A alta roda paulistana enfrenta um grande dilema neste momento em que a crise econômica assola o país: vale a pena pagar 8.000 reais por mês para garantir uma educação “de primeiro mundo” a sua prole? Compensa gastar quatro garrafas por mês do vinho português Pera Manca (safra 2011, que sai pela pechincha de R$ 2.144 numa promoção na internet) para ver x pimpolhx crescer intelectualmente num ambiente mais selecionado que as uvas alentejanas, que garantem um sabor repleto de notas de ameixa preta, cassis, especiarias e suaves fumados a garrafas tão saborosas?
É uma decisão difícil
Felizmente, a imprensa da cidade cumpre seu dever de destacar as vantagens desses empreendimentos únicos. Várias vezes o assunto das superescolas para os super-ricos tomou as páginas dos jornais nos últimos tempos. E nomes supostamente sofisticados, porque cheios de ambição global, como Avenues, Internacional de São Paulo e Concept, já fazem parte do cotidiano de cadernos cada vez menos lidos por aí.
A primeira grande vantagem da “escola de rico” é que o preço não é para qualquer um. Isso já elimina aqueles riscos desagradáveis de encontrar na mesma sala filhos de trabalhadores. Não misturar a prole com o proletariado, tá aí uma coisa essencial.
A segunda grande vantagem é o projeto pedagógico. São “inovadores”, garantem “assets” e são, claro, diferenciados. Na apresentação de um deles, a página oficial do negócio não resistiu nem mesmo em combinar palavras em inglês com a construção gramatical preferida do presidente em exercício linguístico enrolado Michel Temer – a mesóclise: “No 6th grade, basear-nos-emos nos sólidos alicerces construídos pelos alunos em Língua Portuguesa”.
Reprodução/Painel Acadêmico
Compensa gastar quatro garrafas por mês do vinho Pera Manca (safra 2011) com a formação da prole?
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Os sites das escolas vão mais longe: garantem o “acolhimento” do aluno, o respeito “ao aluno e seus pais” e ainda a “segurança” para os pais e alunos. Não há menção a coisas ultrapassadas como cidadania, igualdade, liberdade. Democracia, então, parece ser palavrão: não esperem escolas democráticas, por favor. São instituições focadas nos valores individuais, nada dessa coisa coletiva, que atrapalha futuras carreiras nos negócios. A educação não é apontada nem remotamente como um meio de transformar a sociedade: o importante, a gente nota, é preparar xs meninxs para a alta competição.
A apresentação da Avenues, descrita por um jornal, trouxe telões gigantes, taças de espumante, queijo brie e fois gras. No dress code da noite se destacaram os vestidos extravagantes e os ternos de grife dignos de um clube de milionários. Uma escola concebida e implementada para que a diversidade fique do lado de fora.
Para competir com a Avenues, a Internacional apostou na decoração: em vez de uma escultura de gelo no formato de flamingo, peça que poderia ser considerada ultrapassada e, portanto, não antenada com os desafios dos futuros donos do país, convidaram para o papel de bibelô o ex-presidente Fermando Henrique Cardoso, figura admirada pelos mais de 600 convidados para o rendez-vous.
Todas prometem um Big Bang na educação, o que significa, essencialmente, depois de tirado todo o blá-blá-blá, o curso de inglês mais caro do mundo.
O currículo também permitiria que os alunos frequentassem sem grandes dificuldades universidades nos Estados Unidos. Assim, se prole da elite tiver de conviver com algum aluno cotista, pelo menos que ele seja gringo.
(*) Essa matéria foi publicada originalmente no Painel Acadêmico