Em meio à escalada de violência nos últimos dias, a Turquia decidiu subir o tom neste sábado (25/07), autorizando uma onda de ataques em países vizinhos. Além de bombardear pela terceira vez nesta semana o EI (Estado Islâmico), Ancara abriu uma nova ofensiva contra bases de um velho rival: a milícia separatista PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), no Iraque.
Considerado uma organização terrorista pela Turquia e pela Otan, o braço armado do PKK (HDP-G) declarou neste sábado que os bombardeios significam o “fim do cessar-fogo” entre a milícia e as forças de segurança turcas, reportou a Agence France Presse.
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EFE
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“Essas operações continuarão pelo ar e pela terra. Ninguém deve duvidar de nossa firmeza”, anunciou hoje o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, acrescentando que os ataques acontecerão enquanto houver “ameaça” ao país.
Após enfrentamentos entre o Exército turco e membros do EI na fronteira síria na quinta-feira (23/07), as forças turcas lançaram nesta madrugada seu primeiro ataque aéreo contra quartéis dos jihadistas em Aleppo.
Entretanto, a grande novidade é a nova operação contra acampamentos de refúgio e de depósitos de munições do PKK no extremo norte iraquiano, na região autônoma e rica em petróleo controlada pelos curdos.
Segundo o premiê turco, a campanha não só foi informada ao secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mas também foi apoiada por Massoud Barzani, presidente do Curdistão autônomo no Iraque, que expressou solidariedade a Ancara em sua luta contra o EI e o PKK.
EFE
DIversos grupos curdos na Turquia acusam governo turco de ser responsável por atentado suicida na fronteira com Kobani
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Tensão nos últimos dias
As operações militares coordenadas pelo governo turco ocorrem após uma onda de violência que atinge a região. Na segunda (20/07), um atentado suicida de um jovem turco matou mais de 30 ativistas pró-curdos na cidade de Suruç, perto da fronteira síria.
Os ativistas pretendiam cruzar a fronteira para prestar assistência humanitária à população de Kobani, cidade síria de maioria curda tomada por meses pelos milicianos do Estado Islâmico. Embora Ancara tenha atribuído a autoria do atentado aos jihadistas, nenhum membro do grupo reivindicou a ação.
No mesmo dia do ataque, militantes do PKK mataram em represália um policial turco durante enfrentamentos com forças de seguranças turcas na cidade de Adiyaman. A milícia ainda foi responsável pelo assassinato de dois policiais na quarta (22/07), executados enquanto dormiam em casa na cidade de Ceylanpinar. A justificativa do grupo foi de que os agentes “colaboravam com o Estado Islâmico”.
EFE
Atentado contra ativistas no início desta semana em Suruç deixou pelo menos 30 mortos e cem feridos
Há meses, a falta de ação da Turquia em relação aos atos perpetrados pelo Estado Islâmico em Kobani provocou a crítica da esquerda curda. Eles acusam o governo do presidente, Recep Erdogan, de “ter aberto a Turquia ao EI”.
A atitude passiva e relutante de Ancara perante o Estado Islämico também era duramente criticada por potências ocidentais. Em meio à intensificação da violência, a Turquia também decidiu hoje autorizar os EUA e outros países da Otan a utilizar suas bases militares — como a de Incirlik (sul) — em operações contra o EI.
Os novos bombardeios representam um novo capítulo de tensão entre o governo conservador turco e os separatistas do PKK, colocando em xeque o processo de paz estabelecido em 2012 . Com um longo histórico de conflitos, turcos e curdos protagonizaram uma guerra civil que teve início na década de 1980 que deixou 40.000 mortos.
EFE/ arquivo
Crianças sírias esperam autorização de governo turco para cruzar fronteira e fugir de Kobani onde estão ameaçados desde fim de 2014