A utilização pelos manifestantes antivacina da estrela de Davi amarela, símbolo discriminatório dos judeus pelos nazistas, chocou a França. No último sábado (17/07), milhares de pessoas desfilaram na França contra o passaporte sanitário, anunciado pelo governo, e muitas delas carregavam cartazes com a estrela amarela e alusões ao nazismo. Uma voz resumiu a indignação coletiva, a do sobrevivente Joseph Szwarc, de 94 anos.
Joseph Szwarc foi um dos milhares de judeus detidos no Velódromo de Paris, em uma operação sem precedentes do governo francês em julho de 1942, durante a segunda Guerra Mundial. Eles foram ali reunidos antes de serem deportados para a Alemanha.
Szwarc denunciou nesse domingo (18/07) o paralelo feito entre o status imposto aos judeus e a situação das pessoas que são contra a vacinação. “A voz do homem de 94 anos, embargada, mas firme, critica a utilização da estrela amarela pelos opositores ao passaporte sanitário que se estimam discriminados pelo governo”, escreve Libération.
Alguns cartazes das manifestações antivacina que tomaram as ruas das principais cidades franceses na quarta-feira (14/07) da semana passada e no último sábado (17/07) ainda deturparam alguns slogans nazistas, como a frase escrita no portão de entrada do campo de extermínio de Auschwitz. Em vez da expressão “o trabalho liberta”, os manifestantes afirmavam que “o passaporte sanitário liberta”.
O sobrevivente francês fez a denúncia durante a cerimônia do Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Crimes Racistas e Antissemitas cometidos pelo Estado francês, ocorrida neste domingo, em Paris. Ele afirmou, mostrando uma reprodução dos cartazes usados pelos antivacinas, “vocês não podem imaginar o quanto isso me abalou. Esta comparação é cruel. Temos de denunciar esse aviltamento. Tive que usar a estrela amarela, e a sinto ainda na minha pele. Todos devem impedir essa onda ultrajante, antissemita e racista. Acredito que este é um dever primordial”, declarou Szwarc, sob os aplausos dos presentes.
A Liga Internacional Contra o Racismo e o Antissemitismo (Licra) também condenou a utilização da estrela amarela pelos manifestantes que “desprezaram assim as vítimas do holocausto e contribuíram com o negacionismo”, informa Libération.
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Joseph Szwarc, sobrevivente do holocausto, fez um pronunciamento indignado com as comparações entre vacinação e nazismo
Em Paris, além dos cartazes com a estrela amarela e alusões ao nazismo, os manifestantes também fizeram paralelos entre o passaporte sanitário, regimes ditatoriais e o apartheid, detalha o jornal progressista.
Protestos contra passaporte sanitário reuniram mais de 114 mil
Mais de 114 mil pessoas desfilaram no último final de semana contra as novas medidas sanitárias. A vacina é considerada pelo governo e por especialistas a única arma capaz de minimizar o impacto da nova onda de infecções pela Covid-19, provocada pela variante Delta. A extensão do passaporte sanitário, que será necessário para viajar e frequentar diversos locais públicos, foi anunciada na última segunda-feira (12/07) pelo presidente Emmanuel Macron, com o objetivo de acelerar a campanha de vacinação na França.
Les Echos indica que o Executivo francês decidiu subir o tom diante dos opositores ao passaporte sanitário e à vacina. O projeto de lei do governo que prevê a obrigação da vacinação para os profissionais de saúde e a extensão o passaporte sanitário a outros profissionais e setores da sociedade será apresentado nesta segunda-feira no Conselho de Ministros.
No momento em que a situação epidêmica piora rapidamente no país, o porta-voz do governo, Gabriel Attal, fala em “parcela instável e minoritária”, que protesta contra as novas medidas sanitárias. Attal ressalta que há urgência para acelerar a vacinação e frear as contaminações.
Com um aumento de 80% das infecções em uma semana e uma taxa de incidência superior a 50 por 100 mil habitantes, a França voltou ultrapassar o limite de alerta, afirmou o porta-voz ao Le Parisien. Para diminuir as resistências, o governo deve anunciar nesta segunda-feira algumas flexibilizações na imposição do passaporte sanitário, como o adiamento de sua entrada em vigor para os profissionais que trabalham em estabelecimentos como bares, restaurantes, hotéis e cinemas, obrigados a controlar o respeito às novas normas sanitárias.