Dois atentados a tiros em Jerusalém deixaram sete israelenses mortos neste fim de semana, dias após uma incursão militar em Jenin, na Cisjordânia, que deixou dez palestinos mortos. A violência leva ao temor que um aumento das tensões entre israelenses e palestinos possa levar a um embate ainda maior.
Há meses o clima na região é de nervosismo, mas, na noite de sexta-feira, 27 de janeiro, aconteceu um dos mais sangrentos atentados contra israelenses dos últimos anos. Um atirador disparou indiscriminadamente contra um grupo de pessoas que estavam próximas a uma sinagoga no bairro de Neve Yaakov, no Norte de Jerusalém.
Doze pessoas foram atingidas e sete morreram, incluindo um menino de 14 anos. O ataque chocou o país e levou a uma reunião de emergência do novo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que tomou posse há apenas um mês.
Outro detalhe chocante é que 27 de janeiro é o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Isso levou líderes mundiais a condenar ainda mais o assassinato ocorrido justamente nessa data solene.
Mas, poucas horas depois, na manhã de sábado, dia 28, ocorreu outro ataque a tiros em Jerusalém. Dessa vez, um atirador disparou contra um grupo de israelenses, ferindo gravemente um pai e seu filho. Os dois estão internados, mas não correm risco de morrer.
Motivação
O primeiro atirador era um árabe-israelense de 22 anos, morador de Jerusalém Oriental. Ele foi morto por soldados quando tentava fugir. O segundo é um menino de apenas 13 anos, também um árabe-israelense. Ele foi ferido, mas sobreviveu.
É difícil dizer com certeza o que os motivou, mas provavelmente foram os anos de hostilidade do conflito entre israelenses e palestinos. Os cerca de 300 mil moradores árabes de Jerusalém se identificam, em geral, como palestinos, apesar de terem carteira de identidade israelense e de usufruir dos sistemas gratuitos de Educação e Saúde de Israel.
Alguns deles são incitados a atacar israelenses – civis ou militares – como um “gesto de heroísmo”, acreditando estar lutando, assim, pela causa palestina.
Nesse caso, os ataques terroristas ocorreram poucos dias depois de uma incursão militar de Israel na cidade de Jenin, na Cisjordânia. O exército alegou estar em busca de uma célula terrorista que iria cometer um atentado em Israel e foi detectada pela inteligência militar.
Mas os soldados foram recebidos a tiros por palestinos armados e, ao final de um embate, dez palestinos morreram, entre eles uma mulher civil não envolvida. A incursão foi criticada internacionalmente e levou grupos paramilitares palestinos, como o Hamas e a Jihad Islâmica, e jurar vingança.
Ray in Manila/Wikimedia Commons
Doze pessoas foram atingidas e sete morreram, incluindo um menino de 14 anos
Resposta forte
O primeiro-ministro Netanyahu prometeu uma resposta “forte, rápida e precisa” contra o terrorismo. Dezenas de palestinos foram detidos para investigação após os ataques. O Gabinete de Segurança de Israel aprovou uma série de medidas, entre elas expandir e agilizar a emissão de licenças de porte de armas para milhares de civis israelenses, principalmente paramédicos, os primeiros a serem informados e a chegarem a locais onde acontecem atentados.
O governo também anunciou que vai demolir em breve a casa onde o primeiro atirador morava. O objetivo é fazer com que possíveis atacantes pensem duas vezes antes de cometer atos terroristas.
Além disso, o governo anunciou que irá fortalecer os assentamentos israelenses na Cisjordânia, mesmo sem esclarecer como isso será feito. O ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, de extrema-direita, quer que o governo construa novos assentamentos na região em resposta aos ataques.
Mas a exigência é mais uma saia justa para Netanyahu, que está sendo pressionado a, por um lado, agradar seus aliados de extrema-direita e responder com punho forte a ataques terroristas e, por outro, manter um bom relacionamento com Estados Unidos e União Europeia, que consideram as colônias israelenses na Cisjordânia ilegais segundo leis internacionais.
Protestos contra o governo
Tudo isso acontece em meio a grandes manifestações públicas contra o governo Netanyahu, o mais direitista, nacionalista e religioso da história de Israel. Nas últimas quatro semanas, centenas de milhares de israelenses têm feito protestos e passeatas contra o governo. Eles reclamam principalmente dos planos do governo de enfraquecer a Suprema Corte e, em última instância, a democracia israelense.
Neste sábado, dia 28, cerca de 57 mil pessoas se reuniram em Tel Aviv para criticar os planos de reforma do sistema judiciário, que inclui a possibilidade de o governo anular facilmente decisões do Supremo com uma votação de maioria simples no Parlamento – ou seja, 61 dos 120 parlamentares. Isso daria à coalizão de Netanyahu, que tem 64 cadeiras, o poder de aprovar leis sem nenhuma oposição do Poder Judiciário.
Para muitos, o objetivo final seria blindar Netanyahu contra uma possível condenação nos três processos por corrupção que ele enfrenta.
No sábado anterior, cerca de 100 mil pessoas haviam protestado. Segundo os organizadores, o número caiu para 57 mil justamente por causa dos atentados em Jerusalém, que fizeram muita gente decidir dar uma pausa nos protestos. A manifestação, inclusive, começou com 1 minuto de silêncio em homenagem aos mortos.