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Semana passada, um dos mais importantes generais da Guarda Republicana da Síria, Manaf Tlass, desertou do exército. Em uma fuga bem planejada, Tlass deixou o país em segredo, refugiando-se primeiro na Turquia e depois em Paris, onde se reencontrou com a família. Mas o que faz com que a deserção de Tlass seja bastante significativa não é a sua patente; Tlass, na verdade, era um dos melhores amigos de Bashar al-Assad.
A revista italiana Studio conversou com outro ex-confidente de Assad, que já em 2007 abandonou o país. Ayman Abdel Nour, ex-conselheiro e colega de universidade do presidente sírio, vive hoje nos Emirados Árabes, onde dirige o site All4Syria, um dos órgãos de informação da oposição.
Para Nour, a deserção do general não muda nada na estrutura do regime. “É importante lembrar como funciona o poder na Síria: há Bashar, que se crê um deus, e abaixo dele não há um número dois, apenas vassalos que se odeiam entre eles, graças a uma estratégia “divide et impera” que é uma especialidade de Assad.” Mas ele reconhece o peso da fuga de Tlass: “Todos sabem que ele era o melhor amigo de Bashar: eles até passavam as férias juntos! E quando o seu melhor amigo te abandona, significa que alguma coisa não vai bem. (…) Esta deserção manda uma mensagem aos apoiadores da ditadura: o regime não tem futuro, é tudo um blefe.”
Ele está convencido de que o poder “subiu à cabeça” de Assad: “Ele começou a viver em uma espécie de invólucro, se deixou levar pela bajulação e se convenceu de que era o homem mais inteligente do mundo, uma espécie de mensageiro de deus: eu mesmo, que naquele tempo era um dos seus mais próximos e importantes conselheiros, me lembro de vê-lo mudar profundamente. (…) Ele não sentia mais a necessidade de ter conselheiros e tecnocratas. Confiou o exército ao seu cunhado, Assef Shawkat, a segurança a seu primo Hafez Makhlouf, e começou a obstruir a economia com os projetos de seu primo Rami Makhlouf e sua esposa Asma. A Síria se tornou um negócio de família.”
Neste contexto hostil à divergência, Nour afirma não ter tido escolha: “Eu, que era uma voz crítica, naquele momento não podia mais fazer o meu trabalho. Recebi ameaças pesadas do serviço de inteligência, e decidi ir embora do país.”
O ex-conselheiro acredita porém que alguns membros do regime podem ser atores significativos na reconstrução da Síria: “Ainda hoje creio che há pessoas ótimas dentro da administração pública e que devem ser incluídas no pós-Assad: elas conhecem a nação, os seus recursos e as suas necessidades, as reformas de que o país precisa e o modo de implementá-las.”
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