Estrelas e listras da bandeira no mastro do capitólio foram feitas de material sem THC derivado da cannabis
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Quatro de julho, feriado nacional nos Estados Unidos tradicionalmente celebrado com grandes desfiles e fogos de artifício. Desta vez, um pouco diferente. Em pleno Dia da Declaração da Independência, o prédio do Capitólio vai comemorar o patriotismo da nação ostentando uma bandeira feita de maconha.
Nesta quarta-feira, 4 de julho de 2013, as estrelas e as tiras costuradas na bandeira norte-americana estendida na sede do Poder Legislativo em Washington D.C. foram feitas de fibra de cânhamo. O material é derivado da cannabis, planta ilegal que o governo do país considera tão perigosa quanto heroína, ecstasy e LSD.
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A ação inusitada faz parte do lobby pró-cânhamo no Congresso dos EUA. Plantar maconha é proibida pela legislação federal. Nos 11 estados onde o cultivo do cânhamo é permitido, a lei nacional impõe que os fazendeiros obtenham uma licença específica do governo federal.
Por meio de uma emenda, o deputado democrata Jared Polis, do Colorado, propôs uma mudança no cenário: o cultivo da planta seria permitido no país para fins industriais e científicos. A tática não deu certo, foi barrada no Congresso dez dias atrás. Mas o pedido para que a bandeira de maconha fosse estendida no Capitólio já havia sido aceito.
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Embora soe paradoxal para um país que tem se dedicado por tanto tempo em empreender uma guerra contra as drogas, a ação não é inédita. Bandeiras (e outros materiais) deste tipo já tremularam com mais pompa. Muitos historiadores dizem que a primeira bandeira norte-americana, costurada por Betsy Ross em 1776, foi feita com fibra de cânhamo.
Versão do quadro “The birth of old glory”, de Percy Moran, recria a cena em que Betsy Ross entrega a George Washington a bandeira (supostamente feita de cânhamo), ainda com apenas 13 estrelas, em 1776
No jardim dos “pais da nação”
Antes de ser banida na década de 1930, a planta tinha seu uso bem difundido pelo país. George Washington e Thomas Jefferson, considerados os “pais da nação”, cultivavam em casa o cânhamo — fibra que, em oposição à erva da maconha, contém quantidade risível de THC, princípio ativo da cannabis que estimula o uso recreativo.
O fazendeiro Michael Bowman, um dos principais responsáveis pelo lobby no Congresso, afirma que, apesar da proibição, os EUA são o maior consumidor de cânhamo do mundo. Mais de US$ 500 milhões foram gastos em 2012 — 90% desse montante foi parar nos cofres canadenses, país em que o cultivo é permitido desde 1998.
De mãos atadas, os fazendeiros norte-americanos assistem os dólares da cannabis escaparem para o país vizinho. Nem tanto por patriotismo, querem a legalização para que as bandeiras, roupas, biocombustíveis, papel e componentes automotivos feitos com cânhamo sejam contabilizados nas suas próprias caixas registradoras.
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