Seis meses atrás, Brasil e Argentina eliminaram o dólar das trocas comerciais bilaterais. O Uruguai, que não pretende aderir a esse tipo de iniciativa, prepara-se para implementar outro mecanismo de incentivo às transações entre os países latino-americanos.
O projeto, que está sendo desenhado desde 2005 e deve ser implantado em março, consiste na criação de uma rede público-privada de intercâmbios que elimine o dinheiro nas transações e o substitua por “unidades do sistema”. O foco são os pequenos empresários, que têm dificuldade no acesso ao crédito. Em vez de emprestar dinheiro, o Estado fornece tais unidades, em função da produção ou das vendas de cada empreendimento.
Com elas, as empresas podem pagar pelos serviços estatais (água, luz e telefone), fazer o recolhimento previdenciário ou comprar o combustível nafta em uma estação da empresa estatal Ancap (Administração Nacional de Combustíveis, Álcool e Portland). Também podem pagar por produtos ou serviços de outras empresas privadas. O custo do empréstimo é três vezes menor do que o praticado no mercado.
O mecanismo poderá se converter na base de um futuro sistema monetário comum para a região, disse ao Opera Mundi o ministro do Trabalho uruguaio, Eduardo Bonomi. Segundo ele, a meta é estendê-lo a outros países da região.
“Apresentamos este projeto para a Venezuela. O país tem interesse e disse que, caso ingresse, entram também Bolívia, Nicarágua e Cuba, a Alba em seu conjunto. As autoridades do Banco Central da Venezuela nos disseram que a eles interessa financiar [a produção] dessa forma por causa da queda do preço do petróleo”, explicou Bonomi.
A iniciativa não surgiu como resposta à crise econômica internacional, mas pode ser útil no contexto atual, já que os países da região começaram a sentir seus efeitos nos últimos meses de 2008 (leia reportagem sobre os efeitos da crise na Argentina).
Na última reunião extraordinária do Conselho do Mercado Comum – integrado pelos chanceleres e ministros da Economia do Mercosul –, que analisou os efeitos da crise, chegou-se à conclusão de que é necessário incrementar os fluxos de comércio e os investimentos entre os países do bloco, assim como coordenar os mecanismos monetários.
Em dezembro, em seu balanço como presidente temporário do Mercosul, o Brasil destacou que, no marco da atual crise, “o Sistema de Pagamentos em Moeda Local, recentemente adotado entre Argentina e Brasil, reduz os custos de transações, estimulando o comércio”, e expressou sua esperança de que “possam participar outros países da região”.
O Uruguai não pretende aderir. Prefere apostar no mecanismo alternativo. O ministro Bonomi afirmou que caso seja bem sucedida a implementação e conexão da rede em outros países da região, ele pode virar uma moeda alternativa que sirva de base para o sistema monetário comum que promove o Equador, por exemplo, e disse que o Paraguai também está interessado.
“Isso serve como moeda alternativa, porque não se empresta dinheiro e sim, um valor vinculado à produção, que por sua vez se pode transformar em dinheiro pagando-se 7% sobre o valor. E na moeda que se quiser: pesos uruguaios, dólares, pesos argentinos”, destacou.
O projeto já foi apresentado à Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) e à Segib (Secretaria Peral Ibero-americana), que se comprometeu a apoiar caso o plano seja adotado por pelo menos três países.
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