As equipes de socorro continuam as operações de busca em Derna, após as inundações que destruíram boa parte da cidade da costa leste da Líbia. A ONU afirma que ainda é cedo para avaliar a dimensão da catástrofe que deixou milhares de mortos, mas ONGs humanitárias dizem que ainda é possível encontrar sobreviventes.
De acordo com Martin Griffiths, subsecretário para Assuntos Humanitários e coordenador de Ajuda de Emergência da ONU, ainda não é possível avaliar o tamanho da catástrofe humanitária provocada pelas inundações no leste da Líbia. “Não conhecemos o alcance do problema, o nível das necessidades, e o número de mortos ainda é desconhecido”, disse ele nesta sexta-feira (15/09).
“Eu penso que a questão para nós na Líbia é, obviamente, coordenar o nosso trabalho com o governo e depois com outras autoridades no leste do país”, completou, em uma entrevista coletiva em Genebra.
Tamer Ramadan, diretor das operações de ajuda da Cruz Vermelha na Líbia, se mostrou mais otimista e disse que “ainda há esperança de encontrar sobreviventes”. Na noite de quinta-feira, imagens transmitidas pela televisão local mostravam socorristas falando com uma das vítimas bloqueada sob os escombros de um dos prédios desmoronados em Derna.
O funcionário da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho se negou, no entanto, a anunciar um balanço de mortos. Segundo ele, qualquer número divulgado agora “não seria nem definitivo, nem preciso”.
Rompimento de represa e falta de infraestrutura
Vários balanços provisórios citam pelo menos 3.800 mortos, além de milhares de desaparecidos e deslocados em Derna. A cidade foi devastada por uma tempestade mediterrânea que chegou à costa leste do país na noite de domingo (10/09), atingiu a cidade de Benghazi e seguiu para o leste, passando por Shahat, local da antiga cidade grega de Cirene, Al Marj, Al Baida e Susa (Apolônia de Cirene, na Antiguidade). Mas Derna foi a mais afetada.
A situação foi mais grave na cidade em razão do rompimento de duas represas do rio Wadi Derna na noite de domingo, provocando uma poderosa corrente, semelhante à de um tsunami, que arrasou bairros inteiros e destruiu pontes e depois avançou para o Mediterrâneo. A cheia bloqueou muitas estradas, o que dificulta o acesso ao local da catástrofe.
Twitter/ جمعية الهلال الأحمر الليبي
Vários balanços provisórios citam pelo menos 3.800 mortos, além de milhares de desaparecidos e deslocados em Derna
Os especialistas explicaram que uma combinação entre a deterioração das infraestruturas, os edifícios construídos sem respeito às normas de planejamento urbano na última década e a falta de preparação para uma catástrofe deste tipo foram as principais razões da tragédia, que transformou a cidade em um cemitério a céu aberto.
Muitas mortes poderiam ter sido evitadas
A maioria das mortes poderia ter sido evitada, declarou na quinta-feira Petteri Taalas, diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM), explicando que “os avisos poderiam ter sido emitidos e as forças de gestão de emergência teriam sido capazes de realizar a evacuação da população”.
O alto funcionário da ONU também observou que os anos de conflito que assolaram a Líbia destruíram boa parte a rede de observação meteorológica.
A Líbia, país rico em petróleo, mergulhou no caos e na guerra após a revolta popular que derrubou o ditador Muammar Kadafi em 2011. Atualmente dois governos disputam o poder, um reconhecido pela ONU, na capital Trípoli, a oeste, e outro na zona leste, onde ocorreu o desastre.
Ajuda humanitária
Comboios de ajuda vindos da Tripolitania, no oeste do país, começaram a chegar a Derna desde a manhã de segunda-feira. O governo internacionalmente reconhecido, liderado por Abdelhamid Dbeibah, anunciou o envio de dois aviões médicos e um helicóptero, 87 médicos, uma equipe de socorristas e cães de busca.
O diretor do Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (OCHA), Martin Griffiths, anunciou na quarta-feira a liberação de US$ 10 milhões (R$ 48 milhões) de um fundo de emergência e disse que “uma equipe forte” está destacada no terreno para apoiar e financiar a resposta internacional.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) informou que começou a prestar ajuda a mais de 5 mil famílias deslocadas pelas cheias e que há milhares de pessoas “sem comida e sem abrigo”.
A ONU, os Estados Unidos e vários países do Oriente Médio e do Norte da África também prometeram enviar ajuda e já foram enviadas equipes de resgate estrangeiras na esperança de encontrar sobreviventes.