A reunião extraordinária da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) não condenou a Colômbia por permitir que os Estados Unidos instalem bases militares em seu território, mas pressionou para que o presidente Álvaro Uribe aceitasse a inspeção desses locais por uma missão de países vizinhos, algo impensável até então.
“O resultado é dialético. É fato que não houve condenação, mas os presidentes exigirem de Uribe que abra as portas de seu país para investigarem o que há nessas bases, e ele aceitar, é um êxito maior do que se pensa”, avalia Pedro Brieger, jornalista argentino especializado em temas internacionais, referindo-se à reunião de cúpula da última sexta-feira (28), em Bariloche.
Brieger diz que uma condenação seria impossível porque “os estatutos da Unasul dizem que toda decisão deve ser obtida por consenso” e a Colômbia jamais assinará uma declaração contra si mesma. No entanto, isso não impede que cada presidente diga o que pensa nos debates.
“Evo Morales foi o mais claro e contundente de todos. Expressou seu repúdio, disse isso a Uribe, mas depois assinou o documento porque sabe da importância que tem a Unasul, viveu na própria carne quando sofreu a tentativa separatista do ano passado após o massacre na região de Pando”, declarou Brieger, sobre o confronto entre camponeses e adversários de Morales que resultou em 17 mortes em setembro do ano passado.
Assista a um vídeo que mostra debate entre Uribe e o presidente do Equador, Rafael Correa, durante a cúpula.
Sem divisão
Temeu-se pela integridade da Unasul diante de um tema tão complexo como o das bases, mas isso acabou não acontecendo. Brieger avalia que uma divisão no grupo não interessa a ninguém. “Convém aos Estados Unidos, mas mesmo a Colômbia, sua sócia, buscou evitar isso”, afirmou.
Juan Gabriel Tokatlian, professor especialista em ciências políticas e relações internacionais da Universidade de San Andres, em Buenos Aires, concorda com Brieger sobre a inviabilidade de uma fratura na Unasul. “O fato de que Uribe tenha aceitado o convite feito pela presidente [Cristina] Fernández [de Kirchner] indica que ninguém, como se diz vulgarmente, quer pular a cerca”, disse.
Isso se traduz, segundo ele, na demonstração de que, além dos discursos, das diferenças e do viés ideológico, “surgiu um documento de consenso, algo que a Quinta Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago, não conseguiu”. Ele disse também que a “América do Sul mostrou que tem uma capacidade de alcançar acordos mínimos. É algo bastante importante”.
NULL
NULL
NULL