Sexta-feira, 18 de julho de 2025
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As equipes de socorro continuam as operações de busca em Derna, após as inundações que destruíram boa parte da cidade da costa leste da Líbia. A ONU afirma que ainda é cedo para avaliar a dimensão da catástrofe que deixou milhares de mortos, mas ONGs humanitárias dizem que ainda é possível encontrar sobreviventes.  

De acordo com Martin Griffiths, subsecretário para Assuntos Humanitários e coordenador de Ajuda de Emergência da ONU, ainda não é possível avaliar o tamanho da catástrofe humanitária provocada pelas inundações no leste da Líbia. “Não conhecemos o alcance do problema, o nível das necessidades, e o número de mortos ainda é desconhecido”, disse ele nesta sexta-feira (15/09).

“Eu penso que a questão para nós na Líbia é, obviamente, coordenar o nosso trabalho com o governo e depois com outras autoridades no leste do país”, completou, em uma entrevista coletiva em Genebra.

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Tamer Ramadan, diretor das operações de ajuda da Cruz Vermelha na Líbia, se mostrou mais otimista e disse que “ainda há esperança de encontrar sobreviventes”. Na noite de quinta-feira, imagens transmitidas pela televisão local mostravam socorristas falando com uma das vítimas bloqueada sob os escombros de um dos prédios desmoronados em Derna.

O funcionário da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho se negou, no entanto, a anunciar um balanço de mortos. Segundo ele, qualquer número divulgado agora “não seria nem definitivo, nem preciso”.

Rompimento de represa e falta de infraestrutura

Vários balanços provisórios citam pelo menos 3.800 mortos, além de milhares de desaparecidos e deslocados em Derna. A cidade foi devastada por uma tempestade mediterrânea que chegou à costa leste do país na noite de domingo (10/09), atingiu a cidade de Benghazi e seguiu para o leste, passando por Shahat, local da antiga cidade grega de Cirene, Al Marj, Al Baida e Susa (Apolônia de Cirene, na Antiguidade). Mas Derna foi a mais afetada.

A situação foi mais grave na cidade em razão do rompimento de duas represas do rio Wadi Derna na noite de domingo, provocando uma poderosa corrente, semelhante à de um tsunami, que arrasou bairros inteiros e destruiu pontes e depois avançou para o Mediterrâneo. A cheia bloqueou muitas estradas, o que dificulta o acesso ao local da catástrofe.

ONU afirma que ainda é cedo para avaliar  dimensão da catástrofe, mas ONGs humanitárias dizem que ainda é possível encontrar sobreviventes

Twitter/ جمعية الهلال الأحمر الليبي

Vários balanços provisórios citam pelo menos 3.800 mortos, além de milhares de desaparecidos e deslocados em Derna

Os especialistas explicaram que uma combinação entre a deterioração das infraestruturas, os edifícios construídos sem respeito às normas de planejamento urbano na última década e a falta de preparação para uma catástrofe deste tipo foram as principais razões da tragédia, que transformou a cidade em um cemitério a céu aberto.

Muitas mortes poderiam ter sido evitadas

A maioria das mortes poderia ter sido evitada, declarou na quinta-feira Petteri Taalas, diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM), explicando que “os avisos poderiam ter sido emitidos e as forças de gestão de emergência teriam sido capazes de realizar a evacuação da população”.

O alto funcionário da ONU também observou que os anos de conflito que assolaram a Líbia destruíram boa parte a rede de observação meteorológica.

A Líbia, país rico em petróleo, mergulhou no caos e na guerra após a revolta popular que derrubou o ditador Muammar Kadafi em 2011. Atualmente dois governos disputam o poder, um reconhecido pela ONU, na capital Trípoli, a oeste, e outro na zona leste, onde ocorreu o desastre.

Ajuda humanitária

Comboios de ajuda vindos da Tripolitania, no oeste do país, começaram a chegar a Derna desde a manhã de segunda-feira. O governo internacionalmente reconhecido, liderado por Abdelhamid Dbeibah, anunciou o envio de dois aviões médicos e um helicóptero, 87 médicos, uma equipe de socorristas e cães de busca.

O diretor do Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (OCHA), Martin Griffiths, anunciou na quarta-feira a liberação de US$ 10 milhões (R$ 48 milhões) de um fundo de emergência e disse que “uma equipe forte” está destacada no terreno para apoiar e financiar a resposta internacional.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) informou que começou a prestar ajuda a mais de 5 mil famílias deslocadas pelas cheias e que há milhares de pessoas “sem comida e sem abrigo”.

A ONU, os Estados Unidos e vários países do Oriente Médio e do Norte da África também prometeram enviar ajuda e já foram enviadas equipes de resgate estrangeiras na esperança de encontrar sobreviventes.