A extrema direita do Chile saiu vencedora neste domingo (07/05) de uma eleição na qual foram escolhidos os 50 membros de um conselho que irá redigir a nova Constituição do país, em substituição à Carta Magna elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet.
Com mais de 99% do votos apurados, a legenda ultradireitista Partido Republicano (PR) obteve 35% de apoio e conquistou 22 das 50 vagas no Conselho Constitucional. A votação garante aos direitistas poder de veto durante a elaboração da nova Constituição.
O resultado é uma dura derrota para o presidente chileno, o esquerdista Gabriel Boric. A coligação governista de esquerda Unidad para Chile ficou em segundo lugar, com 28% dos votos e 17 assentos no Conselho Constitucional.
A coligação Chile Seguro, que reúne a direita tradicional, ficou em terceiro, com 21% dos votos e 11 assentos.
Em setembro do ano passado, uma primeira proposta de revisão da Constituição foi rejeitada em um plebiscito por mais de 60% dos eleitores.
Ultradireitista prega “novo começo para o Chile”
A ampla vitória da ultradireita chilena neste domingo ofuscou os partidos tradicionais de oposição, como a União Democrata Independente (UDI) e o Renovação Nacional (RN). As duas legendas integram a coalizão Chile Seguro, que conquistou metade dos assentos obtidos pelo Partido Republicano liderado pelo ex-candidato à presidência José Antonio Kast, derrotado por Boric nas eleições presidenciais de 2021.
Após as eleições, Kast, afirmou que “o Chile derrotou um governo falido”, que foi “incapaz de enfrentar a insegurança e a crise migratória”. “Hoje podemos respirar um pouco mais tranquilos, um pouco mais aliviados e dizer com responsabilidade e esperança que hoje é o primeiro dia de um futuro melhor para o nosso país, é o primeiro dia de um novo começo para o Chile.”
O ultradireitista disse que “não há nada para comemorar”, porque “o Chile não está bem”. Ele, porém, se disse satisfeito por sua legenda ter alcançado “uma meta importante”, na qual “triunfaram as ideias do bom senso”.
O Partido Republicano se opôs à mudança da Constituição da era Pinochet (1973-1990), que já foi parcialmente revista após a volta da democracia.
Esteban Felix/AP/dpa
Ultradireitista Partido Republicano, liderado por José Antonio Kast, desbancou legendas tradicionais de oposição no Chile
O cientista político Rodrigo Espinoza, da Universidade Diego Portales, alertou para o avanço na polarização política no país nos últimos anos. “Vemos, basicamente, o desaparecimento do centro. Podemos esperar uma política mais polarizada e, dessa forma, teremos um choque entre os debilitados progressistas e um crescente movimento conservador que tentará impor sua agenda.”
“Movimento pendular”
Em pronunciamento após as eleições, Boric lançou um apelo para que o Partido Republicano atue “com sabedoria e moderação” e evite cometer os mesmos erros do primeiro processo constitucional, dominado pela esquerda, que fracassou no plebiscito do ano passado.
A proposta inicial de revisão constitucional rejeitada era considerada uma das mais progressistas do mundo, ao estabelecer territórios indígenas autônomos e incluir a proteção do meio ambiente e a paridade de gênero
Boric afirmou haver um “movimento pendular” na política do país, que, segundo sua perspectiva, afeta os setores mais precários da sociedade. Ele também destacou a ausência de um movimento político de centro capaz de se tornar um ponto de equilíbrio.
Novo plebiscito
Os 50 conselheiros – 25 mulheres e 25 homens – tomarão posse no dia 7 de junho e terão cinco meses para redigir a nova proposta de Constituição, que será submetida a um plebiscito marcado para 17 de dezembro.
Além dos membros eleitos neste domingo, o conselho terá também a participação vinculativa de 24 especialistas designados pelo Parlamento – 12 pela Câmara dos Deputados e 12 pelo Senado.
A redação do texto partirá de um anteprojeto que inclui a menção do Chile como Estado unitário, assegura o Estado de direito social e democrático, o reconhecimento dos povos indígenas e a manutenção de instituições autônomas como o Banco Central.