No programa SUB40 desta quinta-feira (10/09), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Simone Nascimento, jornalista e integrante da coordenação paulista do Movimento Negro Unificado sobre a luta antirracista no Brasil.
Para a dirigente, apesar de existirem movimentos e militantes negros de direita, a luta só pode ser feita sob a perspectiva da esquerda: “Não acho que se possa combater o racismo pela direita porque o capitalismo nasceu da escravização dos corpos negros”.
Por isso, ela ressaltou a importância das pautas antirracistas no campo progressista e a disputa desse espaço, “porque o movimento negro e os movimentos negros partidários fazem a esquerda avançar”.
“Para alcançar processos de avanço, não podemos arredar o pé da luta. Não é sobre reconstruir a democracia, mas pensar num processo de aprofundamento para combater o racismo estrutural, precisamos pensar em políticas para pessoas negras. Com a democracia em risco, o governo está disposto a rifar a vida da população trabalhadora majoritariamente negra”, argumentou.
Avaliação dos governos petistas
Nascimento avaliou os governos de Lula e Dilma com relação à luta do movimento negro e as políticas públicas criadas naquele momento. Apesar de reconhecer os mandatos petistas como importantes, com vitórias importantes, como a política de cotas, “o PT errou no processo de conciliação de classes, que era o mais importante”.
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Simone Nascimento foi a entrevistada desta quinta-feira (09/09) do SUB40
“Os governos do PT foram muito melhores do que o que temos hoje, mas a gente não pode deixar de dizer que precisamos avançar mais. Não podemos ter o jovem na universidade e, ao mesmo tempo, um jovem negro morto a cada 23 minutos”, defendeu.
Segundo a dirigente, falta pautar o racismo estrutural e discutir transformações radicais, pois, mesmo poucas, as políticas públicas criadas nos governos petistas já foram revolucionárias. Diante de um estado de desmonte, é necessário ousar ainda mais.
Nascimento destacou que é possível pensar na reconstrução do Brasil a partir de uma perspectiva antirracista. Para ela, a esquerda precisa entender que pensar em projetos políticos para o povo negro é sinônimo de pensar projetos para o Brasil.
A jornalista defendeu a volta dos direitos trabalhistas, do emprego, dos direitos à moradia, saúde pública, o fim do teto de gastos, reforma agrária e investimento em educação pública de base.
“Pensar política antirracista é pensar todas as políticas básicas para classe trabalhadora sob uma perspectiva antirracista. É pensar que o menor salário do mercado é aquele de uma mulher negra, o menor acesso à universidade é o da mulher negra, que a maioria da população carcerária é negra… Então pensar nessas políticas públicas e entender a luta antirracista é fundamental”, reforçou.
Assim, um novo governo de esquerda deveria ter como prioridade, na opinião de Nascimento, não só a reconstrução de direitos fundamentais perdidos após o golpe de 2016, mas a realização de reformas estruturais. Essas são as reivindicações do MNU, que, além de ser um movimento a nível nacional, forma parte da Coalizão Negra por Direitos, que reúne uma diversidade de grupos antirracistas para promover uma unidade de ação.
“O pleno direito só vamos conseguir lutando pelo investimento público, porque, se não for assim, vamos pensar na lógica do lucro, que mantém os privilégios e não muda a ordem”, ponderou.