qualquer coisa contra os Estados Unidos”, depois que “o maior que se podia fazer, já foi feito”, ou seja a destruição do World Trade Center, em Nova York, a policia entrou em “pânico” e começou a segui-lo.
Mas em vez de o prenderem imediatamente, inclusive quando começaram a notar que se passeava pelos arredores de sinagogas e uma base militar, preferiram aproximar-lhe um informante que, não só estimulou seus desejos, como acabou lhe fornecendo o equipamento necessário para explodir as sinagogas e derrubar um avião militar.
O caso dos cinco da Liberty City caiu quando o júri realizou que as autoridades tinham empurrado o grupo pelo mau caminho. O mesmo pode acontecer agora em Nova York.
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