Impulsionado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, um manifesto global foi lançado no final do mês de abril em apoio às faculdades de sociologia brasileiras após o Ministério da Educação anunciar corte de verbas nessa área acadêmica.
Assinado por professores, doutores, alunos, e diversas personalidades ligadas à sociologia ao redor do mundo, o documento se opõe “à tentativa do presidente Bolsonaro de não investir em sociologia ou qualquer outro programa nas humanidades ou ciências sociais”.
Leia o manifesto na íntegra:
Em 25 de abril, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, juntamente com seu ministro da educação, Abraham Weintraub, declarou a tentativa do governo de “descentralizar investimentos em filosofia e sociologia” nas universidades públicas e transferir apoio financeiro para “áreas que dão retorno imediato aos contribuintes”. como ciência veterinária, engenharia e medicina “.
Os autores, palestrantes, pós-graduandos, pós-doutorandos e outros acadêmicos em sociologia e disciplinas afins em faculdades e universidades dos Estados Unidos e do mundo todo, escrevemos para declarar nosso apoio inabalável ao financiamento contínuo de programas de sociologia nas universidades brasileiras. Nós nos opomos à tentativa do presidente Bolsonaro de desinvestir na sociologia, ou em qualquer outro programa nas ciências humanas ou sociais.
Como sociólogos históricos e contemporâneos, entendemos que a mercantilização de décadas do ensino superior convenceu muitos políticos – no Brasil, nos Estados Unidos e no mundo – de que uma educação universitária é valiosa apenas na medida em que é lucrativa. Nós rejeitamos essa premissa.
O objetivo do ensino superior não é produzir “retornos imediatos” sobre os investimentos. O objetivo do ensino superior deve sempre ser o de produzir uma sociedade educada e enriquecida que se beneficie do esforço coletivo para criar o conhecimento humano. O ensino superior é um propósito em si.
Uma educação em toda a gama de artes e ciências é a pedra angular da educação em artes liberais. Isso é verdade tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, assim como em qualquer outro país do mundo.
Os departamentos de sociologia brasileiros produzem pensadores socialmente engajados e críticos, tanto no Brasil quanto no mundo. Os sociólogos brasileiros contribuem para a produção global do conhecimento sociológico. Eles são nossos colegas dentro da disciplina e dentro de nossos departamentos e instituições compartilhados. Quando sociólogos do exterior realizam pesquisas ou outros trabalhos acadêmicos no Brasil, somos bem recebidos pelos sociólogos brasileiros e por seus departamentos. Muitos de nossos próprios alunos recebem treinamento de nível internacional em sociologia nas universidades brasileiras.
A tentativa do presidente Bolsonaro de desfalcar os programas de sociologia é uma afronta à disciplina, à academia e, mais amplamente, à busca humana do conhecimento. Esta proposta é mal concebida e viola princípios de liberdade acadêmica que devem ser parte integrante dos sistemas de ensino superior no Brasil, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Instamos o governo brasileiro a reconsiderar sua proposta.
Flickr/Ministério da Educação
Abraham Weintraub, ministro da educação, anunciou corte de investimentos em filosofia e sociologia