As atenções sobre o futuro da relação e da cooperação entre as duas maiores potências mundiais estão voltadas, nesta quarta-feira (15/11), à cidade de São Francisco, na Califórnia, onde os presidentes dos Estados Unidos e da China, Joe Biden e Xi Jinping, se encontram durante a reunião de cúpula da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec).
O último encontro entre os dois líderes aconteceu há exatamente um ano, em Bali, na Indonésia, na cúpula do G20, mas ao longo de 2023 vários fatos estremeceram as relações entre Pequim e Washington. Joe Biden resumiu os interesses dizendo que o encontro servirá “para voltar ao curso normal” das relações entre as duas potências.
APEC em São Francisco
A Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (APEC) foi criada em 1989, mas oficializada há exatos 30 anos, justamente para estabelecer cooperação econômica e comercial entre os 21 países do grupo Ásia-Pacífico. Entre eles estão, além dos Estados Unidos e China, Austrália, Japão, México, Rússia (Vladimir Putin não vai comparecer) e países latino-americanos da costa do Pacífico como Chile e Peru. Milhares de pessoas participam do evento que teve início no dia 11 e vai até 17 de novembro.
São Francisco não recebe um evento deste porte desde a Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, de 1945, e a segurança foi reforçada em toda a cidade, já que com os líderes vieram também muitas manifestações que aumentaram a tensão. Muitos grupos pró-democracia e ativistas dos direitos humanos começaram a chegar em São Francisco, na costa oeste, na semana passada.
O local onde vai acontecer a reunião entre os líderes não foi divulgado, justamente para garantir a segurança. São Francisco foi escolhida por ter laços históricos com a Ásia e pelo papel central na tecnologia mundial, já que fica no Vale do Silício.
Tensões recentes
As duas potências estão vivendo agora uma das situações mais tensas entre os dois países nos últimos anos e, os chineses culpam Washington pela deterioração das relações.
Xi Jinping não vinha aos Estados Unidos desde 2017, quando Donald Trump o recebeu na sua casa em Mar-a-Lago com direito a bolo de chocolate.
Este é o segundo encontro com Biden e no ano passado, na Cúpula do G20, os presidentes haviam aberto a porta ao diálogo, mesmo reafirmando divergências.
“Bullying tecnológico”
Mas, depois disso, as relações entre Pequim e Washington foram abaladas por vários fatores, como a visita da então presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan – que fez com que a China interrompesse a comunicação com os militares norte-americanos.
Neste ano, Washington acusou Pequim de enviar um balão espião para o seu espaço aéreo, que foi abatido por um avião de guerra norte-americano na costa leste do país. Nos últimos meses, Biden emitiu também diversas sanções, entre elas medidas de controle de exportações, o que a China chama de “bullying tecnológico” persistente por parte de Washington.
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Último encontro entre os dois líderes aconteceu há exatamente um ano, em Bali, na Indonésia
Olho no Olho
O presidente Biden sempre repete que não há nada melhor do que o olho no olho, e estar cara a cara para resolver questões pendentes. E aposta nisso para tentar reverter meses de tensões e restaurar a cooperação militar que foi cortada há quase um ano.
Biden, nesta terça (14/11), disse que seu objetivo ao se reunir com Xi é normalizar os canais de comunicação entre as duas potências e tentar voltar a uma certa normalidade, que segundo ele, inclui “poder pegar o telefone e conversar um com o outro, caso haja uma crise, e poder garantir que nossos militares ainda mantenham contato uns com os outros”.
Ele ainda acrescentou: “Não estamos tentando nos desconectar da China. O que estamos tentando fazer é mudar o relacionamento para melhor.”
O governo norte-americano tem trabalhado para restaurar as comunicações militares, e esse é um dos assuntos principais deste encontro. A maior preocupação em retomar essa comunicação direta é evitar erros de cálculo ou falhas de comunicação que levem a conflitos, inclusive nas águas tensas ao redor de Taiwan.
Mais desafios
São vários os desafios, um dos principais é a questão de Taiwan, que deve realizar eleições no ano que vem. O país reivindica soberania e talvez Xi peça garantias dos EUA para que os norte-americanos não apoiem a independência. As duas guerras também estarão em pauta e talvez a China possa ter um papel estratégico nas conversas com a Rússia – no caso do conflito contra a Ucrânia – e com o Irã, em relação à guerra Israel-Hamas.
Outro assunto de grande interesse dos Estados Unidos é unir esforços com a China para combater o tráfico de fentanil, poderoso opióide e droga que mais mata nos EUA atualmente. Quase todos os produtos químicos necessários para produzir fentanil vêm da China, a droga é produzida em massa no México, e traficada através de cartéis para os EUA.
Analistas norte-americanos acreditam que esta questão do fentanil e a dos canais de comunicação militares são as mais prováveis de haver um avanço real, mas acreditam que a volta do diálogo entre as potências, como Biden frisou, é o mais importante neste momento.
A mídia norte-americana divulgou que após a reunião bilateral com Biden, o líder chinês vai participar de um encontro com executivos, um jantar privado em São Francisco com ingressos que custam a partir de US$ 2 mil (R$ 9,8 mil) por pessoa; caso queira sentar na mesma mesa que Xi, a cadeira sai por US$ 40 mil (R$ 196 mil), de acordo com o jornal New York Times.