Em discurso proferido nesta quinta-feira (12/05), após receber a notificação de que terá que se afastar do mandato de presidente da República devido à votação no Senado que determinou a abertura do processo de impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff conclamou a militância que a apoia a se manter mobilizada e ressaltou que “a vitória [contra o impeachment] depende de todos nós mostrarmos ao mundo que há milhões de defensores da democracia em nosso país”. O discurso também foi gravado e distribuído nas redes sociais.
Jornalistas Livres
Dilma Rousseff fez uma fala improvisada diante das milhares de pessoas que se reuniram diante do prédio para saudá-la nesta quinta
Após o discurso em tom mais formal realizado no Palácio do Planalto, Dilma fez uma fala improvisada diante das milhares de pessoas que se reuniram diante do prédio para saudá-la. Distribuindo e recebendo flores, a mandatária abraçou, cumprimentou e conversou durante vários minutos com os manifestantes, em cena emblemática na qual saiu nos braços do povo.
Todo o pronunciamento se centrou na denúncia de que não se trata de um processo legítimo, uma vez que não é centrado em crimes ou delitos, mas em um processo político comandando por grupos que perderam a votação nas eleições de 2014. Nesse sentido, prometeu resistir e lutar até o fim para que no final do prazo máximo de 180 dias de sua suspensão – quando deve ocorrer o julgamento de fato sobre os atos constantes no processo – ela possa voltar à Presidência.
“O que está em jogo não é o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade do povo e à Constituição. O que está em jogo são as conquistas obtidas nos últimos 13 anos. O ganho das pessoas mais pobres, da classe média, dos jovens chegando à universidade, médicos atendendo a população e a valorização do salário mínimo”, ressaltou.
Em sinalização aos movimentos sociais, Dilma destacou que em seu mandato nunca mandou reprimir manifestações, mesmo as que eram contra ela. E observou que um governo não legítimo, que chega ao poder sem ser pela vontade popular, “pode ter a tentação de reprimir protestos”.
Reprodução/Facebook Dilma Rousseff
Senado aprovou admissibilidade de impeachment por 55 votos a 22
Ela também aproveitou o momento para esclarecer os atos pelos quais ela está sendo acusada e pelos quais poderá perder o mandato e foi taxativa: “quando uma presidente é cassada sob a acusação de um crime que não cometeu, o nome disso não é impeachment, é golpe”.
E, em tom muito emocionado, ressaltou que a injustiça “é a maior das brutalidades contra qualquer ser humano. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente. A injustiça é um mal irreparável. Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes”.
“Jamais em uma democracia o mandato de um presidente pode ser interrompido por atos legítimos de gestão orçamentária. O Brasil não pode ser o primeiro [país] a fazer isso”, disse em referência ao julgamento do impeachment que se inicia a partir de hoje.
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No mesmo tom emocionado, disse ter vivido momentos muito difíceis. “Alguns pareciam intransponíveis, mas consegui vencê-los. Vivi a dor intransponível da tortura, a dor aflitiva da doença e agora a dor intransponível da injustiça. E me dói perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica”.
Sinalizando para o futuro, afirmou que “não esmoreço. Olho para trás e vejo tudo o que fizemos. Olho para a frente e vejo tudo o que podemos fazer. Olho para mim e vejo a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender seus direitos”.
“Aos brasileiros que se opõem ao golpe, faço um chamado para que se mantenham mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar. A luta contra o golpe é longa, mas pode ser vencida e vamos vencer”, encerrou.
Impeachment
Por 55 votos a favor e 22 contra, o Senado admitiu o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, que ficará afastada por 180 dias. Em seu lugar assume Michel Temer (PMDB). Nesse período, o Senado julga se a presidente cometeu ou não crime de responsabilidade. Caso os senadores julguem que sim, ela perde o mandato e fica inelegível por oito anos, e Temer assume definitivamente a Presidência.