O autor de um ataque armado em 2018 a uma sinagoga de Pittsburgh, o mais mortífero contra judeus na história dos Estados Unidos, foi condenado à morte por um júri federal na quarta-feira (02/08), o primeiro caso sob a presidência de Joe Biden.
Os 12 jurados de um tribunal federal da Pensilvânia votaram por unanimidade a favor da pena de morte contra Robert Bowers, de acordo com um comunicado de imprensa da acusação do procurador Eric Olshan, representante local do Ministério da Justiça norte-americano.
Durante a primeira fase deste julgamento excepcional de três meses – em um contexto de aumento de atos antissemitas e de receio do ressurgimento de grupos neonazistas e supremacistas brancos – este caminhoneiro de 50 anos foi julgado culpado, em meados de junho, de 11 assassinatos agravados, há quase cinco anos, na sinagoga Tree of Life, em Pittsburgh.
A sentença deve ser pronunciada formalmente nesta quinta-feira (03/08) por um juiz federal, mas como o Ministério da Justiça declarou uma suspensão nacional sobre as execuções, a pena de morte nunca poderá ser aplicada contra Bowers.
O secretário de Justiça Merrick Garland, citado no comunicado, enfatizou que “todos os norte-americanos têm o direito de viver sem medo da violência racista, e que os autores de tais atos serão responsabilizados”. A questão da pena de morte esteve no centro desse processo emblemático.
“Massacre”
Em meados de 2019, o promotor federal de Pittsburgh, então sob o governo do presidente republicano Donald Trump, havia antecipado que buscaria a pena capital contra o autor desse “massacre”, citando sua “falta de remorso” e “seu ódio e desprezo” pelos judeus.
Durante a investigação, os advogados de Bowers tentaram, sem sucesso, declará-lo “culpado”, em troca da garantia de que seu cliente não seria condenado à morte. O Departamento de Justiça recusou o recurso.
Em 27 de outubro de 2018, Robert Bowers invadiu a sinagoga da Tree of Life armado com três pistolas e um rifle de assalto semiautomático. Gritando “todos os judeus devem morrer”, ele abriu fogo e matou 11 pessoas, incluindo um homem de 97 anos, em meio às cerimônias do Shabat, em um bairro judeu histórico em Pittsburgh, cometendo o mais sangrento ataque antissemita dos Estados Unidos.
Ele já havia postado mensagens racistas, antissemitas e anti-imigrantes em uma rede social de extrema direita.
Wikicommons
Em 27 de outubro de 2018, Robert Bowers invadiu a sinagoga da Tree of Life armado com três pistolas e um rifle de assalto semiautomático
“Ato sem sentido”
O então presidente Donald Trump pediu imediatamente sua pena de morte, pedido seguido por seu Departamento de Justiça na época, e confirmado após o início da presidência do democrata Joe Biden, em janeiro de 2021.
Mas Biden, ainda candidato, havia prometido durante sua campanha em 2020 abolir a pena de morte em nível nacional. Com isso, este julgamento reacendeu os debates em torno dessa punição máxima ainda praticada em muitos estados americanos.
Durante as audiências, a advogada de Bowers, Judy Clarke, admitiu que ele era de fato o homem que atirou em judeus, um “ato sem sentido”, e procurou primeiro defender seu cliente, em vez de alegar sua inocência.
Mais de 3,6 mil atos antissemitas
Organizações judaicas americanas, como em junho de 2019, saudaram a decisão do júri, uma evidência para o Comitê Judaico Americano de que “os Estados Unidos não toleram ódio ou violência contra judeus e contra qualquer praticante de outra religião”.
O julgamento de Bowers ocorreu em um momento em que o número de crimes e ofensas racistas e antissemitas nos Estados Unidos é o mais alto em 30 anos, de acordo com estatísticas da polícia federal (FBI) citadas pelo Washington Post.
A organização de luta contra o antissemitismo Anti Defamation League afirma que a primeira potência mundial registou um número recorde na época de 2.717 atos antissemitas em 2021 (agressões, agressões verbais, danos materiais, etc.), um aumento de 34% em comparação a 2020.
Em 2022, esta associação contabilizou 3.697 atos antissemitas (+36% em um ano), uma marca não registrada desde 1979.
Os Estados Unidos têm a maior população de judeus no mundo, atrás apenas de Israel. Em 2020, de acordo com o Pew Research Center, o país somava cerca de 5,8 milhões de adultos judeus, religiosos ou não, além de 2,8 milhões de adultos que afirmam ter pelo menos um dos pais judeu.