Travada no ano de 1066, a batalha de Hastins colocou em combate as tropas do último rei anglo-saxônico da Inglaterra — Haroldo, o Saxão (1022? – 1066) — contra o Exército invasor do duque da Normandia — Guilherme, o Bastardo (1027-1087).
No dia 14 de outubro, na colina de Senlac, próxima da cidade inglesa de Hastings, Guilherme venceu para os normandos o que viria a ser uma das mais decisivas batalhas da história da Inglaterra. Isto porque, com a morte de seu oponente no campo de guerra, Guilherme, o Bastardo, passou a reclamar o trono inglês — o que lhe rendeu uma nova alcunha: passou a atender pelo nome de Guilherme I, o Conquistador.
Dessa forma, o novo cenário de união política entre o Ducado da Normandia, no norte da França, e a Inglaterra fez com que o reino inglês passasse a ambicionar porções de terra na própria Normandia. Com isso, estava lançada a primeira fagulha da histórica Guerra dos Cem Anos, travada entre as coroas da França e Inglaterra.
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Confrontos na ladeira da colina
Era uma manhã outonal de 14 de outubro, quando ambo os exércitos se aprontaram para a batalha. De imediato, Guilherme, que já aguardava em Hastings, foi informado de que seus inimigos se aproximavam. Como os ingleses haviam chegado de uma longa jornada no fim do dia anterior, Guilherme logo pensou que descasariam durante a noite, lançando o ataque pela manhã. Assim, o duque normando tomou iniciativa e marchou com seus homens ao amanhecer. Chegando aos pés da colina, chamou as tropas: “Não lutais somente pela vitória, mas também pela vossa sobrevivência”. Todos sabiam muito bem que, em caso de derrota, não teriam muitas oportunidades de cruzar de volta o Canal da Mancha com segurança.
Obrigados a atacar os ingleses frontalmente, partindo da costa marítima em direção ao topo da colina, os normandos deram grande vantagem tática às forças anglo-saxônicas. Nos flancos, Haroldo dispôs suas milícias (‘Fyrd’), enquanto no centro ficavam os veteranos e as tropas de elite (‘Huscarles’), apoiando a defesa do rei como uma linha de estacas de madeira bem afiadas.
Por sua vez, Guilherme colocou a infantaria atrás da linha de arqueiros, armados com arcos tradicionais e também com os chamados “arcos longos” — destacamento especializado, que viria a ser a estrela dos exércitos ingleses subsequentes. Por último, na retaguarda, vinha a cavalaria.
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Cavaleiros e arqueiros normandos são retratados na Tapeçaria de Bayeux, enorme peça produzida no século XI para louvar a vitória de Guilherme sobre os anglo-saxões
Às 9h da manhã, as tropas de Guilherme deram início à subida rumo ao topo da colina. Os arqueiros que seguiam à frente desencadearam uma chuva de flechas sobre o inimigo, com o objetivo de debilitar suas linhas. Não houve muito êxito. Melhor foi a resposta dos anglo-saxões, com dardos, flechas e machadinhas.
Depois do fracasso da infantaria, Guilherme resolveu empregar sua cavalaria pesada, comandada por ele e seu meio-irmão Odo de Bayeux. Durante duas horas, ocorreram os ataques alternados. Toda vez que os normandos conseguiam abrir uma brecha, os saxões a fechavam e lhes lançavam uma chuva de projéteis.
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Por volta das 13h, parte das tropas de Haroldo começaou a fugir da colina, cansada da luta. Eustáquio, seu comandante, com o estandarte papal os reagrupou e os conclamou a voltar ao combate. Curioso é que, nesse momento, os anglo-saxões estavam a ponto de ganhar a batalha, o que teriam conseguido se mantivessem suas linhas a postos indefinidamente.
A virada
Às 14h, Guilherme decidiu fazer uma pausa nos combates e retirar-se para que seus homens e animais tivessem descanso e alimentação.
A esta altura, o Exército normando já havia perdido 25% de seus efetivos, fazendo com que muitos de seus cavaleiros fossem obrigados a lutar a pé por conta da morte de suas montarias. Por seu lado, Haroldo, sem perder a vantagem da posição, decidiu reorganizar as linhas que haviam sofrido fortes baixas. Finalmente, às 15h teve início o combate final. Embora demorasse cerca de 30 minutos para alcançar o topo da colina, por conta das centenas de corpos espalhados no terreno, um novo assalto normando se aproximou da linha inimiga. Do pé da montanha, os arqueiros normandos disparavam o mais alto possível, para ajudar as tropas que subiam a ladeira. As baixas anglo-saxônicas dificultavam a manutenção da defesa da linha de Haroldo, que se rompia em vários setores.
Em 2006, por ocasião do aniversário de 940 anos da batalha de Hastings, britânicos reencenaram o episódio. Assista no vídeo abaixo, em inglês:
Aproveitando-se do momento de fraqueza, Guilherme empregou a tática de assaltar uma posição e, em seguida, retirar-se apressadamente para que fosse logo perseguido pelos defensores. Assim, ficavam expostos e eram massacrados pela cavalaria normanda. A essa altura, já se mostrava impossível fechar as brechas das defesas anglo-saxônicas e a linha se cindiu em pequenas unidades isoladas, podendo ser facilmente esmagadas.
Uma vez rompida a linha, os normandos entraram em massa, atacando o núcleo do Exército saxão. Perto das 16h, a força saxônica se desfez em vários agrupamentos separados. Um grupo ainda se reuniu em torno do estandarte de seu rei, prosseguindo de forma desesperada a resistência. Finalmente, Haroldo foi morto por uma flechada e com ele caíram seus principais comandantes.
Inglaterra “normandizada”
Terminada a batalha, nos dias seguintes houve pequenos combates entre os saxões sobreviventes e as tropas normandas enviadas para garantir os bosques dos arredores. A batalha havia finalizado com uma indiscutível vitória normanda.
A marcha dos normandos triunfantes sobre Londres foi pontilhada de matanças e saques ante qualquer sinal de resistência. Guilherme foi coroado rei da Inglaterra em 25 de dezembro de 1066 e passou os seguintes 9 anos de seu reinado ‘pacificando’ os saxões do centro e do norte da Inglaterra, apoiados novamente pelo dinamarqueses.
Os nobres saxões que recusaram submeter-se a Guilherme foram despojados de seus títulos, terras e possessões. Todos passaram às mãos normandas, constituindo-se numa verdadeira “normandização” à força da Inglaterra.