A França enfrenta um contexto sanitário tenso a poucos dias do início do inverno: além de uma nova onda da covid-19, a nona desde o início da pandemia, epidemias simultâneas de bronquiolite e gripe pressionam a rede hospitalar. Em meio a essas dificuldades, os médicos da especialidade de clínica geral, que são a porta de entrada no sistema público de saúde, estão em greve por aumento de salários.
Nesta quinta-feira (01/12), a tensão na rede pública de saúde é assunto de capa dos jornais franceses. “Covid, bronquiolite, gripe: o trio do mal”, diz a manchete do jornal Libération. “A coexistência de três epidemias virulentas é preocupante, em um momento em que o sistema hospitalar se encontra em estado crítico (faltam médicos e enfermeiros) e as campanhas de vacinação não avançam”, diz a chamada de capa do diário.
A reportagem do Libé relata que as autoridades sanitárias têm multiplicado os alertas sobre essa situação excepcional. Segundo o jornal, o quadro tende a piorar com a chegada do inverno e a queda das temperaturas.
No entanto, até o momento, o governo francês não cogita voltar a impor nenhuma medida de restrição à população. O diário lembra que, na última terça-feira (29/11), a primeira-ministra Élisabeth Borne fez um apelo para que os franceses voltem a usar máscaras faciais em locais de aglomeração, a respeitar os cuidados básicos de prevenção e a se vacinar.
Mas um dos problemas enfrentados atualmente é que a segunda dose de reforço contra a covid-19 só é oferecida para quem tem mais de 60 anos de idade, pacientes imunodeprimidos, profissionais de saúde, grávidas e pessoas que tenham contato com indivíduos de saúde frágil. Já a campanha de vacinação contra a gripe sazonal está aberta desde 15 de novembro para toda a população. Porém, os franceses têm negligenciado a vacinação contra as duas infecções virais.
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Governo francês não cogita voltar a impor nenhuma medida de restrição à população
Futura pandemia
O jornal Les Echos também trata da pandemia, mas não da atual. “Os europeus renovam seus arsenais contra crises sanitárias”, destaca o diário, explicando a decisão da Comissão Europeia de se preparar para enfrentar futuras ameaças no setor da saúde. O Executivo europeu quer desbloquear €80 milhões para o desenvolvimento de novas vacinas e investir em pesquisas e novas respostas médicas.
Segundo um relatório divulgado na quarta-feira (30/11), os riscos podem ser “químico, biológico, nuclear, pandêmico, inclusive um ‘assassino silencioso’ que é a resistência aos antibióticos”. A lição foi tirada da pandemia de covid-19, com avanços importantes nas leis, aprendizados sobre a questão da vigilância, aumento da capacidade de produção de medicamentos e vacinas, além da reserva dos mesmos para uso no bloco, afirma ao Les Echos Isabelle Marchais, pesquisadora do Instituto Jacques Delors.
Na capa do jornal La Croix, a greve dos clínicos gerais, com a manchete “O preço justo”, faz referência ao aumento de salário exigido pela categoria. A mobilização desses profissionais ganha as ruas nesta quinta-feira, com a reivindicação de que o valor da consulta de clínica geral seja reajustado da média de € 25 (cerca de R$ 135), base de reembolso fixado pela Seguridade Social, para € 50 (R$ 270).
Devido aos baixos salários, pela primeira vez em dez anos, a quantidade de clínicos gerais em exercício no país recuou para menos de 100 mil médicos, ressalta o jornal La Croix. Em algumas regiões, como no Vale do Loire (centro), os moradores enfrentam verdadeiros “desertos médicos” pela falta desses profissionais, portanto indispensáveis para o bom funcionamento do sistema público de saúde no território francês.