Uma narrativa humanizada de Julian Assange, o criador do Wikileaks
'Ithaka: a luta de Assange' acompanha trajetória de John Shipton, pai do jornalista australiano, para evitar que filho responda acusações sobre atuação do Wikileaks nos Estados Unidos
“Um pai. Uma família. Uma luta por justiça”. Essa é a forma que o documentário sobre a trajetória do jornalista australiano e fundador do Wikileaks, Julian Assange, é descrita pela distribuidora Pandora Filmes, responsável por trazer o longa ao Brasil.
A descrição é sucinta e categórica para definir ithaka: a luta de Assange, que tem como personagem principal John Shipton, ativista e pai do jornalista, em uma narrativa humana da luta contra a prisão do fundador do Wikileaks no Reino Unido desde 2019 e sua iminente extradição para os Estados Unidos.
Combatendo na tentativa de intimidação contra novos “Assanges”, ithaka mescla a esfera política do caso, claramente existente, com a esfera humana, indissociáveis por sua natureza. A decisão do documentário é precisa uma vez que os crimes de guerra e humanitários cometidos pelos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão, que foram alvos das publicações do Wikileaks, também ultrapassaram as questões políticas dos países, afetando a população civil desses locais.
Confira a entrevista de Opera Mundi com John Shipton:
ithaka aposta na trajetória de um homem que está privado de sua liberdade “por falar a verdade”, que não convive com seu pai, nem com a esposa, a jurista sul-africana Stella Moris, e também não esteve presente no nascimento de seus dois filhos com Morris, salvo a uma videochamada feita da prisão de Belmarsh, em Londres, onde ele está detido.
Apesar da tentativa de uma narrativa humanizada, o documentário vai somando aspectos mais críticos ao processo do jornalista e a perseguição que muitos defendem que ele sofre. Em certo ponto da obra, Shipton declara a jornalistas na Inglaterra que “se ele [Assange] cair, o jornalismo também cairá”.
Pai de Assange, John Shipton, caminhando com esposa de Assange, Stella Moris, e os dois netos nascidos enquanto o jornalista estava detido em Belmarsh.
Isso por que, o ponto de discussão que rodeia o caso Assange é da liberdade de imprensa e do jornalismo investigativo. O Wikileaks é um site fundado por Assange em 2006 que publicou informações, conteúdos e documentos relevantes para o interesse público sobre assuntos sensíveis que foram deixados em confidencialidade por interesses maiores.
Reprodução
As acusações do governo norte-americano contra Assange são relacionados aos vazamentos de documentos do Pentágono sobre a atuação dos Estados Unidos no Iraque e do Afeganistão.
“Se ele [Julian Assange] cair, o jornalismo também cairá”, afirma John Shipton a jornalistas britânicos em cena do documentário
Um dos vazamentos específicos de Assange foi um vídeo do dia 5 de abril de 2010, no Iraque, onde um helicóptero do exército norte-americano atira à queima roupa contra um grupo de 11 pessoas em uma área sem qualquer indício de combate.
Nesta mesma linha, Daniel Ellsberg, militar norte-americano que divulgou arquivos do Pentágono sobre a guerra do Vietnã, afirmou que, caso Assange seja extraditado para enfrentar as acusações por tornar público tais documentos, “será o primeiro, mas não o último”.
O documentário sustenta a narrativa ao mostrar que a produção é um filme de apoio a Assange, enquanto busca também apontar que, caso novos jornalistas denunciem gravidades governamentais, em especial dos Estados Unidos, como o australiano fez, o que aconteceu com ele pode ser repetido.
O longa, como um serviço jornalístico, é uma rica fonte de informação para todos aqueles que não conhecem o caso de Assange ou até mesmo todas as decorrências que o caso teve até agora, funcionando como uma ótima linha do tempo.
Durante viagem ao Brasil para divulgar o documentário, Shipton disse a Opera Mundi sobre importância do apoio da comunidade latino-americana contra extradição de jornalista, destacando o papel do presidente Lula: “você não pode subestimar a importância da contribuição do presidente Lula a Julian”.
“Em Londres, algumas semanas atrás, em uma conferência de imprensa, o presidente Lula levantou a questão de Julian Assange e questionou por que a imprensa tem sido relutante ao perseguir o caso de Julian”, afirmou Shipton durante uma coletiva de imprensa no Petra Belas Artes, em São Paulo.
Na ocasião, o mandatário brasileiro falou sobre a “vergonha” de Assange ainda estar preso “condenado a morrer na cadeia”, criticando a imprensa e sua falta de ações para a liberdade do jornalista.
