No programa SUB40 desta quinta-feira (30/09), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que ficou conhecida e foi julgada por gritar “Fora Bolsonaro” após conseguir o terceiro lugar em um torneio em setembro do ano passado.
“Foi um grito de indignação totalmente espontâneo. Era o primeiro torneio desde a pandemia. Eu estava super feliz, mas tinha muita coisa acontecendo dentro de mim, a situação do país era e é desesperadora. Então eu estava feliz, mas não estava, não aguentava mais tudo o que estava acontecendo, ninguém aguenta mais”, relembrou.
A atitude teve repercussões negativas. Foi dito que não cabia aos atletas falarem sobre suas preferências políticas. Entretanto, quando jogadores da seleção masculina de vôlei apoiaram publicamente Jair Bolsonaro, nada aconteceu.
Solberg denunciou a hipocrisia dos órgãos esportivos, inclusive da própria Comissão de Atletas, e disse acreditar que a reação estava, não só relacionada com o fato de que ela foi contra Bolsonaro, mas também com o fato de ser mulher.
Ela lamentou que o ambiente esportivo seja tão autoritário e conservador, “o atleta sempre tem medo de dizer qualquer coisa porque pode perder patrocínio, ir a julgamento, ter que pagar multas ou ficar fora de torneios”.
Para ela, não é obrigatório que atletas se pronunciem sobre política, por exemplo, mas ela defendeu que possam fazê-lo sem medo: “Acho que a cada manifestação, vai quebrando o tabu. É uma loucura o atleta estar jogando e não poder dizer nada. Falam que somos exemplos, mas como vamos ser exemplos se não podemos falar o que pensamos. É fundamental enfrentar isso, criar um espaço para poder falar”.
Esporte no Brasil
Atleta desde muito cedo, filha de atleta — sua mãe é Isabel Salgado, ex-jogadora de vôlei de quadra da seleção brasileira —, Solberg também refletiu sobre as dificuldades de se tornar um profissional de alto rendimento no Brasil.
Ela mesma não conseguiu ir à universidade porque era impossível conciliar o ritmo dos treinos, às vezes de seis horas diárias, com o estudos. Inclusive a jogadora relaciona essa incompatibilidade entre esporte e estudo com o fato de haver tantos atletas conservadores, já que “é o ambiente da universidade que faz você se questionar”.
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Solberg foi julgada por gritar ‘Fora Bolsonaro’ após conquistar o terceiro lugar em um torneio ano passado
“Só que no Brasil ou você estuda, ou vira um atleta de alto rendimento. O que a gente mais tem no Brasil é potencial nas comunidades, nas ruas, nas escolas, só que não existem poliesportivos, falta capacitar professores de educação física e investir em material para as crianças praticarem esporte desde cedo, porque formar atletas é uma coisa muito a longo prazo”, argumentou.
Para ela, os Estados Unidos são uma referência nesse sentido. Não só proporcionando estrutura desde cedo, mas com as bolsas para atletas nas faculdades, até obrigando os atletas a terem boas notas para poder praticar esportes.
Por outro lado, ela celebrou o Bolsa Atleta, por exemplo, que, por mais que não incida na base do problema, permitiu a muitos profissionais de alto rendimento viver do esporte.
“O problema é que agora não temos mais nem o Ministério dos Esportes. Com Bolsonaro a coisa está indo ladeira abaixo. Sentimos isso principalmente na cultura e no esporte, na cultura talvez até mais”, destacou.
O futuro do esporte
Apesar do cenário atual, Solberg se mostrou esperançosa com relação às eleições de 2022, “mas tenho medo também, porque vejo que existem esses 25% que, não importa o que Bolsonaro faça, não deixam de apoiá-lo, não sei que pessoas são essas para seguir votando nele”.
Ela confessou que achava impossível “um cara que apoia tortura, racista e homofóbico” chegar à Presidência, por isso considera importante ir à rua e declarou seu voto em Lula, quem definiu como “a única via possível”.
“Quando o Lula fala, ele me toca, ele tem um lado humano de verdade. Acho que o PT se perdeu muito daquilo que pregava, mas eu acredito nele quando ele fala e vou votar nele”, ressaltou.
Caso um novo governo de esquerda se eleja, a jogadora ponderou sobre as políticas de esporte necessárias. Para ela, o mais importante seria investir nas base, ou seja, na estrutura das escolas públicas.
“Precisamos de quadras poliesportivas, pistas de atletismo, professores de qualidade e formas de garantir frequência às aulas, pelo menos três vezes por semana. Acredito que a escola é um local onde você pode se iniciar no esporte, desenvolver o seu corpo. É brincando que a gente descobre grandes talentos”, enfatizou.